domingo, 22 de janeiro de 2012

F.C. Porto-V. Guimarães, 3-1 (crónica)

Triunfar com um sorriso nos lábios e nódoas negras na alma


Entre o deleite e a dor, a volúpia e a mágoa. Este F.C. Porto só acredita numa forma de tocar o prazer: através do sofrimento. Atingir a máxima expressão de júbilo e, no virar da página, o clamor da dúvida. Assim se conta o triunfo importantíssimo perante o Vitória de Guimarães. O dragão está viciado no risco, na exposição extrema, até em episódios onde o contrário aparenta pouca saúde. 

A primeira meia-hora é um tratado de bola, uma liturgia convincente, prometedora e contagiante. Com direito a golo de Rolando, acelerações de Alvaro Pereira na esquerda, variações de flanco seguras e um ritmo interessantíssimo. E os últimos 15 minutos da primeira parte? Precisamente o oposto. 

Os dragões assustaram-se com o escandaloso falhanço de Paulo Sérgio, levaram as mãos à cabeça e tremeram da cabeça aos pés. Ao sossegarem, ergueram os olhos e viram Otamendi a salvar o empate em cima da linha. Duas pancadas fortíssimas antes do intervalo. 

Não nos percamos. Do óptimo ao péssimo, do péssimo à perfeição. Precisamente. A etapa complementar é tudo aquilo que um dia Vitor Pereira terá sonhado para esta equipa. É a técnica da hipnose aplicada por toda uma equipa de futebol. Ou, se preferirem, um exemplo mais da adição dos azuis e brancos ao prazer. E ao risco que lhe surge associado. 

O Porto é um faquir. Na flauta manipula as notas da partida, petrifica a serpente, despoja-a do veneno. O adversário dança ao ritmo que o campeão nacional impõe. João Moutinho brilhante, Fernando um operário habilitado a levantar a plateia do La Scala e James tremendo em zonas interiores. O golo de Moutinho, logo aos 46 minutos, é, de resto, retumbante.

Passe forte do centrocampista, recepção e passe em habilidade de Kléber (até que enfim!), bola a sobrevoar o defesa atordoado e a alcançar a conclusão magistral do mesmo Moutinho. Já se tinham esquecido dele no princípio da frase?

O faquir diverte-se. Aliás, todo o Dragão se diverte. Até que a serpente se rebela. Insubordina-se, morde e assopra. Uma vez mais, o susto, a angústia. Livre de Toscano, defesa (defeituosa?) de Helton para o lado, Faouzi de cabeça a marcar na recarga. Meia-hora por jogar, 2-1 no marcador e a maldita dúvida a assolar o F.C. Porto.

Não por muito tempo, é verdade. Tão depressa a equipa vai ao fundo do poço das lamentações, como emerge e suplica por atenção. Já devidamente composta e com Danilo a retocar o meio-campo. A estreia do brasileiro deixa, tal como o colectivo, uma impressão forte: é craque. 

O alívio decisivo chegou da marca de grande penalidade. James Rodríguez sofreu (ou não sofreu?) falta e anotou o castigo máximo. Naquele jeito de quem aprendeu a ser feliz driblando obstáculos e defesas obtusos. 

Mas não é essa a verdadeira génese da equipa? Sorrir perante o risco? O faquir acha que sim.

in "maisfutebol.iol.pt"

1 comentário:

dragao vila pouca disse...

Um Dragão muito bem composto, mais de 34 mil espectadores, apadrinhou a estreia de Danilo - bons pormenores...- e viu um Porto de boa cepa, vencer um Vitória que deu boa réplica, mais foi impotente para contrariar a mais valia do conjunto azul e branco, que venceu com justiça e pelos números, mais golo menos golo, correctos.
Havia a curiosidade, extrapolada por uma comunicação social sempre à procura de brechas para poder perturbar, de saber como se apresentaria o Campeão sem Hulk, talvez a sua unidade mais influente. Pois, sem escamotear a importância do nº12 na equipa de Vítor Pereira, que é notória, hoje ficou provado que há mais vida para além do Incrível Hulk.

Entrando bem no jogo a equipa portista fez uma primeira-parte muito razoável, uma das melhores dos últimos tempos. Com a atitude correcta, o ritmo indicado, boa organização e circulação, foi um Porto competente, sério, pressionante, seguro atrás - com a excepção de Otamendi -, dominador no meio-campo, perigoso no ataque, apesar de neste sector, apenas Varela ter estado a alto nível - Kléber, generoso, mas inconsequente e ai, ai, ai James. Assim, não admirou que a vantagem chegasse, por Rolando, qual ponta-de-lança, na desmarcação, domínio no peito, remate colocado e fora do alcance do guarda-redes. Vantagem mais que justa, embora a equipa vimaranense pudesse ter empatado por Paulo Sérgio, o que a acontecer não daria uma imagem correcta do que tinham sido os 45 minutos iniciais.

Se na primeira metade, houve qualidade, na segunda ainda foi melhor.
Entrando com tudo, pressionando alto, encostando o Vitória lá atrás e não o deixando sair, o F.C.Porto fez o 2 a 0 e a coisa prometia. Estava o Porto a brilhar, até a empolgar e o público a gostar, quando Hugo Miguel, o árbitro, teve uma paragem cerebral, ligou o complicador e começou a meter água na chama do Dragão.
Primeiro, Kléber, carregado em falta, ficou sem a bota e levou um injusto amarelo. Depois, um corte limpo de Fernando, foi transformado em livre, reacção espontânea do Polvo a protestar e mais um cartão que impede o trinco portista de jogar frente ao Gil Vicente. Livre marcado, equipa momentaneamente desconcentrada e na recarga a uma defesa de Helton, o Guimarães reduziu, claramente, contra a corrente do jogo. Diferença mínima, novo ânimo no conjunto que veio da cidade berço, mas sem nunca colocar em risco a vantagem do F.C.Porto. Passados poucos minutos, talvez porque algo lhe pesava na consciência, o juíz de Lisboa entrou em compensações e marcou um penalty, que e a crer no que ouvi na rádio, não existiu - ainda não vi as imagens e no campo o lance deixou-me dúvidas. Vantagem de dois golos reposta e daí até final apenas tempo para entrarem Belluschi e Souza, já que nada mais de relevante aconteceu.
Mais uma vitória, 55º jogo sem perder para o campeonato, um Dragão "vivinho da silva" e pronto para lutar até ao fim, pelo principal objectivo da época, a conquista do bicampeonato.
Para além do que referi acerca da qualidade da exibição do F.C.Porto, hoje vi uma equipa unida, solidária e mais Porto. Este caminho não pode ter retorno!

Começando de trás para a frente, grande Maicon, grande Rolando, super-Alvaro, bem Defour, excelente Moutinho, fantásticos Fernando e Silvestre Varela. Helton cumpriu, Otamendi melhorou na segunda-parte, James esteve abaixo do que pode, Kléber ainda bem que fez a assistência para o golo de Moutinho, senão... Danilo, quero ver mais, anda ainda um bocado à procura do seu espaço, mas teve, como já disse, bons pormenores. Belluschi e Souza, o tempo foi pouco, mas o brasileiro esteve mais assertivo.

Abraço