Ser treinador de futebol aos 32 anos não é para qualquer um. Ser treinador de um grande clube aos 32 anos é ainda menos provável. Ser treinador principal do FC Porto, lutar pelo título português e começar uma temporada com nove vitórias consecutivas parece impossível para quem tem apenas 32 anos. Mas não é. André Villas-Boas é o novo rosto do Dragão e está a justificar plenamente a enorme fé e confiança que dois grandes nomes do futebol mundial tiveram nele.
O FC Porto é líder isolado da Liga ZON Sagres. São cinco vitórias consecutivas no campeonato sob o leme do novo treinador, às quais se juntam a conquista da Supertaça Cândido de Oliveira, frente ao campeão nacional Benfica, e mais três triunfos na UEFA Europa League. Um pleno de sucessos na primeira grande aventura de André Villas-Boas como treinador principal, um primeiro desfecho para uma história recheada de improbabilidades e coincidências felizes.
O percurso de Villas-Boas no futebol começou em 1994, quando tinha apenas 16 anos. Não como um jogador predestinado a ser um estrela, já que era apenas um jovem que adorava futebol, que queria tirar um curso de educação física e sonhava vir a estar, um dia, envolvido no desporto do qual tanto gostava. E o destino deu uma ajuda.
Sir Bobby Robson era, por essa altura, o treinador do FC Porto – clube com o qual conquistou dois títulos portugueses – e da equipa técnica do inglês fazia parte, como tradutor, um tal de José Mourinho. Robson não demorou a entusiasmar todos os adeptos portistas, mas havia um que não estava totalmente de acordo com as opções do técnico inglês.
Habituado a vibrar, durante muitos anos, com os golos do avançado Domingos – actual treinador do Braga -, André Villas-Boas não percebia como é que o ponta-de-lança passava tanto tempo no banco de suplentes. Foi quando deu o passo que mudou a sua vida. Aproveitando o facto de viver no mesmo prédio do treinador britânico e demasiado tímido para o abordar directamente, Villas-Boas decidiu escrever uma carta a explicar as razões do seu descontentamento e colocá-la na caixa de correio de Robson.
E o antigo seleccionador inglês gostou do que leu, já que, alguns dias depois, falou com o miúdo André e desafiou-o a começar a recolher dados estatísticos dos jogos do FC Porto para comprovar as suas teorias sobre Domingos. E os relatórios elaborados por Villas-Boas eram tão completos que Robson o convidou a estagiar nas equipas técnicas das camadas jovens do clube portista, além de convencer a começar a tirar o curso de treinador de futebol.
Dois anos depois, Bobby Robson e José Mourinho rumaram ao FC Barcelona, mas Villas-Boas continuou a trabalhar nos escalões de formação do FC Porto onde, em 2002, voltaria a encontrar José Mourinho.
Ainda não era o Special One, mas Mourinho dava os primeiros passos rumo ao estrelato e contava com Villas-Boas para lhe dar uma mãozinha. Responsável pela observação dos adversários, viveu de perto as vitórias na Taça UEFA (2003) e na Liga dos Campeões (2004), mantendo-se nas equipas técnicas de Mourinho durante as passagens pelo Chelsea e Inter de Milão.
Mas Villas-Boas queria mais e, em Outubro de 2009, tornou-se treinador principal da Académica, mantendo a equipa de Coimbra no principal escalão do futebol português e, mais importante do que isso, colocando os estudantes a jogar um futebol atractivo.
Despertou o interesse do Sporting e do FC Porto, acabando por rumar ao Dragão onde procura, agora, seguir os passos dos seus dois grandes mentores. Tanto Bobby Robson, falecido em 2009, como José Mourinho foram bicampeões no FC Porto, uma coincidência que André Villas-Boas não se importaria, certamente, de repetir, mas com um estilo muito próprio.
É que, enquanto grande parte dos treinadores tem como objectivo treinar nas grandes ligas europeias, o treinador portista pensa noutras paragens para o seu futuro. “Gostava de treinar na Argentina, no Chile e no Japão”, disse, recentemente, André Villas-Boas. Mas esses objectivos ficam para mais tarde. Agora, é tempo de procurar manter o registo 100 por cento vitorioso no FC Porto e, quem sabe, igualar os títulos obtidos pelos dois mestres na Cidade Invicta.
in "fifa.com"
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