Pegou-se com o presidente, o capitão e o melhor amigo. João Eusébio diz que era mais prejudicado pela fama do que pelo que fazia
Do Covilhã ao Penafiel foi um salto em quatro etapas, que é como quem diz quatro casos disciplinares. "Ligou-me e disse-me: 'Anda-me buscar que fiz asneira'", recorda Paulo Patrício. "Quando cheguei, estava no parque de estacionamento com um processo disciplinar. Comecei a ler e perguntei-lhe por que não me tinha contado o primeiro ponto. Disse-me que se esqueceu. Fez igual no segundo e no terceiro. Ao quarto, perguntei-lhe então como era possível ter-se esquecido de tudo", ri o seu antigo agente, que se gaba de até lhe ter pago uma viagem à Suíça para visitar os pais emigrados.
"A última das asneiras foi ter-se pegado, num treino, com o Beré, que era só o melhor amigo dele. Eram da mesma equipa, mas ele achou que o colega não estava a dar o máximo", contou-nos. "É um grande amigo mesmo", concorda o avançado brasileiro, que agora joga no Cesarense. "Nesse mesmo dia fomos jantar e já estava tudo bem. O Auri fez-lhe uma cueca e ele culpou-me por não marcar", gargalhou. "Adoro o Josué. Fez-me muitos favores e é muito solidário. Não é nada do que dizem dele. Apenas não suporta perder. Eu dizia-lhe para ter mais calma, mas ele dizia que não conseguia perder", brinca.
"Já anteriormente, num almoço, não cumpriu com a ordem do capitão para a equipa se levantar. Estava tranquilo a tomar café e não se levantou. Também se virou a ele." Esta história é contada por João Salcedas, que nessa época foi seu treinador e secretário-técnico. "Fomos na primeira jornada jogar a Aveiro. No final do jogo disse que não voltava à Covilhã, porque não fazia sentido treinar a seguir. Falei com ele e convenci-o a voltar, mas no final do jantar virou-se ao presidente", acrescentou.
João Eusébio, o treinador nesse dia, não desmente. Mas defende o jogador. "Pagou pelo passado e pela fama que levava. Ele pegou numa garrafa de água e levou-a para o autocarro. Estava paga, não foi roubada. Mas ao Josué tudo interpretavam de outra forma. Se fosse eu, o presidente [José Mendes] não me questionaria", lamenta sobre aquele que à data "era, a par de Pizzi", um dos mais talentosos jogadores que apanhou. "A marca FC Porto não domou o Josué. É irreverente, mas o seu talento sobrepõe-se. A irresponsabilidade é que o torna diferente. Em tudo que é arte, é assim: os que mais brilham são os mais irreverentes", comparou. "Não tenho nada a apontar-lhe. A nível humano, é fantástico. Achei-o um miúdo meigo, grato e com um sentimento de partilha enorme", elogiou o agora treinador do Chaves. "Tem um bom coração, mas tem-no junto à boca", brinca Salcedas. "Sofreu demasiado cedo o sintoma do craquismo. Ainda bem que se corrigiu a tempo", rematou.
in "ojogo.pt"
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