domingo, 12 de setembro de 2010

F.C. Porto-Sp. Braga, 3-2 (crónica)



Há uma teoria interessante defendida no mundo da psicologia. Dizem os entendidos que os pacientes mais felizes são aqueles que acreditam piamente que o são. Parece simples e pode muito bem ser aplicado a esta equipa do F.C. Porto. A redoma de felicidade que envolve os dragões é a principal arma do séquito de Villas-Boas. É também este estado de euforia a principal explicação para o triunfo por 3-2, diante de um Sp. Braga pintado de candidato ao título da cabeça aos pés.

Entre a urgência e o prazer, o Porto faz pela vida e consolida uma liderança indiscutível. Não há tempo para conversas inúteis sobre questões laterais, nem desculpas que soam a cliché estafado e perdido nas agruras do tempo. Neste Porto o pensamento esgota-se na busca da vitória.

Felicidade e pensamento, a alma infinita e a capacidade de ser racional sob pressão. É assim a natureza de um organismo selvagem, bárbaro, por vezes insidioso. Num serão reservado a candidatos ao título, preenchido por cenas feéricas e um espectáculo venial, saiu por cima o que se agarrou à felicidade e ao pensamento.

Na cabeça de Hulk mora a esperança do dragão

O relvado do Dragão parecia um jardim de chalet suíço. Palco idílico, encrostado na encosta de um campeonato que só agora começa a ascensão ao topo. O pontapé de Luís Aguiar abriu as hostilidades e quebrou o protocolo inicial. As equipas deixaram-se de cerimónias típicas de canapés e boas maneiras, entregaram-se à luta, desapertaram a gravata e amachucaram a camisa.

Os Destaques do jogo

A Ficha do jogo

Os donos da casa sentiram-se ofendidos. Encostaram o dedo à testa do visitante abusador e puseram tudo em pratos limpos aos 33 minutos. Hulk agitou as hostes sobre a direita, levantou a cabeça verde de esperança e encontrou Varela ao segundo poste.

Um a um no marcador, o paraíso para o adorador do bom futebol. Bom futebol, grande futebol.

Dois Titanics em choque ao som de violinos

Eram dois Titanics gigantescos, frente a frente, choque esperado. A intensidade e a dinâmica faziam adivinhar o naufrágio de um dos contendores. No filme multi-premiado por Hollywood, a banda toca violino enquanto a embarcação se afunda, na tentativa de enganar com arte um destino facínora.

No Dragão foi um pouco do mesmo. O teor bélico do duelo era pintalgado por notas artísticas, de violino ou de pés afinados. Sabia-se que alguém ia cair, naufragar na ditadura do resultado. Foi o Sp. Braga a morrer, apesar do tremendo pontapé de Lima, que a 30 minutos do fim colocou o F.C. Porto de colete salva-vidas e muita aflição.

Daqui para a frente, tudo foi Porto, tudo foi categoria de uma equipa que toca violino enquanto sofre. A reacção foi violenta, castigadora.

Uma realidade demasiado boa para ser real

Um toque em habilidade de Alvaro Pereira e uma escorregadela de Elderson deixaram Hulk de frente para o golo. O brasileiro, num pontapé que mais parecia um fuzilamento, deixou o marcador em 2-2 e a multidão em euforia.

Havia mais a chegar, ainda antes da embarcação bracarense submergir. Silvestre Varela na esquerda, a driblar para o meio e pontapear para o golo. O Porto resgatava-se das brumas, de uma água gélida, e abria em definitivo uma vantagem gigantesca sobre os três restantes candidatos ao título.

O Sp. Braga, apesar da bela exibição, fica a cinco pontos; o Sporting a seis e o Benfica a nove. Demasiado bom para ser verdade.

A felicidade e o pensamento do F.C. Porto dançam ao som de violinos.

in "maisfutebol-iol-pt"

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