Este F.C. Porto tem uma característica particularmente interessante: a capacidade incomum de camuflar os problemas. Pode acordar mal disposto, sem particular vontade de sorrir para o jogo, mas torneia os fantasmas interiores e faz o que tem a fazer. Normalmente, vence.
A equipa faz lembrar, de resto, o marido perfeito. Se é que o há. Não é um amante particularmente lascivo, pode ser fácil até identificar um rival mais fogoso mas, lá está, é cumpridor. Lida bem com a monotonia do calendário, adora dormir em casa na almofada fresca.
A personalidade adulta e estável ajuda a explicar o triunfo diante do Nacional. O dragão soube como nunca engolir as limitações criadas no plano ofensivo (Atsu, Kléber, Iturbe, agora James) e geriu as dificuldades com mestria. Até porque, é bom lembrar, no próximo fim-de-semana há duelo contra o maior rival, o insuportável namoradeiro conquistador.
Boa parte das soluções destes pequenos dramas encontra-se em Jackson. O colombiano é, nos dias que correm, a chave perfeita para sacudir para longe a preocupação. Uma vez mais, teve de ser ele, de cabeça, a acabar com a teoria perfeita do adversário.
O professor Machado encaixou o meio-campo num puzzle conveniente (Moreno com Moutinho, Revson com Lucho, Mihelic com Fernando), adiou durante mais de 20 minutos os sinais de perigo na sua área, mas lá foi surpreendido com um golo nascido num pontapé de canto.
Esse momento virou por completo a natureza da partida. Fortaleceu o espírito dos bicampeões e quebrantou a confiança dos insulares. Daí até ao intervalo, o dragão mostrou a sua melhor versão. A versão da equipa feliz da vida, esfusiante, capaz de momentos exuberantes.
Momentos como o remate de Lucho, aos 34 minutos, após uma receção perfeita no peito. Ou como outro, aos 42, que estaria condenado à eternidade. Vladan fora da baliza, Jackson a arriscar um remate impossível do meio-campo, e Vladan a corrigir a posição a tempo.
Tudo se preparava para um festim de golos, espetáculo e fogo de artifício. A lesão de James Rodríguez, porém, serviu de desmancha-prazeres. O colombiano teve uma recaída no problema muscular na coxa esquerda e não é líquido que recupere para a Luz.
Vítor Pereira cobriu essa baixa com Defour a extremo, mas o belga não é rápido nem repentista. É um bom jogador, sim, nunca um bom ala. O F.C. Porto sentiu a perda e voltou ao papel do homem pressionado pelos azares da vida: incapaz de ser feliz, mas sempre determinado a que ninguém o saiba.
O Nacional apercebeu-se dessa fragilidade, fez uma segunda parte muito interessante e chegou a devolver a dúvida ao jogo. Repartiu o jogo, foi corajoso em grande parte deste período e fez com que Helton não se desconcentrasse por um segundo.
Não é um papel fácil, nem invejado, mas alguém tem de ser o marido ideal no meio desta história. O papel assenta na perfeição a este Porto. Não vive da luxúria e de aparências, é certo. Adora, isso sim, a segurança que a estabilidade de resultados lhe confere.
in "maisfutebol.iol.pt"
1 comentário:
Jogo que o FC Porto não conseguiu simplificar muito por culpa da ineficácia no remate. Oportunidades flagrantes não faltaram.
A lesão de alguns jogadores nucleares está a tornar o plantel demasiado curto em função das provas em disputa, pelo que não me admiraria que no próximo jogo da Taça da Liga, Vítor Pereira recorra a jogadores da equipa B.
Voltando ao jogo a equipa esteve equilibrada até ao intervalo e depois perdeu frescura e discernimento, sem nunca por em causa a vitória tão justa quanto escassa.
Um abraço
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