A 7 de Janeiro de 1985,
depois de ter visto o resumo do 1-0 do FCP em Faro para a Taça no Domingo
Desportivo, o treinador do Porto deixa-nos para sempre
"Hoje, às 10 e 30, na sua residência no Porto, faleceu José
Maria Pedroto, antigo internacional e o técnico de maior prestígio do futebol
português. Uma doença que se arrastou por longos meses (e que o forçou a
intervenções cirúrgicas em Londres) acabou por atirá-lo irremediavelmente para
o leito, onde já apenas combatia a morte à custa de uma cuidada assistência
médica e de grande carinho dos familiares e da direcção do FC Porto. Pesava
apenas 38 quilos e alimentava-se a soro. Ao ter conhecimento da sua morte, o
general Ramalho Eanes enviou um telegrama de pêsames."
A notícia do "Diário de Lisboa" não colhe totalmente de
surpresa quem acompanha de perto as tardes desportivas, porque Pedroto já não
treina o Porto há meses e meses (é o adjunto António Morais quem está, por
exemplo, na final da Taça das Taças-84), mas é uma notícia brutal, daquelas que
unem o país. A dor faz isso, o luto idem. Pedroto é uma figura irrepetível,
todos o sabem.
Como futebolista, é bicampeão nacional pelo Porto em 1956 e 1959.
Como treinador, repete a proeza em 1978 e 1979. É o Zé do Boné, alimentador de
ódios em Lisboa na guerra constante contra o poder centralizado da capital.
Nascido a 21 de Outubro de 1928 em Almacave (Lamego), vai morar para o Porto
aos sete anos, levado pelo pai, militar e colocado num quartel na Invicta. É aí
que começa a dar os primeiros pontapés na bola, a tentar imitar o seu ídolo de
então, um fabuloso jogador do FC Porto chamado Pinga.
Depois, aos dez anos, muda-se para Pedras Rubras, onde funda o FC
Pedras Rubras e se multiplica nas funções de presidente e capitão da equipa.
Aos 18 entra nos juniores do Leixões, como médio.
O seu talento é visível com um toque na bola, mas Pedroto gosta de
dar mais, muito mais. Tanto assim é que, certa vez, frente ao Académico do
Porto, pede a bola ao seu guarda-redes e vai por ali fora a driblar toda a
gente até chegar à linha da outra baliza. Aí, marca de calcanhar, depois de
puxar os calções para cima e de se pentear. É levado em ombros pelos colegas,
mas o seu treinador (Armando Martins) dá-lhe uma descompostura tão grande sobre
o futebol colectivo, e não individual, que Pedroto nunca mais repete a cena.
O serviço militar em Tavira obriga-o a continuar a carreira no
Algarve. Escolhe o Lusitano de Vila Real de Santo António e dá nas vistas com
golo ao Sporting, que Azevedo, o inimitável guarda-redes leonino, sempre
considera um dos melhores da carreira. Na época seguinte, o Lusitano desce de
divisão e Pedroto, já sem serviço militar por cumprir e sem ordenado, assina
pelo Belenenses, onde chega à selecção nacional. Segue-se o FC Porto. Nas Antas
prolonga a carreira até aos 31 anos, com um total de 35 golos em 178 jogos, o
último dos quais a 29 de Maio de 1960, no Barreiro (0-2 com CUF).
Arrisca então a carreira de treinador, de sucesso mais assinalável
ainda. Para a história, os tais dois campeonatos pelo Porto (acaba em 1978 com
uma seca de 19 anos) e as nove finais da Taça de Portugal (recorde), com mais
derrotas (5) que vitórias (4), por Vitória de Setúbal, Boavista e Porto. Só
mais um dado estatístico: Pedroto é o único tricampeão da Taça. Ora veja lá
este extraordinário trajecto: Boavista-75 (Benfica, 2-1), Boavista-76 (V.
Guimarães, 2-1) e Porto-77 (Braga, 1-0). É de mestre. É Pedroto.
in "ionline.pt"
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