segunda-feira, 9 de abril de 2012

Até o pai lhe puxou as orelhas

Em Espanha, Mourinho tapa a boca quando quer falar com os adjuntos ou com os jogadores. Em Braga, Álvaro Pereira pôs legendas gestuais para dar voz à sua evidente indignação, tornando pública a discordância com uma ordem de substituição.
O Palito ferveu, como Rolando tinha fervido semanas antes (Académica) ou Cristian Rodríguez no duelo com o Braga da primeira volta, reagindo mal a um reparo de Vítor Pereira sobre a sua falta de atitude defensiva.
No Uruguai, a família de Álvaro Pereira viu e não gostou. "Ele sabe que não pode ter aquele tipo de comportamento. Ninguém gosta de sair e ele juntou isso à noção de que o jogo lhe correu mal", diz a O JOGO o pai, Nelson, validando a opção de Vítor Pereira: "O Álvaro saiu porque estava a jogar mal e já tinha um amarelo. Não há insubstituíveis e o brasileiro [Alex Sandro] merece o respeito dele, porque também trabalha e também quer jogar."
Nelson ainda só tinha falado com o filho por mensagens, mas garante que, a frio, Álvaro saberá retratar-se e assumir o erro. Afinal, é a imagem dele que está em xeque. "Era um jogo de nervos entre candidatos ao título e isso terá mexido com ele. De qualquer forma, não se pode comportar assim. Não foi o que lhe ensinámos", remata Nelson.
No FC Porto, problemas públicos têm soluções privadas. Foi assim com Rolando, que fez mea culpa logo no primeiro treino após o jogo com a Académica, ouvindo depois a absolvição de Vítor Pereira na conferência de Imprensa seguinte. Um gesto idêntico de Álvaro Pereira bastará para transformar um caso num mero episódio.

Alex Sandro cresce para aparecer


Depois de ter andado escondido durante a maior parte da época, Alex Sandro apareceu no momento decisivo do campeonato para acrescentar soluções a Vítor Pereira. A resposta do lateral-esquerdo tem sido positiva, tão positiva que o treinador não teve problemas em recorrer a ele num jogo tão importante como foi o de Braga. Álvaro Pereira estava a realizar uma exibição a roçar o ridículo e, apesar do estatuto, acabou substituído por Alex Sandro quando ainda faltavam jogar mais de 30 minutos. A opção de Vítor Pereira foi também uma demonstração de que a evolução do internacional brasileiro tem satisfeito os desejos dos responsáveis portistas. Alex Sandro terá agora mais uma oportunidade de mostrar o seu valor no próximo jogo, a receção ao Beira-Mar, devido ao castigo de Álvaro Pereira. No entanto, para trás, ficou meio ano de quase completa ausência - realizou apenas dois jogos em 2011 -, que serviram para ir crescendo na sombra, de modo a surgir, nesta fase, mais estável e maduro. As boas exibições realizadas frente a Benfica e City deram-lhe ainda mais confiança, mas há quem garanta que o melhor ainda está para chegar.


AVB sentiu a revolta dos preteridos


Gerir os egos não é um problema exclusivo de Vítor Pereira. Até Villas-Boas sentiu dificuldades no arranque da última temporada, ficando bem vincada a insatisfação de Hulk por ter sido substituído em quatro jogos consecutivos: Rapid Viena, Nacional, Olhanense e CSKA de Sófia. O treinador, porém, contornou de forma airosa a controvérsia, vincando a sua liderança e diminuindo a azia do brasileiro. "O Hulk não tem dois lados, é um jogador competitivo. Como em qualquer jogador, a substituição gera insatisfação, não estamos preocupados. Desde que não me bata", brincou mesmo o treinador, dias depois. Vítor Pereira também tem preferido não fazer comentários a quente, mas as suas decisões reforçam que não olha a nomes.


3 questões: Manuel Cajuda, Treinador

"Bonecos na tv não são bonitos"


1 Como gerir a manifestação de discordância de um jogador que é substituído?

Por ser público, isso tem mais peso no exterior do que no seio do grupo, até pelos comentários que suscita. A tensão de quem está em campo e sai é enorme e o jogador tem direito a ter emoções, assim como o treinador tem o direito de assumir a sua liderança e as suas opções. A solução tem de ser interna, privada, e estou certo de que é isso que vai acontecer.


2 O que deve fazer o treinador para que a sua autoridade não saia beliscada?

Os homens mais inteligentes são os que resolvem as situações mais delicadas. Álvaro Pereira não percebeu a decisão, mas uma substituição não pune apenas más exibições, tem também um lado estratégico. Neste caso, prevaleceu a prevenção e Vítor Pereira esteve muito bem na gestão do amarelo visto pelo Álvaro minutos antes.


3 Pela sua experiência, este tipo de manifestação é comum? Que consequências pode ter?

A olho, a atitude do jogador tem de ser considerada como muito negativa mas, por norma, tudo isto se resolve com uma simples conversa e dispensa uma multa interna. Com inteligência tudo se resolve, até porque treinador e jogador remam para o mesmo lado. A frio, Álvaro Pereira vai retratar-se, até porque já deve ter falado com amigos e estes disseram-lhe certamente que os bonecos que passaram na televisão não foram nada bonitos.

in "ojogo.pt"

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