Madjer fala do FC Porto com nostalgia, mas com uma noção mais madura daquilo que a sua passagem pelo clube lhe proporcionou. Sem nunca ter deixado de pertencer "à família portista", o herói de Viena segue os resultados, destacou Hulk e Moutinho, mas aponta um fator fundamental no futebol: "Sorte".
O FC Porto é hoje um clube de dimensão superior ao seu?
É, sempre foi e vai continuar a ser um grande clube. A equipa não tem ganho tanto como na época passada, mas tenho a certeza de que vai ressurgir, porque evolui sempre de acordo com a mesma política e ter um presidente como Pinto da Costa é meio caminho andado.
Que jogador o impressiona mais nesta equipa?
Hulk é excelente, um desequilibrador e um fora de série. Depois há o João Moutinho, que não pára durante 90 minutos. São craques. Mas não vale a pena destacar mais individualidades, porque a força daquela equipa é o coletivo.
O FC Porto projetou Madjer e muitos jogadores. Depois da de 87, que equipa o marcou mais?
A passagem de José Mourinho pelo clube foi muito importante. É verdade que não faltava talento, mas não duvide de que o talento e a qualidade que um jogador tem nunca seriam nada sem a sorte. Podemos ser bons, mas se não tivermos sorte, como eu tive, quando deixei o Racing de Paris, nunca seremos ninguém. Muitos jogadores podiam ser como Ronaldo ou Messi mas não tiveram sorte. No Racing, eu marcava golos e fazia o mesmo que acabei por fazer no FC Porto, mas era o Racing. Quando vim para o FC Porto, vim com aquilo que sabia fazer, e tive a oportunidade de o fazer nos palcos internacionais. A minha sorte foi a Taça dos Campeões Europeus, porque podia ter sido um rei sem coroa.
Como aconteceu no Valência...
Exatamente, quando fui para o Valência diziam-me que era um grande jogador, mas não ganhei nada lá. Os Decos e Maniches tiveram essa sorte, estavam no clube certo na altura certa. É claro que não quero retirar o mérito ao trabalho de Mourinho, nem é disso que se trata, mas há circunstâncias favoráveis que ajudam a fazer grandes equipas.
FIFA e UNESCO enchem agenda
Madjer é hoje embaixador da UNESCO e divide o seu tempo entre essas funções e as da FIFA, onde trabalha com Platini e não só. Além disso é ainda representante da União Africana para a Paz e Segurança. "Sinto o reconhecimento por aquilo que fiz. Viajo muito com os dirigentes dessas instituições e sou muito solicitado", comentou, ele que tinha avião ontem à tarde para seguir para uma atividade desenvolvida em Barcelona por uma marca desportiva. Mas ainda faz televisão: "Essencialmente no Catar e no Dubai, tento estar disponível".
"Há a mão de Maradona, o penálti à Panenka e o golo à Madjer"
Em 1987, na final da Taça dos Campeões Europeus, Madjer assinou um golo que entrou para a história e que todos associam ao seu nome, cada vez que alguém marca de forma semelhante. "Fico feliz com isso, nem imaginam. Ainda hoje as pessoas se dirigem a mim para falhar daquele golo de calcanhar. Acho que consegui uma coisa muito difícil e inesperada com aquele golo. Foi um golo que ficou ligado a mim e ao FC Porto. Da mesma forma que as pessoas falam da mão de Deus, no golo marcado pelo Maradona, e da grande penalidade à Panenka, quando se marca um golo de calcanhar, diz-se que é um golo à Madjer e isso é espécie de impressão digital, uma marca registada, que fica para a vida. Há grandes jogadores que nunca conseguiram isso nas suas carreiras. Deixa-me orgulhoso estar como referência entre nomes como Maradona e Panenka, por exemplo".
Como não podia deixa de ser, estando de passagem pelo Porto e por Portugal, o clássico da Luz foi tema de conversa. As saudades desses grandes embates são evidentes e a vontade de recuar no tempo também, mas Madjer assegura que seria diferente. "Com a mentalidade que tenho e menos uns 30 anos, sinto que teria feito melhor ainda, porque quando somos jovens conhecemos coisas boas e outras menos boas e não é fácil. As qualidades físicas e técnicas podem estar no máximo, mas o homem não está ainda completamente formado. Com a mentalidade de hoje e a minha juventude de outros tempos, poderia dar muito mais ainda. Mas não me posso queixar", comentou.
Chamaram-lhe "o português" na televisão
Madjer trabalhou na Aljazeera durante sete anos, ajudou a fundar o Aljazeera Sports e garante que o futebol português tem uma imagem muito positiva. "Tivemos sempre muitos jogos do campeonato português e cheguei a ter mesmo uma edição especial que se chamava 'Madjer, o português' e que correu muito bem", revelou. O argelino diz que o público conhece muito bem o FC Porto. "Com um FC Porto a ganhar tudo de há 25 anos para cá, é evidente que se tornou na primeira referência para quem vive lá fora", apontou.
"Não sinto que tenha deixado a família portista"
Apesar de uma agenda que o obriga a viajar pelo mundo, só há dois sítios onde Madjer se sente em casa: na Argélia e no Porto. "Não sinto que tenha deixado de fazer parte da família portista. O clube está no meu coração e sigo sempre de muito perto os resultados", frisou. Com casa no Porto, o antigo avançado não perde uma oportunidade para voltar: "É impossível esquecer um clube que me deu tanto e que fez de mim o que sou. Ainda hoje sinto o carinho e a generosidade das pessoas e guardo boas recordações desta cidade."
Mundial do Catar é uma preocupação
O Catar organizará o Mundial em 2022, mas os estádios só enchem excecionalmente: "Nos países do Golfo, a maior parte das bancadas estão vazias, porque as pessoas não se interessam muito pelo futebol. As mulheres não põem os pés nos estádios, por exemplo. Gostaríamos de ver os estádios cheios, como na Argélia, mas no Golfo, à exceção da Arábia Saudita, não ligam muito ao futebol. Mas é do interesse deles mudar as coisas. A não ser num Brasil-Argentina, como o que aconteceu há tempos, os estádios não enchem."
in "ojogo.pt"
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