A 13 de Janeiro de 1978, na véspera de um jogo na Luz, o Zé do Boné lançou a famosa frase. O FC Porto empataria 0-0 e sagrar-se-ia campeão nacional em Maio desse ano
"O verdadeiro calcanhar de Aquiles do nosso futebol reside no simples facto de quase todos pensarmos que, quando saímos dos estádios, já não somos profissionais de futebol."
"Estamos na mediania no conceito europeu. Relativamente ao futebol de alta competição, temos meia dúzia de jogadores com grande classe."
"As gentes do Porto são ordeiras porque, se não fosse, há muitos anos teriam recorrido à violência perante os enganos dos árbitros que têm decidido da perda de muitos campeonatos e Taças de Portugal."
"No FC Porto, os problemas não se levantam porque nunca chegam a existir."
"É tempo de acabar com a centralização de todos os poderes da capital."
"Passamos de pombinhos provincianos a falcões moralizados."
"Não tenho dúvidas de qualquer espécie de que ao Artur Jorge não faltará onde trabalhar e que, em qualquer parte, triunfará. Mas também acredito que vai ser no FC Porto que ele acabará por se revelar como um homem predestinado para a direcção e comando de equipas de futebol."
"Não vai ser preciso nenhum milagre para que o FC Porto alcance finalmente o título que ambiciona há anos."
Tudo isto é José Maria Pedroto, no FC Porto. Polémico óbvio, mestre indiscutível. Até aos anos 70, nunca um treinador português aquecera tanto o ambiente futebolístico como o Zé do Boné, que suscitava paixões no Norte e semeava ódios no Sul - em 1980, numa final da Taça de Portugal, adeptos do Sporting juntaram-se aos do Benfica para se atirarem a Pedroto com vários cartazes trocistas espalhados pelo Jamor.
Mas nunca uma frase de Pedroto ganhou tanta vida e repercussão como a proferida a 13 de Janeiro de 1978 numa conferência de imprensa improvisada nas Antas, na véspera do clássico com o Benfica. "Temos de lutar contra os roubos de igreja no Estádio da Luz." Era o sinal aberto da guerra contra o poder institucional de Lisboa, que, desde 1959, açambarcava todos os campeonatos nacionais, com maioria benfiquista sobre os sportinguistas (14-4).
Até que se chega à época 1978/79. Pela primeira vez em 19 anos, o título nacional escapou à habitual dupla de Lisboa e foi para o Norte. O FC Porto pôs termo a um prolongado jejum e a proeza coube a José Maria Pedroto, que, curiosamente, pertencera ao plantel que havia arrebatado o último título de campeão em 1959, como jogador.
Agora, na qualidade de técnico, Pedroto bate a concorrência - Mortimore (Benfica) e Paulo Emílio/Rodrigues Dias (Sporting) - , com apenas uma derrota (0-2, no Estoril) em 30 jornadas. Depois, a uma série de 13 vitórias consecutivas, interrompida em Portimão (0-0), seguiram-se mais dois empates, com Benfica (1-1), no jogo do título, e Académico (0-0), para fechar com uma goleada frente ao Braga (4-0), na derradeira ronda, em jeito de São João antecipado. Gomes, com 25 golos, 16 deles na segunda volta, foi o melhor marcador da 1.a divisão.
Rui Tovar in"Ionline.pt"
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