Passam 30 anos sobre a morte de um dos mais carismáticos treinadores da
história do futebol português. Quem trabalhou com Pedroto, destaca os métodos e
as ideias adiantadas para a época.
Nasceu em Lamego a 21
de Outubro de 1928. Se fosse vivo teria 86 anos. José Maria Pedroto, um dos
mais carismáticos treinadores da história do futebol português, morreu vítima
de doença prolongada, na madrugada de 7 de Janeiro de 1985.
Como jogador, foi um médio talentoso, 17 vezes internacional e campeão no FC
Porto com Yustrich e Béla Guttman na segunda metade da década de 50.
Como treinador foi o primeiro a especializar-se com um curso em Paris em 1960.
“Nunca um português tinha tirado esse curso e Pedroto foi o primeiro
classificado”, enfatiza José Pereira, presidente da Associação Nacional de
Treinadores.
Pedroto enriquecia conhecimentos e valorizava competências no estrangeiro,
e “estendia os seus conhecimentos aos colegas de profissão. Foi o meu
examinador quando tirei o curso em 79. Orgulho-me porque em termos pessoais era
como se tivesse uma nota superior às dos outros que não passaram por ele”,
refere José Pereira, presidente da Associação Nacional de Treinadores.
Entre 1974 e 1977 José Maria Pedroto foi seleccionador nacional, e nos dois
anos seguintes, bicampeão nacional pelo FC Porto. Pelos portistas conduziu a
equipa à final da Taça das Taças de 1984, construindo com Pinto da Costa as
bases do título europeu em 1987.
O treinador avançado
no tempo
Pinto da Costa disse
um dia que Pedroto "nasceu muito à frente". Os jogadores que
trabalharam com o treinador subscrevem. “Estava avançado no tempo pela forma de
estar, de trabalhar e de pensar. Era um treinador de rigor e disciplina. Não
havia treinos a brincar”, destaca o antigo extremo esquerdo José Alberto Costa
que foi campeão nas Antas com Pedroto.
José Alberto Costa apresenta alguns exemplos das ideias novas que Pedroto
aplicou no futebol português. “Foi pioneiro nas equipas técnicas alargadas.
Desenvolveu as equipas médicas e também inovou na observação dos jogos e
registo das estatísticas. Foi importante também no desenvolvimento da cultura
do FC Porto. Teve lutas contra o regime de gestão colegial dos clubes. Foi o
primeiro a criar um departamento de futebol autónomo em relação a outras
secções. Essa realidade custou-lhe uma rotura com o Porto”, recorda.
José Maria Pedroto tinha ideias sobre futebol muito avançadas para a época. Foi
pioneiro na elaboração de relatórios de análise ao comportamento das suas
equipas e dos adversários. O Professor José Neto, na altura um recém licenciado
em Educação Física ,
foi o autor desses trabalhos. “Construímos as bases sistemáticas, com suporte
de observação e qualificação do jogo”. Disse na apresentação aos jogadores que
eu iria ajudar o grupo a ser campeão. Passou a estruturar o jogo na observação
qualificada. Foi pioneiro nesse aspecto”, sublinha.
José Neto revela que ao intervalo dos jogos, em pleno túnel, Pedroto “perguntava
tudo sobre os registos da equipa nas zonas do campo e aplicava esses elementos
como organização para a 2ª parte do jogo. Construía o jogo através do jogo.
Construía o jogo através do treino e o treino através do jogo”, observa o
antigo colaborador de Pedroto, actual docente universitário.
As medidas estruturais
implementadas por Pedroto
O “mestre” como era
apelidado pela imprensa, entendia que o profissionalismo precisava de um
conjunto de exigências de carácter técnico, físico e psicológico que ainda não
havia no futebol português. Pedroto lutou ao longo da carreira por um conjunto
de medidas estruturais a começar pelas condições de trabalho para os jogadores,
como campos para treino, equipamentos, e os cuidados médicos indispensáveis na
alta competição. “Posso afirmar que Pedroto foi o meu primeiro professor de
medicina desportiva na globalidade que esta especialidade abarca. Estava atento
a tudo na minha área e aceitava tudo o que lhe propunha”, afirma Domingos
Gomes, ex-médico do FC Porto.
O especialista lembra que na altura Pedroto “aceitou dar água aos atletas nos
treinos quando na época se defendia que os jogadores não deviam ingerir
líquidos durante as sessões”.
A luta pela classe de jogadores e treinadores
Pedroto era disciplinador e exigente mas por outro lado o maior defensor do
grupo mesmo que essa defesa lhe custasse o lugar como aconteceu enquanto
treinador do Vitória de Setúbal ao não concordar com o regulamento
disciplinar imposto aos jogadores. “No caso de Setúbal e outros, Pedroto prescindiu
da continuidade no clube em defesa do grupo e da classe. Era um homem avançado
no tempo. Lutou muito pela carreira do treinador e pela dignificação da classe.
É insuperável”, conclui José Pereira.
Ao longo da carreira de treinador, José Maria Pedroto orientou a selecção
nacional, Académica, Leixões, Varzim, Porto, Vitória de Setúbal, Boavista
e Vitória de Guimarães. O “Zé do Boné”, como também era conhecido, não deixava
ninguém indiferente e é considerado um dos melhores de sempre da história do futebol
português.
in "rr.pt"
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