O FC Porto de Villas-Boas ficou-se pelas 11 vitórias. A décima segunda esteve-lhe nas mãos, mas dois erros do mesmo jogador - Fucile - complicaram-na demasiado, até para as actuais capacidades da equipa, que ontem, apesar do empate, deu algumas demonstrações de força nos vários planos do jogo. Não ajudou nada aos projectos do dragão é que o Guimarães tivesse feito o mesmo, ao oferecer uma resistência táctica e física que este FC Porto talvez não tivesse tido ainda oportunidade de conhecer esta época.
Em número de esboços de golo, dificilmente Villas-Boas conseguiu, apesar de tudo, tantas situações em qualquer outro dos 11 jogos. Por outro lado, também poucas vezes abanou tanto na defesa, na qual voltou ontem a fixar a dupla de centrais Ronaldo-Maicon e trouxe de volta Fucile - um penálti que Xistra não viu, um erro que valeu o empate ao Guimarães e, por fim, a inconsciência do amarelo que já lhe constava no cadastro quando se lembrou de pontapear Faouzi, por trás, bem longe da área. Reduzir um jogo tão cheio a estes incidentes seria, no entanto, uma grande asneira.
Contra o FC Porto do costume, ressalvadas as mudanças já referidas, Machado dispôs Cléber a trinco, dois médios-interiores, João Alves e Edson, e depois um elevador, João Ribeiro, destinado a levar jogo aos avançados Edgar e Toscano o mais depressa que lhe fosse possível, enquanto atrás dele as linhas se apertavam tanto quanto pudessem para reduzir o espaço de circulação aos médios e avançados do FC Porto. O esquema aguentou-se bem até que, por motivos não muito claros - estancar as subidas de Álvaro Pereira? -, o treinador sacou Edson ao jogo e fez entrar Pereirinha para o lado oposto. Três minutos depois, Hulk, o jogador a cuja cobertura Edson dava uma mão, esgueirou-se por entre os dois marcadores que sobravam e deu a vantagem ao FC Porto, assinalando também o início de uma outra etapa, mais longa, em que o jogo passou a obedecer por inteiro às directivas de Villas-Boas. Para azar de Machado, aos 23' fora o Guimarães a fracassar de forma mais flagrante na estratégia que tinha para o golo, quando Toscano estragou o contra-ataque perfeito (ver filme do jogo).
No momento em que Faouzi empatou, 33 minutos depois, as bases do confronto eram outras. O Guimarães concentrava-se ainda mais, embora do modo como as víboras se encolhem, sempre pronto a saltar para o ataque em poucos segundos e com um número assinalável de jogadores para quem se fechava tanto, mas o FC Porto estava a sair-se bem na tarefa de reduzir essas ocasiões ao mínimo. Até que a incapacidade de Fucile para lidar com um despejo para a área voltou a transtornar a partida. Sendo verdade que Faouzi, muito veloz, era provavelmente uma carta-chave de Machado para o jogo de ontem, não seria aquela a jogada em que este esperava vê-la resultar.
As inclusões de Flávio Meireles no Guimarães, para completar uma linha de quatro médios muito recuada, e depois de Guarín no FC Porto, a fim de procurar, pelo músculo, fazer valer todos os minutos que havia por jogar, deram à partida - já antes longe de estar amigável - contornos muito duros e de uma competitividade no limite, que, contudo, não impediram os dragões de se reerguerem e voltarem a cair sobre o Guimarães, agora com mais vontade. Sem marcar, acusaram o veneno dos contra-ataques do adversário no único deles que se viu, praticamente desde o empate: Fucile expulso. Novo abanão e novo regresso pouco depois, quando Faouzi se lesionou e deixou o Guimarães com tantos jogadores como o FC Porto. Até ao final, viveu-se e sobreviveu-se sempre na área da equipa da casa, lance atrás de lance, alguns deles muito perto do pretendido.
No fim não há como censurar nem uma equipa nem a outra. O mérito do Guimarães, quer na organização quer na atitude, atenua muito a primeira perda de pontos de Villas-Boas, e as reacções da equipa deste, sobretudo pelos resultados práticos - com um pouco mais de sorte, podia ter voltado a desfazer o empate -, também são um dado positivo a retirar do jogo. E vão dar jeito: depois do Guimarães, é natural que o FC Porto comece a encontrar adversários mais agressivos, contra os quais será mais difícil tentar o já habitual exercício de gestão que, ainda ontem, pode ter contribuído para algum adormecimento.
in "ojogo.pt"
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