domingo, 3 de abril de 2011

FC Porto. Um campeão às claras contra um Benfica às escuras

O campeonato acaba como começou. Para quem não se lembrava, o Benfica tem um guarda-redes que se chama Roberto, espanhol bipolar capaz de defesas incríveis e frangos do outro mundo. O início da temporada tinha dado a conhecer a sua pior faceta - Roberto foi principal protagonista naquela fase de derrotas consecutivas que hipotecou o campeonato - mas o final voltou a defini-la. E de que forma! O mais caro guarda-redes da história do Benfica marcou um golo na própria baliza (pior do que muitos frangos, porque desviou um cruzamento de Guarín) e com aquele lance, logo aos nove minutos, puxou para si a cruz da perda do campeonato. Será que alguma vez se vai livrar dela? Os benfiquistas devem desejar que sim, mas também deviam esperar que a equipa fosse capaz de olhar o FC Porto olhos nos olhos e jogar no meio-campo adversário, a pressionar, de forma consistente, como fazia na época passada. Sim, porque ontem à noite o onze de Jorge Jesus não sofreu apenas o azar do guarda-redes que tem, sofreu com a asfixia imposta pelos dragões, que entraram posicionados em cima da área encarnada, sem dar espaço para respirar, com Guarín a cavalgar o meio-campo e João Moutinho a ajudar à festa; Hulk lançou-se para cima de Fábio Coentrão (sem fazer estragos mas a não deixar estragar) e Varela brincou com Airton, porque o médio não tem pedalada para fazer de Maxi Pereira (lesionado). A isso tudo juntou-se uma defesa incapaz de errar de forma grave, ao contrário da que estava do outro lado. Depois, o meio-campo defensivo do Benfica era pouco mais do que Javi García e, com Aimar, Salvio e Gaitán entalados malha azul e branca, não havia tempo ou espaço para construir. A solução era o passe bombeado, ou seja, era entregar a bola ao adversário, para desespero de Jara (Cardozo ficou no banco) e Saviola.
Com aquela obra-prima de Roberto, o FC Porto, que entrou melhor, tinha tudo gerir o jogo e fazer a inédita festa no Estádio da Luz. Estava certo. A surpresa foi o Benfica arrancar um penálti logo de seguida (Otamendi cometeu mesmo falta sobre Jara?) e empatar o jogo. Menos mau. Teríamos uma reviravolta? Não, porque apesar de os encarnados subirem no terreno (e na qualidade ofensiva), os dragões responderam logo com o 2-1, golo de grande penalidade convertida por Hulk, depois de... Roberto, quem mais, fazer a típica falta (sobre Falcao) de um guarda-redes que vive fora de tempo. Antes do intervalo, Saviola teve uma boa oportunidade e o jogo virou para uns últimos 15 minutos de equilíbrio, onde apenas se viu Roberto defender (tremido) um remate de Guarín.
Na segunda parte, Jorge Jesus lançou César Peixoto (o início do fim de Aimar?) e Cardozo (estaria a ser poupado para a Liga Europa?), mas a intensidade baixou. Foi como se o resultado fosse imutável, parecia que ninguém acreditava ser possível a reviravolta. Os jogadores do FC Porto é que não a queriam, claro, e tiveram três bolas de golo, uma delas desperdiçada de forma inacreditável por Falcao, que foi isolado para a baliza como se não existisse defesa do Benfica. A noite voltaria a animar com a expulsão de Otamendi (dois amarelos espremidos, o do penálti e o da obstrução a Cardozo) e em superioridade numérica o Benfica teria ascendente. Cardozo e Coentrão tiveram o golo na cabeça, Salvio atirou ao poste, mas todos falharam.. Quem sabe, seria o empate caseiro mais saboroso da história do Benfica, mas afinal foi um dos títulos mais festejados do FC Porto, porque a última vez que tinha acontecido na casa do Benfica foi em 1939/40. É histórico, mas há mais. O FC Porto segue sem derrotas na Liga e apesar de ontem alguém ter desligado a iluminação do estádio da Luz, no momento da festa, mais uma vez passeou a superioridade às claras.

in "ionline.pt"

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