Discursos de circunstância não são com Danilo, o
defesa mais caro da história do FC Porto, mas que defende um
estatuto que, afinal de contas, até pode transformar os 13
milhões de euros pagos pela sua transferência numa
autêntica pechincha. A fazer fé no lateral, que às
custas de uma chegada adiada e de uma lesão inoportuna ainda
pouco conseguiu mostrar no Dragão, a SAD tem um autêntico
tesouro em mãos.
Eis como o brasileiro se apresenta, na primeira pessoa: "Tenho a
técnica do Dani Alves e a força do Maicon, por isso acho
que posso ser o titular no Mundial 2014." A declaração
consta de uma esclarecedora entrevista à "Gazzetta dello Sport",
na qual Danilo revela tudo, menos papas na língua.
Tendo expressado ao que vai, o internacional brasileiro projeta
claramente o Mundial que vai ser disputado no seu país e
sustenta como pensa lá chegar. "Jogo num clube vencedor e estou
muito motivado para dar ainda mais na próxima época",
apontou, sem esconder alguma mágoa pela tímida
contribuição para um título muito desejado: "Estou
muito contente com este campeonato, é verdade que estive
lesionado na fase decisiva, mas estive sempre perto da equipa."
Campeão brasileiro e vencedor da Taça dos Libertadores
pelo Santos; medalha de ouro no Torneio Sul-Americano de sub-20 e no
Mundial da mesma categoria, Danilo tem um currículo que
impressiona e duas internacionalizações pelo Brasil que o
legitimam, mas não se considera um produto acabado.
Aliás, no FC Porto já se apercebeu de várias
imperfeições.
"Olho para o meu exemplo e sinto que amadureci muito ao ter dado
este passo. No Santos estava no fecho de um belo ciclo e a final contra
o Barcelona confirmou-o. É muito difícil perder uma final
e mal tocar na bola. No Brasil temos muito de aprender taticamente,
há alguns conceitos que precisamos de dominar", reconheceu, numa
análise mais elaborada do que a que traçou para, mais uma
vez, explicar por que elegeu os dragões: "Sabia do interesse do
Milan e do Benfica, mas escolhi o FC Porto porque há já
muitos anos que vence títulos nacionais e europeus."
De forma desassombrada, Danilo admite, porém, que o caminho
não se esgota na Invicta e revela preferências. "Quero
ganhar muitos títulos pelo FC Porto, mas tenho o sonho de jogar
na Premier League. O futebol inglês é o mais bonito. Quero
ser como o Gilberto Silva, discreto fora do campo, mas um vencedor
dentro dele. Sempre foi um vencedor e chegou a capitão do Brasil
e do Arsenal", encerrou, na mesma fasquia com que começou a
entrevista.
"Torço para que o Ganso venha"
O Santos revelou, em janeiro, que recebeu uma proposta do FC Porto
por Ganso. O médio tem sido um dos destaques da equipa de Vila
Belmiro, está em grande na seleção e é um
nome que os dragões continuam a seguir com
atenção, contando com um aliado de peso: Danilo.
O lateral assume que fala regularmente com Ganso e que tem feito um
forcing para que a escolha do médio recaia sobre os
dragões. "Estou sempre em contacto com o Ganso e o Neymar, que
são meus amigos e pessoas que admiro imenso. Torço para
que o Ganso venha para o FC Porto, já lhe dei algumas dicas
sobre o clube e sobre a cidade e acho que ele pode adaptar-se muito bem
ao nosso estilo de jogo", indicou o portista, que se coloca à
margem das negociações, mas sem deixar de tornar
públicas as suas conversas com o jogador de 22 anos. Para
Danilo, não é apenas uma questão de amizade,
apesar de falar com especial carinho sobre a equipa do Peixe que marcou
um ciclo no futebol brasileiro: "Foi duro deixar o Santos depois
daquele Mundial de Clubes. No FC Porto encontrei um grande plantel e um
grande grupo, mas nunca mais estarei num ambiente como o do Santos. Era
fantástico."
Twitter, treinos e temperatura: o que mudou na Invicta
São três "T" que marcam a transição (mais
uma) de Danilo entre o Brasil e Portugal. Resumindo as suas novas
rotinas, começa por se queixar dos treinos matinais. "Acordo
diariamente às 8h e está frio. No Brasil, os treinos
começavam às 16h e eu só acordava às 11h",
conta, denunciando de forma clara a sua preferência, associada ao
tal "T" de temperatura que marca também a clivagem entre os seus
hábitos na Vila Belmiro e no FC Porto.
Em Portugal, Danilo percebeu ainda que a dimensão do que faz
e do que diz é maior do que no Brasil. Por isso, há que
controlar as redes sociais. "Aqui também me avisaram para ter
cuidado com o Twitter. No Brasil não há esse controlo,
porque há tanta gente que usa o Twitter que ninguém
presta atenção ao que eu escrevo", brincou, compreendendo
que a escala portuguesa amplifica o impacto do que se diz.
Pormenores de uma mudança que está, porém, interiorizada pelo lateral.
Começou como guarda-redes
Danilo ainda não sabe se prefere ser lateral ou médio,
mas o curioso é que começou a jogar como guarda-redes. A
história é esta. "Era bom à baliza, mas baixo. Eu
sou natural de Bicas, uma pequena cidade, e não me foi
fácil encontrar um clube. O Tupinanbás foi o primeiro,
lá fui testado como defesa. Fiz a minha melhor temporada aos 14
anos e chamaram-me do América Mineiro, um dos maiores clubes de
Minas Gerais. Foi o primeiro passo para chegar a profissional e
consegui-o nessa equipa", conta, saltando etapas, e omitindo o
mediático percurso que teve a partir de então.
Quer ser psicólogo
Com 20 anos e a perspetiva de uma carreira longa (Zanetti,
lateral/médio do Inter, ainda joga aos 38), Danilo já tem
uma ideia do que gostaria de fazer quando arrumasse as botas. "Tenho o
sonho de me licenciar em Psicologia, porque gosto de observar e de
ouvir os outros. Quem sabe se um dia não exerço como
psicólogo?", interroga-se, revelando um interesse curioso e
invulgar. Os estudos não se encaixam nos planos imediatos do
brasileiro, com uma agenda preenchida entre clube e
seleção. Aliás, este verão Danilo quase nem
vai parar, entre particulares pelo Brasil e os Jogos Olímpicos
de Londres.
in "ojogo.pt"
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