sexta-feira, 13 de março de 2015

Rúben Neves. Finalmente, um adulto (no papel)

Médio lançado por Lopetegui na pré-época festeja hoje o 18.º aniversário. Tem 1253 minutos e prepara-se para jogar os quartos da Champions

Fazer 18 anos é o maior motor de lugares-comuns possível. É a idade em que todos dizem que já se pode tirar a carta, ser preso ou sair do país sem a autorização dos pais. Se a evolução for natural, alguém nascido a 13 de Março chega à idade adulta no 12.º ano. E, se for jogador de futebol, cumpre a primeira época de júnior. Mas isso é apenas o esperado, Rúben Neves é especial. É um dos raros exemplos em que o talento quebra barreiras e em que a idade adulta chega mais tarde no papel do que na vida real.

O médio de Santa Maria da Feira percebeu desde cedo que quando as oportunidades existem, devem ser aproveitadas ao máximo. Mesmo que isso aconteça por causa do azar de outros. Foi assim que, seis meses depois de ter feito um primeiro treino pela equipa principal do FCPorto com Paulo Fonseca, tornou-se aposta de Lopetegui para a pré-época. Os dragões estavam com demasiadas lacunas no meio-campo: Fernando tinha saído para o Manchester City, Casemiro ainda não tinha chegado, Mikel lesionou-se e Tomás Podstawski, júnior e visto como o próximo na linha de sucessão, estava no Europeu de sub-19. A escolha foi outra.

Rúben Neves nasceu a 13 de Março de 1997. O FC Porto ia a caminho do primeiro tricampeonato da sua história, sob o leme de António Oliveira, estava nos quartos-de-final da Liga dos Campeões e não teve sorte no primeiro jogo depois do nascimento: a 15 de Março, nas Antas, perdeu em casa frente ao Sporting por 1-2, numa partida em que os azuis e brancos alinharam com Hilário, Butorovic, Jorge Costa, Aloísio, Fernando Mendes, Barroso, Paulinho Santos, Edmilson, Zahovic, Drulovic e Jardel. No banco estavam Silvino, Sérgio Conceição, João Manuel Pinto, Rui Barros e Artur.

O agora adulto não tem forma de se lembrar desse jogo mas cresceu com a memória das grandes vitórias e títulos dos dragões. O quarto estava repleto de posters de jogadores do FCPorto e com seis anos, na era em que Mourinho conquistava a Europa, Rúben Neves começou a jogar no Lusitânia de Lourosa. A mudança para o clube dos seus sonhos chegou dois anos depois e desde aí só houve uma pequena interrupção para alinhar emprestado no Padroense, equipa com ligação histórica aos dragões nas camadas jovens. Antes, em Julho de 2011, o sonho foi assumido no Facebook:“Sempre foi e será cantar este lindo hino [doFC Porto] no estádio do Dragão perante 50 mil pessoas. Mas, para isso, a dedicação, o empenho, a atitude, a garra, a vontade, o espírito de sacrifício e o espírito de grupo têm de estar sempre comigo.” E estiveram. Sem eles, não teria conseguido convencer o treinador espanhol.

Ascensão rápida O médio começou a dar boas indicações logo na pré-época, brilhou no jogo de apresentação frente ao St. Étienne e já nem a ameaça de Casemiro parecia poder tirá-lo do lote de escolhas de Lopetegui. O internacional sub-17, sem um único jogo pelas equipas seniores do FCPorto (duas vezes no banco nos B sem ser utilizado em 2013/14), estava preparado para dar o salto mais importante da carreira. Tinha apenas 17 anos e 155 dias e foi titular na estreia do FC Porto no campeonato, em casa, frente ao Marítimo.

Rúben Neves dividiu o trabalho do meio-campo com Óliver e Herrera e cumpriu o sonho perante 48036 espectadores. Sim, com a assistência a acabar em 36, o número da sua camisola, por culpa de ter marcado o primeiro golo do encontro, aos 11 minutos. Mas as marcas e os recordes não iam ficar por aí. Apenas cinco dias depois, em França, viajou como menor de idade e voltou a desempenhar um papel importante no sector intermédio dos dragões na vitória sobre o Lille por 1-0. No mês seguinte, saltou dos sub-17 para os sub-21 e estreou-se na vitória sobre o Azerbaijão por 3-1. O primeiro golo por esse escalão apareceu em Outubro, no playoff frente à Holanda.

