F.C. Porto-PSG, 1-0 (crónica)
Os poderes especiais de James vergam o robô sem alma
Um ato de justiça, um manifesto anti-petrodólares. O novo-riquismo
esmigalhado, a prova romântica de que o futebol ainda
pertence aos génios. Mais do que aos euros
provenientes da excentricidade de bilionários de outros mundos.
O
triunfo
do F.C. Porto perante o puzzle de peças soltas
do PSG é o triunfo da organização, da estabilidade, da consciência. No
Dragão
os protagonistas foram humanos, o esforço
terreno e a inspiração mágica.
A projetar esta imagem envolta em
maniqueísmo,
o menino James Rodríguez. Aquele golo aos 82
minutos, quando a lucidez já dera lugar ao instinto e a inteligência à
emoção,
revela uma outra vez o quão especial é este
colombiano.
Não tardará muitas épocas para que este talento seja
elevado
ao sétimo céu. Críticos, escritores,
jornalistas, poderão um dia dizer (ou escrever) que viram James
Rodríguez jogar futebol.
No mesmo tom e com a mesma bendição com que
outros viram Rudolf Nureyev dançar ou Maria Callas cantar.
James
Rodríguez
é um génio, um portento. A forma como encosta o
pé esquerdo e dá a curva perfeita à bola, já tão perto do fim, está ao
alcance
somente dos predestinados. O lance teve tanto de
belo como de justo. Só o F.C. Porto merecia ganhar e isolar-se no Grupo
A
da Liga dos Campeões.
Reduzir a exibição convincente do F.C. Porto a James é, porém redutor. Fernando e João Moutinho foram gigantescos
e catapultaram a equipa para uma ofensiva maciça sobre as linhas recuadas dos franceses.
O
PSG apareceu convencido,
com uma abordagem mesquinha. Apresentou-se na
pele de rico e jogou como um pobre demasiado tempo. Estendeu o chapéu ao
jogo,
num misto de vénia conquistadora e pedido de
esmola. Sem efeito.
Não foi de cantigas o Porto, não caiu no
canto do
bandido, elegante e traiçoeiro. Pouco se viu
deste PSG, de resto. A desenvoltura de Chantôme, o talento intermitente
de Ibrahimovic
e o muito medo dos demais. Para a alta roda do
futebol, o camião de notas ainda é insuficiente.
O PSG pareceu
vezes
a mais um autómato, um ser maquinal e sem alma.
Claro que a qualidade existe e tem unidades de grande categoria. De
quando
em vez, um ou outro pormenor dão um sopro de
vida e humanismo ao conjunto, mas esses lances são a exceção na regra
fria e
robótica. Não é disto que o futebol precisa.
Os Destaques dos dragões
Com
o mal gaulês pode bem o F.C. Porto. Após muitas tentativas
falhadas, quase já em desespero, os azuis e
brancos canonizaram a exibição no tal instante superlativo de James
Rodríguez.
Podiam e deviam ter antecipado o suspiro
de alívio. A melhor das oportunidades foi servida por João Moutinho a
Varela,
à passagem do minuto 60. O extremo surgiu
completamente isolado e só conseguiu atirar a bola contra Salvatore
Sirigu.
Não
foi a primeira claríssima oportunidade de golo,
mas foi a melhor. Antes, também dois remates de João Moutinho, um de
James
e ainda outra hesitação de Jackson deixaram o
Dragão de mãos na cabeça e coração aos solavancos.
Teria de
ser
um auto de fé, uma manobra de heroísmo a
resgatar toda esta gente de uma onda pessimista. Ver este jogo nas mãos
do maquinal
PSG é como imaginar Gotham ou Metrópolis
cerceadas pela lei da bandidagem .
James pode ainda não ser um
super-herói,
é verdade, mas tem no seu pé esquerdo um poder
especial. Levou o F.C. Porto ao clímax e fez disso uma questão de
justiça.
Por isso soube a glória.
in "maisfutebol.iol.pt"
1 comentário:
caríssimas(os),
num dia a todos os níveis frustrante, só mesmo o nosso FC Porto nos conseguiu dar uma alegria e encher-nos de orgulho!
que a exibição de ontem tenha continuidade já no próximo encontro, é o que mais desejo!
somos Porto!, car@go!
«este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!
saudações desportivas mas sempre pentacampeãs a todas(os) vós! ;)
Miguel | Tomo II
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