quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Começou a corrida da sucessão

Não faz sentido discutir-se as diferenças de orçamentos, juntar à conversa que, desta feita, Balotelli nem sequer saiu do banco e que o 2-0 foi "construído" por dois suplentes do jogo do Dragão, porque o que sucedeu ao FC Porto nesta eliminatória da Liga Europa não se explica com orçamentos. A queda foi espetacular para um detentor do troféu, porque, no fundo, perdeu por 6-1.
O 4-0 de ontem, verdade seja dita, não é um resultado gordo, é obeso. Está cheio de matéria gorda, um exagero que se explica pela inferioridade numérica que se seguiu ao 2-0 e antes ainda pela magreza de opções ofensivas do FC Porto, que faziam sentir-se nas competições nacionais antes da chegada de Janko e que sempre tomaram proporções bíblicas nos palcos europeus. A questão é que o FC Porto é simpático a oferecer e ranhoso a aproveitar as oportunidades que cria. Ontem, teve quatro livres frontais sem que nem um obrigasse Hart a defender, Hulk fez uma mão cheia de cruzamentos sem que houvesse um avançado - vá lá, um médio ou Varela - capaz de um simples desvio, teve 69% de posse de bola e não marcou um golo. Nem um para amostra, nem um que desse mais justiça ao que aconteceu ontem e outra expressão numérica a uma eliminatória que o Manchester City ganhou com recurso aos seus melhores elementos, mas também contando com a preciosa ajuda portista nos dois jogos, em especial nos golos de Aguero no Dragão e no Etihad Stadium. Não lembra ao diabo sofrer um golo aos 19 segundos...
Por ironia, o FC Porto evitou a pressão inicial do Manchester City - talvez interessado em não deixar que o FC Porto achasse possível reverter a eliminatória -, mas o preço pago pela oferta de Otamendi no golo do compatriota foi elevadíssimo. A primeira parte dos portistas é sofrível, apesar da posse de bola. O Manchester City, nos primeiros 45 minutos, fez um golo, mandou uma bola à barra e teve ainda mais uma ou duas boas oportunidades de golo. Só, mas suficiente. O FC Porto, por seu turno, andou muitas vezes perto da área do City - o que sucedeu durante todo o jogo -, mas só pôde lamentar o remate de Varela, que Hart defendeu com o corpo e o remate para as nuvens de Otamendi ao cair do pano da primeira parte. Foi uma noite miserável para o central argentino, que somou erros e acabou posto fora do jogo por um pontapé de um companheiro de equipa.
Um passo atrás neste texto e um número que merece ser valorizado: 69 por cento de posse de bola, um número expressivo que os dragões conseguiram apesar de quase 20 minutos em inferioridade numérica. Para que serviu ter a bola? Para nada, porque se é bom tirá-la dos pés dos craques como os que abundam na equipa de Roberto Mancini, convém fazer uso desse domínio. Como é óbvio, não fez. Não são precisas muitas palavras, apenas números que tornam, imagine-se a ironia, inexplicável o 4-0, mas que ajudam a perceber em boa parte o que é este FC Porto 2011/12 e o que sucedeu na eliminatória. Ora foi assim: 23 remates portistas, mas apenas três tomaram o caminho do guarda-redes, oito cantos, mas nenhum deles capaz de provocar perigo... O City fez mais com menos: cinco remates à baliza, quatro golos.
Os números da eliminatória não são fáceis de explicar, mas as exibições sim. Os portistas tinham de ser perfeitos neste dois jogos, mas desperdiçaram uma vantagem inicial no Dragão e ofereceram ontem o 1-0 a uma equipa repleta de qualidade, com um meio-campo pressionante como poucos - Yaya Touré é um jogador extraordinário - e que aproveitou tudo aquilo que lhe foi oferecido, incluindo a vantagem numérica que levou à goleada de ontem.
Acabou o FC Porto europeu, falta saber o que valerá daqui para a frente, até porque o futuro está próximo: no início do próximo mês joga muitas das aspirações ao título defrontando o Benfica no Estádio da Luz, onde regressará dias depois para tentar a inédita passagem à final da Taça da Liga.

Arbitragem
Exigente no jogo das palavras

Foi mais lesto a punir excessos de vocabulário do que faltas e revelou-se demasiado compreensivo a punir entradas bem para além da virilidade, em especial de Richards e De Jong. No fundo, pareceu deixar-se influenciar pelo ambiente, como ficou patente no exagero do primeiro amarelo de Rolando e na mesma punição exibida a Otamendi por reclamar.

in "ojogo.pt"

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