A história que o campeonato vinha reescrevendo nos últimos dias confundiu, para o FC Porto, facilidades com facilitismo. O triunfo sobre o Feirense não caiu no regaço, contrariando até a profecia de Jesus, que anunciou um empate técnico no topo da tabela que, mais do que antecipado, teve de ser justificado. Dois golos confirmaram o virar de página na Liga, mas o argumento da vitória não é novo, elegendo James como personagem principal de um enredo que reservou o melhor para o fim. De indolente a excelente, o campeão expôs-se a jogar contra o relógio, contra a inspiração de Paulo Lopes e contra alguma aselhice própria.
Carregando uma série de seis jogos sem ganhar (apenas com dois empates) e a iminente queda para os lugares de descida, o Feirense procurou contrariar a fatalidade da derrota, vendida na véspera como sinopse do filme do próximo clássico. Quim Machado apostou num 4x2x3x1 que lhe permitiu, num primeiro ímpeto, contrariar a saída de bola dos dragões, subindo metros para roubar espaço a Fernando e a João Moutinho. Uma estratégia de risco, mas que o FC Porto não soube expor, insistindo num futebol lento, previsível e com nula mobilidade posicional. Sem sair da zona de conforto, o dragão alimentou uma incómoda igualdade e impacientou-se, contagiando as bancadas. Apesar da presença de Janko, a equipa tendia a afunilar jogo, acentuando uma densidade populacional que favoreceu, claramente, a estratégia do Feirense.
A lesão de Varela foi o mote para a mudança, mas com mais do mesmo. James, pois claro, cuja dinâmica conseguiu desestabilizar a trincheira visitante, arrastando adversários e abrindo espaços que, com velocidade, o FC Porto poderia castigar. Da maré vaza à onda de entusiasmo, o caudal azul e branco inundou a área de Paulo Lopes com oportunidades cantadas que o guarda-redes foi adiando. Por esta altura, já Lucho e Moutinho tinham avançado largos metros, passando a pautar o futebol dos dragões bem perto da área do Feirense e com grande objetividade. O suspiro de alívio parecia ter chegado quando James descobriu uma diagonal para isolar Janko, derrubado por Luciano: penálti e expulsão, mas sem o golo que confirmaria o FC Porto de volta ao topo da tabela.
Paulo Lopes agigantava-se, insinuando que a história de nunca ter sofrido golos no Dragão não era mera curiosidade. Enquanto a fama do guarda-redes crescia, o tempo minguava para o campeão, que lá conseguiu dar a sapatada no resultado em mais uma cabeçada de Maicon, que já tinha marcado no último jogo em casa para o campeonato. Visão de James, pois claro, que minutos depois iniciou e concluiu um lance que tem entrada direta para a nova edição do manual de contra-ataques. O colombiano reforçou o estatuto de melhor marcador da equipa, recuperando um argumento muitas vezes repetido e que adensa as dúvidas sobre a recente predileção por Varela.
Com James, o caudal portista na segunda metade foi tão expressivo que até permitiria uma vitória mais avultada, mas Vítor Pereira dificilmente poderia pedir mais do que a liderança que lhe caiu no colo e que o livrou de vender uma miragem até final da época se não ganhasse na Luz. É certo que, no meio disto tudo, os distúrbios exibicionais são uma questão menor, mas é importante que o FC Porto seja capaz de assumir qual a sua verdadeira face para se ver ao espelho no clássico e perceber se tem feições para este título.
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FC Porto 2-0 Feirense - Highlights por simaotvgolo12
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