A carreira de Rúben Neves estava lançada e não havia forma de dar volta atrás. É certo que já teve períodos menos eficazes, também provocados pela irregularidade das escolhas do espanhol – tanto era utilizado como médio mais recuado ou como médio de transição – mas continua a fazer parte do lote de apostas. Casemiro, Herrera e Evandro são os actuais donos do meio-campo mas Rúben Neves joga há seis encontros consecutivos – cinco como suplente utilizado e um como titular (fora com o Boavista). E é um jogador para todas as competições: tem 722 minutos no campeonato e é o 14.º elemento mais utilizado, à frente de Quintero, Evandro, Adrián e Aboubakar, por exemplo. Na Liga dos Campeões soma 247 minutos, na Taça de Portugal jogou a segunda parte frente ao Sporting na única partida que os dragões fizeram na prova e na Taça da Liga leva 239. Tudo junto perfaz exactamente 1253 minutos, todos eles antes dos 18 anos.

Julen Lopetegui tem gerido o talento da melhor forma possível, reclamando o mérito que merece e desvalorizando aquele que não lhe cabe. “Rúben Neves? Não descobri nenhum jogador. Aliás, ninguém descobre jogadores, é mais um jogador do FCPorto”, afirmou logo a seguir ao triunfo frente ao Marítimo em Agosto. Mais recentemente, no início do Fevereiro, exaltou-se para negar que haja favorecimento a jogadores que custaram mais dinheiro ao clube [Gonçalo Paciência saiu da convocatória para a entrada de Aboubakar]. “Para que fiquem tranquilos, quero que o Gonçalo fique cá muitos anos. Fui eu que não quis que ele saísse no Verão e agora em Janeiro. E fui eu que apostei em Rúben Neves.”

juventude em marcha O português participou em 18 jogos pela equipa principal dos dragões, tem 1253 minutos e já disputou os oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Tudo isto antes de fazer 18 anos. Este não é o primeiro caso de talentos precoces a despontar nos grandes portugueses, com nomes como Cristiano Ronaldo, Ricardo Quaresma,Simão Sabrosa, Hugo Leal, Luís Figo, Paulo Futre ou Chalana em destaque.

 O que tinha cada um feito antes de festejar a entrada oficial na idade adulta? Ronaldo tinha 1019 minutos pelo Sporting (incluindo uma pré-eliminatória da Liga dos Campeões)e estreou-se a marcar com mais 89 dias do que Rúben Neves. Quaresma só tinha 268 minutos (um jogo na Taça UEFA) e ainda não se estreara a marcar. Simão Sabrosa marcou na estreia tal como o portista mas com 17 anos e 197 dias. Até fazer 18, somou 293 minutos e dois jogos na fase de grupos Liga dos Campeões. Finalmente, para encerrar o capítulo nos leões, Paulo Futre tinha 837 minutos, estreando-se mais velho e marcando com mais perto dos 18, enquanto Luís Figo tinha apenas 120 minutos, sem marcar qualquer golo pela equipa.


O  primeiro exemplo do Benfica ganha outro destaque porque implica um jogador que também actuava no centro do terreno e não encostado a uma ala. Hugo Leal foi mais precoce na estreia, defrontando o Sp. Espinho com 16 anos e 335 dias mas não foi aposta tão frequente como Rúben Neves, uma vez que disputou apenas 131 minutos até festejar o 18.º aniversário. Já Chalana, um exemplo mais antigo, estreou-se com 17 anos e 25 dias e foi sempre a somar, com 1576 minutos antes de fazer 18 anos. Pelo meio, dois jogos na Taça dos Campeões Europeus. É o único que “ultrapassa” Rúben.

in "ionline.pt"

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