sexta-feira, 5 de novembro de 2010

FC Porto, versão anos 60. Falido mas sempre digno

Um dirigente pediu ajuda financeira ao rival Benfica e foi despedido. Mas foi a receita do clássico de 3 de Abril de 1960 que salvou o FCP


Henrique Dias Faria tem 96 anos e é o sócio número um do FC Porto desde 13 de Maio de 2010. Por influência de familiares e amigos, fez-se sócio em 1931. Nessa altura o FC Porto tinha 6500. Quinze anos depois, no pós-guerra, a instituição cresceu para os 8 mil. Mas outros 15 anos a seguir a situação era bem mais grave do que se imaginava. Viveu-se uma crise financeira e de identidade. Entre 1959 e 1960, período em que se sagrou campeão nacional pela última vez antes de uma seca de 19 anos, o FC Porto perdeu 7 mil sócios. Luís Ferreira Alves, o presidente, demitiu-se e lamentou-se no seu último dia: "O FC Porto paga mal a quem o serve." Era a verdade nua e crua. Os jogadores de futebol, para citar só a modalidade mais badalada, tinham já 500 contos de ordenados em atraso. E o passivo do clube ascendera a 5834 contos. Quem tomou conta destas dívidas foi uma comissão administrativa presidida por Ângelo César.

Em finais de Março de 1960, às portas de um FC Porto-Benfica para a 23.a jornada do campeonato nacional, os portistas estavam neste caos. Daí que Aníbal Abreu, dirigente azul e branco, tivesse enviado da Urgeiriça um telegrama a Maurício Vieira de Brito, presidente do Benfica, a sugerir que os encarnados prescindissem da sua parte da receita a favor do desvalido FC Porto. Ao ter conhecimento (às 19 horas do dia 30 de Março) do insólito pedido, Ângelo César reagiu de pronto, com um outro telegrama que funcionou como um boomerang: "Acabo de tomar conhecimento do telegrama enviado ao presidente do Benfica. Rogo V. Exa. apresente pedido de demissão por esta via. Se não, demiti-lo--emos. O FC Porto, embora atravesse uma situação francamente delicada, não precisa de pedir esmolas. A atitude do sr. Aníbal Abreu deixou-nos a todos indignados e o Benfica terá achado o seu pedido uma autêntica loucura, um disparate sem pés nem cabeça."

A 3 de Abril de 1960, o tal clássico, entre o campeão em título e o futuro campeão, curiosamente com Bela Guttmann nos dois lados. Antes do pontapé de saída, Ângelo César foi ao balneário da sua equipa e pagou todos os ordenados em atraso. Aquilo funcionou, sim senhor, mas foi preciso um final à Hitchcock para resultar. É que aos 87 minutos o FC Porto perdia 2-0 em casa, para satisfação de Guttmann, que trocara o azul pelo vermelho no Verão de 1959. Golos de Cavém (11'') e Mário João (85'') traduziam a superioridade do Benfica, quando os locais empataram por Roberto (87'') e Humaitá (90''). Nas bilheteiras, os adeptos deixaram 780 contos. O FC Porto recolheu os 490 contos que lhe couberam e enviou para Lisboa a percentagem que cabia aos rivais: 155 contos. Feitas as contas, restabelecido o orgulho. O sr. Henrique Dias Faria sabe do que estamos a falar.

in "ionline.pt"

2 comentários:

Unknown disse...

Gostei do artigo. Nem fazia ideia de tal situação.
Mas Domingo vai ser para ficar com 10 de diferença!!!!!
Força Porto Olé!

P. Ungaro disse...

tambem achei extremamente interessante por isso o publiquei

um abraço