Pedro Spínola é um dos principais obreiros do
tetracampeonato que o FC Porto conquistou à sétima
jornada da fase final e que vai celebrar no sábado com os seus
adeptos no Dragão Caixa. Um madeirense, de 28 anos, que vivia na
margem sul do Tejo e que se adaptou muito bem ao Porto.
Este ano, o FC Porto ganhou o quarto título consecutivo e,
aparentemente, de forma mais fácil do que os anteriores. Como se
consegue tamanho domínio?
Com muito trabalho, muita dedicação, e tendo
também uma boa equipa. Temos bons jogadores, não temos
estrelas, o conjunto é o que temos de melhor.
Mas, teoricamente, os adversários fazem maiores investimentos. O Benfica até se reforçou com mais dois atletas do FC Porto, o Nuno Grilo e o Inácio Carmo...
Todos os anos compram jogadores, e nós, e eu estou cá
há três anos, vamos perdendo um ou outro elemento, mas
quem fica vai estando preparado para os substituir. Aconteceu comigo.
Saiu o Inácio e, durante os dois anos anteriores, eu tinha sido
preparado para quando chegasse a minha altura...
O Pedro fez um campeonato extraordinário, está nos primeiros lugares do ranking MVP. Estava tapado pelo Inácio Carmo e por isso não fez uma temporada assim antes?
No andebol, não há titulares... Nesses anos não
jogava tanto, esta época joguei mais, mas se calhar joguei
porque atrás de mim não havia ninguém em quem o
treinador confiasse, porque senão ia sempre alternando, e
é isto que o professor quer: uma equipa competitiva, com
constantes trocas para o ritmo de jogo ser sempre alto. Algo que
conseguimos, e é aí que está a grande
diferença para as outras equipas; nós conseguimos durante
o ano todo jogar um andebol rápido, o que cá em Portugal
não se via muito, embora algumas equipas também já
comecem a fazer o mesmo trabalho que nós fazemos. Mas essa
é a grande diferença: enquanto eles começam agora,
nós já temos este andebol há três anos,
desde que o prof. Obradovic chegou. Mas voltando ao Inácio,
julgo que a saída dele não foi boa: o Inácio
é o melhor defesa do nosso campeonato, a defender é
exemplar.
Esta foi a sua melhor época de sempre?
No FC Porto, foi, sem dúvida, mas também fiz uma
temporada muito boa no Belenenses antes de vir para aqui. Foram as duas
melhores épocas.
Estava a contar com o convite do FC Porto?
Não. Na altura fiquei surpreso, nunca tinha feito planos para
sair de Lisboa, para vir para o Porto... Jogava andebol para me
divertir, jogava andebol com os meus amigos, não era
profissional, não o ambicionava, mas surgiu, aceitei e agora sou
profissional.
E agora, como vê a mudança?
Sair da beira da família e dos amigos que tenho lá em
baixo foi a parte má, mas por outro lado há a boa, de
fazer só o que gosto. Sou um sortudo em poder fazer só o
que gosto.
Deixou amigos, mas no Porto também já deve ter alguns...
Sim, já tenho. Eu não conhecia a cidade, não
conhecia ninguém da equipa - só de jogar contra. Vim para
cima só com a minha namorada e fiz amigos de equipa e não
só, mas foi muito giro. Sempre fui muito bem aceite por toda a
gente, gosto muito da cidade, é mais tranquila, não
há muito trânsito, e só isso é espetacular.
Em Lisboa, vivia na outra margem e demorava uma hora a chegar ao
treino; aqui vivo em Vila Nova de Gaia, também do outro lado do
rio, e demoro dez minutos. É uma diferença enorme. De
resto, já conheço a cidade o suficiente, embora ainda
não tenha feito uma visita à turista. Tenho uma vida
tranquila e sou muito feliz no Porto.
"Evoluí muito no FC Porto"
Apesar desses três anos de conquistas, esta equipa tem uma pedra no sapato que é cada vez maior: os sucessivos falhanços nos apuramentos para a Liga dos Campeões...
