quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Pedroto, o treinador que revolucionou o futebol português

Passam 30 anos sobre a morte de um dos mais carismáticos treinadores da história do futebol português. Quem trabalhou com Pedroto, destaca os métodos e as ideias adiantadas para a época.  

Nasceu em Lamego a 21 de Outubro de 1928. Se fosse vivo teria 86 anos. José Maria Pedroto, um dos mais carismáticos treinadores da história do futebol português, morreu vítima de doença prolongada, na madrugada de 7 de Janeiro de 1985. 

Como jogador, foi um médio talentoso, 17 vezes internacional e campeão no FC Porto com Yustrich e Béla Guttman na segunda metade da década de 50. 

Como treinador foi o primeiro a especializar-se com um curso em Paris em 1960. “Nunca um português tinha tirado esse curso e Pedroto foi o primeiro classificado”, enfatiza José Pereira, presidente da Associação Nacional de Treinadores. 

Pedroto enriquecia conhecimentos e valorizava competências no estrangeiro, e “estendia os seus conhecimentos aos colegas de profissão. Foi o meu examinador quando tirei o curso em 79. Orgulho-me porque em termos pessoais era como se tivesse uma nota superior às dos outros que não passaram por ele”, refere José Pereira, presidente da Associação Nacional de Treinadores.

Entre 1974 e 1977 José Maria Pedroto foi seleccionador nacional, e nos dois anos seguintes, bicampeão nacional pelo FC Porto. Pelos portistas conduziu a equipa à final da Taça das Taças de 1984, construindo com Pinto da Costa as bases do título europeu em 1987.

O treinador avançado no tempo
Pinto da Costa disse um dia que Pedroto "nasceu muito à frente". Os jogadores que trabalharam com o treinador subscrevem. “Estava avançado no tempo pela forma de estar, de trabalhar e de pensar. Era um treinador de rigor e disciplina. Não havia treinos a brincar”, destaca o antigo extremo esquerdo José Alberto Costa que foi campeão nas Antas com Pedroto. 

José Alberto Costa apresenta alguns exemplos das ideias novas que Pedroto aplicou no futebol português. “Foi pioneiro nas equipas técnicas alargadas. Desenvolveu as equipas médicas e também inovou na observação dos jogos e registo das estatísticas. Foi importante também no desenvolvimento da cultura do FC Porto. Teve lutas contra o regime de gestão colegial dos clubes. Foi o primeiro a criar um departamento de futebol autónomo em relação a outras secções. Essa realidade custou-lhe uma rotura com o Porto”, recorda. 

José Maria Pedroto tinha ideias sobre futebol muito avançadas para a época. Foi pioneiro na elaboração de relatórios de análise ao comportamento das suas equipas e dos adversários. O Professor José Neto, na altura um recém licenciado em Educação Física, foi o autor desses trabalhos. “Construímos as bases sistemáticas, com suporte de observação e qualificação do jogo”. Disse na apresentação aos jogadores que eu iria ajudar o grupo a ser campeão. Passou a estruturar o jogo na observação qualificada. Foi pioneiro nesse aspecto”, sublinha.

José Neto revela que ao intervalo dos jogos, em pleno túnel, Pedroto “perguntava tudo sobre os registos da equipa nas zonas do campo e aplicava esses elementos como organização para a 2ª parte do jogo. Construía o jogo através do jogo. Construía o jogo através do treino e o treino através do jogo”, observa o antigo colaborador de Pedroto, actual docente universitário. 

As medidas estruturais implementadas por Pedroto
O “mestre” como era apelidado pela imprensa, entendia que o profissionalismo precisava de um conjunto de exigências de carácter técnico, físico e psicológico que ainda não havia no futebol português. Pedroto lutou ao longo da carreira por um conjunto de medidas estruturais a começar pelas condições de trabalho para os jogadores, como campos para treino, equipamentos, e os cuidados médicos indispensáveis na alta competição. “Posso afirmar que Pedroto foi o meu primeiro professor de medicina desportiva na globalidade que esta especialidade abarca. Estava atento a tudo na minha área e aceitava tudo o que lhe propunha”, afirma Domingos Gomes, ex-médico do FC Porto.

O especialista lembra que na altura Pedroto “aceitou dar água aos atletas nos treinos quando na época se defendia que os jogadores não deviam ingerir líquidos durante as sessões”.

A luta pela classe de jogadores e treinadores

Pedroto era disciplinador e exigente mas por outro lado o maior defensor do grupo mesmo que essa defesa lhe custasse o lugar como aconteceu enquanto treinador do Vitória de Setúbal ao não concordar com o regulamento disciplinar imposto aos jogadores. “No caso de Setúbal e outros, Pedroto prescindiu da continuidade no clube em defesa do grupo e da classe. Era um homem avançado no tempo. Lutou muito pela carreira do treinador e pela dignificação da classe. É insuperável”, conclui José Pereira.

Ao longo da carreira de treinador, José Maria Pedroto orientou a selecção nacional, Académica, Leixões, Varzim, Porto, Vitória de Setúbal, Boavista e Vitória de Guimarães. O “Zé do Boné”, como também era conhecido, não deixava ninguém indiferente e é considerado um dos melhores de sempre da história do futebol português.


in "rr.pt"

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