domingo, 13 de maio de 2012

A soma interrompida na divisão dos louros


Estádio do Rio Ave, fim de tarde abafado, passeio do FC Porto com brilho intenso de Kléber. A sinopse serve para o jogo que fechou a temporada, mas é a cópia fiel da história que, há dez meses, contávamos sobre a primeira amostra em Portugal da equipa de Vítor Pereira. A curiosidade ilustra o percurso dos dragões, não lhe escondendo as agruras de um trajeto árduo e com um ponta de lança entretanto adiado.
Os três golos de Kléber espelham a matemática do campeão, que preferiu dividir os louros do que alimentar a soma que Hulk vinha encetando nas últimas jornadas (sete dos últimos oito golos da equipa) e que o fez reentrar na discussão pelo prémio de melhor marcador da Liga. Uma glória pífia, entenderam os dragões, vincando prioridades.
Vítor Pereira abdicou dessa coroa individual, sem beliscar o veredicto que já tinha traçado no lançamento da jornada: mais golo, menos golo, o que ninguém roubaria a Hulk era o título de campeão e o estatuto de MVP da Liga. Ao puxar a estrela para o banco, o FC Porto disse o que queria do encontro: acrescentar campeões (Bracali e Kadú) e insuflar a confiança daqueles que vinham jogando menos.
Convém acrescentar que o brando Rio Ave convidou a essa demonstração de brio, assumindo um ritmo de fim de festa que confirmou que a UEFA seria um presente envenenado para o arranque da nova época. Quando a esmola é muita, o santo desconfia, e os vila-condenses não se deixaram inebriar pela falácia europeia que só pode ser piada de mau gosto quando colada a uma das equipas que se viu e desejou na luta pela permanência.
Livre de constrangimentos, a disputa pendeu, naturalmente, para quem soube o que fazer com os espaços. Aí, James foi rei e senhor, agradecendo o papel de 10 e punindo um meio-campo do Rio Ave que esticava em demasia para impedir que João Moutinho e Defour saíssem a jogar a partir de trás. Bruno China era tenrinho para o colombiano, que em poucos metros delimitou um latifúndio.
Djalma e Varela castigaram a macia defesa vila-condense e até Kléber ia transformando dúvidas em certezas, crescendo para cima dos centrais e recuperando o fulgor do ponta de lança afirmativo que se projetava na pré-temporada. O futebol portista fluiu, multiplicou oportunidades e dividiu-as numa mão cheia de golos que, ironia das ironias, redundou num hat trick que não o de Hulk, lançado para abençoar a festa e para servir o último tento dos dragões no campeonato.
Afinal, o golo é uma democracia para o FC Porto. Djalma foi o 20º jogador a marcar pelos dragões na Liga, lançando a última medalha para o pescoço de um treinador que o chegou a ter a prémio. Contas feitas, o algodão dos números é limpinho: ao título, os portistas juntam o melhor ataque (69 golos) e a melhor defesa (19).
Uma conquista eloquente e que a equipa honrou, despedindo-se da temporada em lua de mel com os adeptos e com as dúvidas a evaporarem-se. Nunca seria o Rio Ave a confirmar a rendição dos céticos, mas a avaliação final, ainda que redutora, não deixará de nos oferecer a coincidência de uma sentença que já se desenhava há dez meses, num fim de tarde abafado em que Kléber foi vedeta.

in"ojogo.pt"

Rio Ave 2-5 FC Porto (Resumo) por Ricardo109x

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