Este ano, para mim, foi o maior desgosto pelo grupo em que
íamos entrar, com as melhores equipas do mundo. E depois de
passar o adversário que seria o mais complicado, perdemos num
jogo em que o Tiago foi desqualificado cedo, o Wilson se lesionou, o
Gilberto já estava aleijado. Nunca tivemos a equipa completa e
totalmente construída em nenhum dos apuramentos. No primeiro
ano, o prof. Obradovic era novo e tinha outros métodos de
trabalho, eu era novo e o Dario também - foi
compreensível. No ano passado, em casa, a bola entrou um
milésimo de segundo depois do que devia, e este ano não
estávamos completos.
Ainda assim, três anos depois foi três vezes campeão...
Se na altura me dissessem que vinha para o FC Porto e ia ser sempre
campeão, não sei se acreditava muito. É verdade!
Não é fácil ser tetracampeão, e vê-se
que não são assim tantas as vezes que se conseguiu isso.
Além disso, evoluí muito. O trabalho é duro, mas
tem de ser, é compensador. O prof. Obradovic é um
trabalhador, é um excelente treinador que treina todos os
aspetos, físicos e mentais.
"Olsson veio cá uma vez, já conhece o pavilhão..."
A seleção de Mats Olsson tem lugar para apenas um jogador do FC Porto no seu sete titular, o Tiago Rocha. Como analisa o facto de a equipa tetracampeã nacional não ser muito tida em conta nas escolhas do selecionador?
É que ele não vem muito ao Norte, vê poucos
jogos do FC Porto; aliás, nos três anos que levo no FC
Porto Mats Olsson veio cá uma vez. Já não é
mau, já conhece o pavilhão, acho que gostou, disse que
era bonito, mas de resto mais nada. Não deve ver muitos jogos
nossos. Eu dou sempre o exemplo do futebol e do Euro'2004, que foi a
prova em que fomos mais longe: a Seleção utilizou a base
do FC Porto, que tinha sido campeão europeu, e fomos à
final. Mas no andebol não, porque, se calhar, o nosso trabalho
não é bem feito... Quando jogamos com equipas da
Macedónia, por exemplo, utilizamos uma defesa mais
avançada, diferente, e ele podia aproveitar para ver o que se
faz e não se ficar pelo 5:1 da Seleção. Mas
não... E só tem aquele núcleo de jogadores e mais
nada, estejam bem ou mal no campeonato. Eu não compreendo como
é que um jogador que não está bem, que não
é eficaz, continua a ser chamado à Seleção
e, se calhar, até joga de início. Eu não
compreendo. Não deve ser esse o critério, deve ir
à Seleção quem está melhor - e quem
está melhor, teoricamente, é quem ganha, quem é
campeão, mas a verdade é que, daqui, só o Tiago
é que é titular. Ele até chama o Gilberto, que
é um caso de que nem vale a pena falar, e o Wilson, mas eles
não jogam.
"Se o Gilberto joga a ponta a mim metia-me na baliza"
E o Pedro, que nunca foi chamado... Com a época que fez, não acha que merecia? Não gostava de vestir a camisola da Seleção?
Acho que pelo menos uma chamada merecia e é claro que
gostava; quem é que não gosta de representar o seu
país? Mas se calhar noutras condições; para ser
só mais um, lá encostado, não. Prefiro ficar aqui,
treino com o prof. Obradovic, trabalho muito mais do que lá.
É muito melhor do que ir para lá para se calhar me
meterem na baliza... Se ele [Mats Olsson] chama o Gilberto para a
ponta, a mim metia-me na baliza; se calhar nem sabe onde é que
eu jogo. Para isso, prefiro ficar no FC Porto. Mas digo-lhe mais:
Portugal tem jogadores rápidos e, no entanto, contra-ataque...
zero; reposição rápida de bola... zero. Como
é que quem não corre quer ganhar jogos? Portugal
não tem jogadores altos para chegar ali em jogo organizado e,
pumba!, lá para dentro. Dos únicos que temos, o
Álvaro só defende... Por isso, quem é que vai
chegar lá e atirar?
in "ojogo.pt"
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