Este F.C. Porto não é criação de Coppola, mas adora o cheiro a napalm pela manhã. E ainda mais pela noitinha, principalmente se a vítima for o Benfica. Os dragões inspiram bem fundo o odor a destruição, à glória entranhada no oponente esmagado. Nunca o Apocalipse (Now) terá servido tão bem para desenhar o quadro actual dos homens da Luz: humilhados, enfraquecidos, agonizantes. A dez pontos do primeiro lugar da Liga.
O 5-0 reflecte na ajustada medida a diferença entre Porto e Benfica. Os primeiros latejam felicidade, qualidade, alegria, paixão. Os segundos vestem de vermelho, embora aparentem estar no velório do próprio féretro. Aliás, não se percebe muito bem se o Benfica morreu aos bocadinhos a cada golo do Porto, ou se já terá vindo morto de Lisboa. Pormenores.
O Clássico foi desequilibrado de princípio ao fim, tão desequilibrado que chegou a meter dó. Entre muitas culpas próprias e mérito admirável do adversário, o Benfica de Jesus começa a despedir-se do título ainda antes do Natal. Uma patologia que anos a fio atormentou os vizinhos da Segunda Circular. Mas esses não fazem parte deste filme.
A conquista ao som da Cavalgada das Valquírias
Há um leitmotiv, uma repetição a remoer o argumento do jogo. A cada arrancada de Hulk, a cada recepção e drible de Belluschi, a cada movimento viperino de Falcao, ecoa A Cavalgada das Valquírias. É essa a banda sonora do jogo, a ode da conquista do adversário, do avanço pleno em direcção ao contendor escondido, atemorizado. Em 1979 numa brilhante revisitação cinematográfica ao Vietname, agora num campo de futebol.
Mundos tão díspares e, ainda assim, tão aproximados em 90 minutos. No lugar de helicópteros a potência de Varela, ao invés das metralhadoras a mira teleguiada de Radamel Falcao e a potência incontrolável de Hulk.
Cinco golos, quatro rajadas a deceparem o rival. 12 minutos. Hulk troca as voltas a David Luiz e serve Varela; 25 minutos, Belluschi deixa David Luiz para trás e cruza para o calcanhar acrobata de Falcao; 29 minutos, Belluschi arranca, deixa Sidnei nas covas e assiste Falcao; 79 minutos, Hulk faz de penalty o quarto; 89, uma vez mais Hulk.
Erros e mais erros na abordagem de Jesus
Depois dos factos, a interpretação dos mesmos. Jorge Jesus meteu os pés pelas mãos, apostou em Sidnei no centro da defesa, derivou David Luiz para a esquerda e deixou Saviola no banco. O que quereria com isto o treinador? Complicar, por certo, adensar as dúvidas em relação ao que ainda pode fazer pelo Benfica e no Benfica.
Foi mau, foi péssimo, foi uma vergonha a imagem deixada pelos campeões nacionais. Caíram a pique, reagiram com a inércia de um sonâmbulo e a delicadeza de um zombie. Foram uma caricatura ridícula daquilo que é uma equipa de futebol e viram o capitão a ser o primeiro a abandonar o barco. Sim, Luisão foi expulso por tentativa de agressão a 20 minutos do fim.
Estamos em Novembro, quarto mês de competição. Serão as saídas de Ramires e Di María ou a pré-época atípica as únicas responsáveis por tudo isto?
O bom futebol é sempre uma excelente opção
A 20 rondas do fim é insensato endereçar as faixas de campeão ao F.C. Porto. Mas insensato também é não dizer que só uma hecatombe vai impedir que tal aconteça. André Villas-Boas edificou uma equipa fortíssima, inteligente e que sabe muito bem o que quer de cada partida.
Todos jogam de olhos fechados e a pensar no golo. Avassaladores, decididos a resolver rapidamente, harmoniosos e cientes de que o bom futebol é sempre um excelente ponto partida para mais conquistas.
O F.C. Porto é uma equipa feliz e nota-se. O Benfica parece abandonado e é impossível não reparar. Resta saber se alguém lhe dá a mão.
in "maisfutebol.iol.pt"
1 comentário:
http://www.youtube.com/watch?v=QTRyurl7Y3s
abraço
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