Este Dragão não é só Hulk. Atrás mora uma defesa que só sofreu quatro golos em dez jornadas
Jorge Jesus nem dormiu a pensar em Hulk, e em conversas com a almofada tentou magicar a melhor forma de o parar. Entre uma volta e outra na cama, apostou em David Luiz: a coisa deu para o torto. André Villas-Boas agradeceu o brinde de Jesus e dormitou descansado após a noite no Dragão. "Apostou-se em demasia no duelo com o Hulk", disse.
O que é este FC Porto? Assim de chofre, este FCP é Hulk, sim, porque não há forma de contornar (os adversários bem tentam) um arranque de época de super-herói, com 15 golos em 16 jogos; e o FC Porto é Hulk com os seus comparsas, Varela e Falcao, que juntos somam 22 dos 25 golos da equipa na Liga. Mas atribuir o sucesso portista exclusivamente ao trio é redutor. E injusto, a dois níveis. Primeiro, para os rivais, que carregam às costas a responsabilidade de perderem um jogo num um-contra-um; segundo, para os colegas de equipa, que vêem o trabalho de sapa reduzido a pó. É a velha história dos ataques que ganham jogos e das defesas que conquistam campeonatos. E se os olhos estão postos no três lá da frente, é lá atrás que está o ouro sobre azul: em dez jornadas, o FCP sofreu quatro golos - em comparação, o Benfica-campeão de 2009/10 encaixou sete no mesmo número de rondas. A Lazio, que lidera o Calcio, já sofreu oito; o Dortmund, que domina a Alemanha, sete em 11 jogos; o Real Madrid, cinco; e o Chelsea também (com mais uma jornada cumprida).
PRESSÃO ALTA E BOLA Mas, caramba, o FC Porto não tem Casillas, Maicon, Carvalho (bom, este já o teve), Pepe (idem) ou Ashley Cole. Tem Helton, Sapunaru, Rolando, Maicon e Álvaro Pereira, e destes quatro, o mais reputado é o defesa- -esquerdo uruguaio. De resto, temos um homem-elástico que não era indiscutível com Jesualdo; um romeno dado a bebedeiras e que agora senta Fucile; um português mais discreto que a própria sombra (e que era a sombra de Bruno Alves); e um brasileiro que põe um tal de Otamendi no banco. André Villas-Boas, que prefere motivar a dar a táctica, fez destes quatro uma muralha mas o segredo não está só neles - os três que estão uns metros à frente dão uma ajudinha.
Quando André Villas-Boas (AVB) entrou no balneário do FC Porto disse no balneário que as coisas iam mudar: a equipa dele tinha de ter a bola e se não a tivesse conquistá-la-ia pela pressão alta. Com Jesualdo, o FCP defendia com um bloco mais baixo e privilegiava o contra-ataque, as transições rápidas; com AVB, os portistas adiantaram-se no terreno (Fernando é o caso mais paradigmático) e puseram-se do lado de lá, no campo do rival. Moutinho e Belluschi encostam-se aos adversários mordem-lhes os calcanhares - o número de recuperação de bolas de ambos equivale ao de um trinco -, e procuram anular a circulação de bola de quem lhes está pela frente. Frente ao Benfica, Javi García deu pouco mais do que dois, três toques seguidos sem ter alguém por perto a impedi-lo de prosseguir a jogada ou sem ouvir André Villas-Boas, como um zé-sempre-em-pé (como Zé Mourinho há uns anos), a gritar: "Vai, vai, pressiona-o!"
E o que resulta disto? Helton faz cada vez menos defesas porque o perigo, cada vez mais, está longe da zona de tiro; a defesa respira e o FCP não encaixa golos. Parece a lógica da batata, mas não é qualquer um que põe Belluschi a acirrar os colegas para defender. É preciso que alguém acredite.
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