Cansado de vitórias tardias e escaldado pelas consequências da entrada dormente em Barcelos, na última saída para o campeonato, o FC Porto chegou a Setúbal e meteu os três pontos ao saco num suspiro. O lanterna vermelha ainda espreitava por alguma luz que cintilasse com a mudança de treinador e já Janko assinava o golo mais madrugador dos dragões na Liga, acendendo a chama do título e apagando a ténue miragem que os sadinos pudessem ter quanto à possibilidade de saltarem da cauda da tabela.
O campeão abafou o adversário com um sufocante assalto à baliza de Ricardo, de regresso a um onze que, de resto, José Mota não retocou assim tanto. Vítor Pereira surpreendeu com a chamada de Sapunaru, romeno que desenterrou mais de três meses sem futebol com uma exibição categórica e em ponto de rebuçado para reagir à táctica da chiclete.
Quem mastiga mais do mesmo, porém, é o gigante Janko, que voltou a picar a ponto, repisando as evidências: dá tanto jeito ter um ponta-de-lança! O austríaco deu uma lição de eficácia, mas Fernando reclamou-lhe o foco quando iniciou e concluiu o lance do 0-2, estreando-se a marcar na Liga pelos dragões ao cabo de 85 jogos. Cansado de dar lições a meio-campo, tirou o mestrado dos golos simples: roubou, entregou e foi receber já na área, batendo Ricardo com a serenidade de quem parece estar habituado a fazer isto todas as semanas.
Dava para tudo, porque os médios do V. Setúbal viam as bolas passar-lhes por cima da cabeça, assim ilustrando a pobreza de argumentos do último classificado. Com simplicidade, o FC Porto assegurava os serviços mínimos, arrumava os pontos na bagagem e embarcava para Manchester na expectativa de sobrevoar um desaire do Benfica em Guimarães.
Curvado ao peso de dois golos e de seis derrotas consecutivas, o V. Setúbal não mostrava suplementos vitamínicos que forçassem Vítor Pereira a adiar o recolher. A história do jogo validava as opções do treinador portista, até porque os sadinos demoraram 75 minutos a enquadrar um remate com a baliza de Helton. O engraçado da questão é que Meyong é um finalizador calejado e que já não vai lá pelo método da tentativa-erro: primeiro tiro, primeiro melro e o FC Porto em vias de ver mais pontos a voar com a brincadeira do toca e foge...
Com Lucho, Hulk e João Moutinho a recuperar fôlego para o duelo com o City, os dragões poderiam ter tremido com o empolgamento do adversário, que continuava a bombear bolas para Meyong e Rafael Lopes num espernear de orgulho de quem, verdade seja dita, parece já ter os pés virados para a cova. O V. Setúbal tem gritantes dificuldades para construir jogo e isso está espelhado na via para o golo (livre directo) e no desespero sentido para construir outras oportunidades, cujas distorcidas silhuetas resultaram de remates de meia distância ou de lançamentos laterais que Ney transformava num chuveirinho de vão de escada.
Saindo de cena, o FC Porto entregou-se à sorte, mas reagiu com autoridade quando se viu forçado a regressar ao jogo e a reclamar o que tinha construído. Alex Sandro, Cristian Rodríguez e Varela desenharam o terceiro golo na perfeição, validando a segunda via e poupando Vítor Pereira aos lamentos de um recolher antecipado. Foi um golpe de misericórdia no orgulho setubalense e um balão de oxigénio na meta-volante para o título, salvando o campeão de uma queda aparatosa já em plena descida.
in "ojogo.pt"
2 comentários:
Sem Maicon, uma surpresa, talvez a pensar no jogo de quarta-feira, onde o brasileiro, com mais ritmo que Sapunaru - que atendendo ao tempo de paragens esteve bem e podia ter marcado... - será necessário e na estreia de Alex Sandro - quero ver mais e o jogo de quarta-feira vai ser um bom indicativo sobre o lateral brasileiro - em jogos da Liga Zon Sagres, no lugar do castigado Alvaro Pereira, o F.C.Porto entrou bem e logo aos 3 minutos adiantou-se no marcador. Jogada simples de Moutinho pela direita, cruzamento e no sítio certo, Janko - 3 jogos, 3 golos, é isso que se pede a um ponta-de-lança - carimbou.
Se é verdade que ainda não havia uma tendência, parecia claro que a pressão a meio-campo e depois saídas rápidas para o ataque, parecia ser a forma pretendida para o Campeão resolver as dificuldades que esperava encontrar. A dar razão a esta teoria, o segundo golo: Fernando recuperou, deu, recebeu e marcou, coisa rara, mas merecida, de um jogador que tem sido dos melhores da equipa portista. Nos entretantos, entre o primeiro e o segundo golo, uma ou outra desconcentração defensiva - contra equipas mais fortes pagam-se caro...-, como cabeceamento de Mayong, por exemplo, e mais um penalty cristalino a favor do F.C.Porto que Paulo Baptista não assinalou. A ganhar por dois golos o F.C.Porto geriu e até ao intervalo só deu Porto. Mesmo sem forçar e num ritmo baixo, o Campeão dominou e controlou totalmente o jogo, com uma posse esmagadora, podia ter marcado mais um ou outro golo e nunca esteve em risco de sofrer. Tudo somado, talvez o 0-3 expressasse mais fielmente o que foram os primeiros 45 minutos.
Na etapa completar nada de novo... Porto a dominar a seu belo prazer, gerindo e poupando, até que aos 60 minutos, Vítor Pereira a pensar no Manchester City, começou a rodar. Aos 60 minutos saiu Lucho, mais tarde, aos 68, saíram Hulk e Moutinho, para as entradas de Defour, James e C.Rodríguez. Mesmo com as alterações tudo continuou igual e só se alterou quando e sem fazer muito por isso, a equipa de José Mota diminuiu... mas como Varela - voltou a jogar bem -, passados apenas 4 minutos colocou novamente a vantagem portista em dois golos, o jogo ficou definitivamente decidido. Embora o marcador pudesse ter sido alterado, valendo uma excelente defesa de Helton e a barra da baliza sadina, para que o resultado final não tivesse mais um golo para cada lado.
Em resumo:
Quando uma equipa tem 5 pontos de atraso, sabe que só lhe resta ganhar e ganhar. Foi o que o F.C.Porto fez esta noite. Conseguiu-o com naturalidade e tranquilidade e uma exibição que sem ser brilhante, foi suficiente para um triunfo claro e justíssimo.
Notas finais:
Uma palavra de apreço para os muitos portistas que se deslocaram ao Bonfim. Mesmo com a época a não correr como esperavamos e desejavamos, o apoio tem sido constante e isso merece ser destacado.
O duo Valdemar Duarte, João Manhã, igual a ele próprio, mais uma vez não se aguentou - eu desisti aos 6 minutos quando um penalty, claro, de Ricardo Silva, corte com o braço na área, não mereceu nenhum comentário.
Abraço
Triunfo justo, claro e sereno num jogo onde a qualidade técnica esteve quase sempre ausente. Como gosto de bom futebol não gostei do jogo e não compreendo que nesta altura da época, a equipa com o maior orçamento do campeonato se permita oferecer este tipo de espectáculo.
Para quando dois ou três jogos seguidos com índices técnicos à altura de um verdadeiro campeão?
Começo a desesperar!
Um abraço
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