O FC Porto condena qualquer acto de racismo, ou qualquer outro tipo de discriminação. O nosso jogador Wilson Davyes foi vítima de insultos racistas no jogo frente ao Sporting da Horta e deixou o testemunho na primeira pessoa e que reproduzimos abaixo.
Não é nossa intenção, nem do Wilson Davyes, fazer julgamentos sobre quem quer que seja, é nossa intenção sim apelar a que no desporto português estes comportamentos nunca mais se repitam.
O FC Porto tem muito orgulho em ter nos seus quadros atletas como o Wilson Davyes, não só pela valia técnica, mas também pelos princípios que defendem.
Caros amigos,
É com um misto de determinação e de profunda consternação que partilho convosco o que me vai na alma. Determinado a quê? Difícil especificar. Porém, estou seguro de que é minha obrigação denunciar a situação que hoje vivi.
Jogo andebol desde os 11 anos. Já ganhei e já perdi bastantes vezes, como é normal num desporto. Muitos foram e, felizmente, continuam a ser os dias em que o andebol me faz sentir realizado, pois considero-me um privilegiado por ter a possibilidade de me dedicar a 100% ao que mais gosto e de ainda ser pago para isso. No entanto, considero que apesar de toda a competitividade que é inerente ao jogo, há um conjunto de princípios e de valores que são imprescindíveis, para mim pelo menos.
Defendo que a vontade de ser melhor do que o adversário, não me dá o direito de humilhá-lo. Aceito que o jogo, imprevisível, leve a determinados estados de espírito, quer de euforia em caso de vitória, quer de frustração em caso de derrota, sendo que independentemente do resultado final, o respeito pelo adversário deva ser imperativo! Contudo, há determinados comportamentos que ultrapassam o campo desportivo, revelando o real carácter e, infelizmente em alguns casos, a (pouca) formação cívica de alguns atletas/homens.
Passando à situação em concreto, ela aconteceu durante o SC Horta - FC Porto de ontem, dia 13, no decorrer da segunda parte. Num lance em que me encontro a lateral esquerdo, na tentativa de ganhar superioridade para o ponta do mesmo lado, sou placado, sim, placado, pelo ponta direita da equipa da casa cujo nome é Afonso Almeida, indo de seguida os dois para o chão. Confesso que fiquei estupefacto pela acção, digna de um jogador de râguebi, pelo que olhei fixamente para a pessoa em questão para demonstrar a minha reprovação. Num acto que não só revela o elevado respeito que o dito "jogador" tem por uma etnia diferente da sua, como também a elevada formação cívica que possui, sou confrontado com um, passo a citar, “o que queres, preto?”. Seguidamente, levantámo-nos simultaneamente e num acto de "justiça" salomónica, somos ambos sancionados com dois minutos. Sem perceber esta noção de "justiça", dirijo-me para o banco de suplentes onde constato que o "jogador" igualmente sancionado me dirige um "convite" para me aproximar do local onde ele se encontra – um claro convite a uma cena de pancadaria – ao que respondo, cito, “vem cá tu!”. Mais uma vez, sou alvo da dita "justiça", que me volta a sancionar com dois minutos, fazendo assim um total de quatro minutos em que apenas eu estaria impedido de participar no jogo. Admito que possam ser feitas várias leituras da situação. Não pretendo ser nem "o bom", nem "a vítima". Pode haver quem defenda, como infelizmente já ouvi, “então mas tu ficas ofendido? Tu és preto”. Imaginam uma sociedade onde tratamos os nossos pares consoante as suas características físicas e não pelos nomes?
Obviamente que não tenho qualquer complexo em relação à minha cor, vivo bem com a minha condição e aceito-me como sou, assim como aceitaria caso fosse outra a minha cor/etnia. O que não entendo é como não estão previstas sanções para os que incorrem neste tipo de atitudes, como acontece por exemplo em Inglaterra, onde ao capitão da selecção inglesa, John Terry, foi retirada a braçadeira de capitão de equipa depois de ter dirigido insultos racistas a um adversário. Considero triste haver quem ainda recorra a este tipo de repertório, a meu ver, ultrapassado!
Para concluir, deixo um apelo. Um apelo a todos os que, como eu, se sentem privilegiados por fazerem disto a sua vida. Respeitemo-nos uns aos outros. Quando nos respeitarmos uns aos outros, estaremos em condições de exigir que respeitem a nossa classe e que nos sejam dadas as condições que merecemos.
Grato,
Wilson Davyes
in "fcp.pt"
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