O ar de miúdo transfigurado por uma enorme alegria ficará para a história da noite em que o FC Porto de André Villas-Boas conquistou a primeira final portuguesa da Liga Europa. Na euforia da vitória, depois dos saltos no relvado, o treinador portista de 33 anos multiplicou-se em declarações num tom que as circunstâncias raramente permitem. Embora felicíssimo pela conquista do Porto, falou como um embaixador do futebol português, do "imenso talento" que possui e das virtudes que esta final pôs em evidência, mais no percurso até Dublin do que nos 90 minutos finais. "Notou-se nas equipas alguma intranquilidade e procuraram ambas um jogo muito directo e muito agressivo, que não representa o futebol português, e isso é de lamentar", defendeu, admitindo que isso "não é nada de novo nas finais", e que se foi impondo na história desta, pela vontade dos protagonistas: "Gostávamos que não tivesse acontecido dessa forma, mas, não nos conseguimos encontrar, porque o Braga teve uma pressão bem executada e agressiva, sempre no seu bloco compacto, e os espaços eram difíceis de encontrar. O Braga procurava encontrá-los à profundidade, nós um pouco mais pelo chão, mas também com muita dificuldade, portanto, fica esse registo de uma final que podia ter sido um pouco melhor em termos de espectáculo, mas, de grande alegria, pela conquista do troféu". "É, sem dúvida, um grande prémio, e falta apenas um troféu para uma época memorável".
Perseguido pelas proezas de José Mourinho, a André Villas-Boas foi, repetidamente, sugerido o desafio de apontar a Liga dos Campeões como próxima meta, mas este recusou sempre. "Isso são feitos inacreditáveis, que aconteceram uma vez e dificilmente se passarão de novo", avisou, firme: "Não é um objectivo atingível". Mais do que projectar novos triunfos, ontem, foi tempo de saborear o prémio do tremendo esforço que custou o troféu erguido em Dublin: "É algo que conquistámos com muito trabalho, repare-se na quantidade anormal de jogos que fizemos neste percurso na Liga Europa, fase após fase, sempre a acreditar mais, sempre com esse sonho presente, e também essa obrigação, pois o palmarés do FC Porto obriga a isso. Felizmente, conseguimos conquistar o troféu". "O FC Porto torna-se um clube ainda mais especial, adiciona um troféu ao seu palmarés, é algo que nos orgulha bastante", sublinhou André Villas-Boas, que fez questão de definir essa alegria como um "sentimento colectivo": "O que se passou é fruto de muito esforço. Uma equipa é todo um conjunto de homens e mulheres que se esforçam, do topo da pirâmide, desde o presidente, até cá em baixo. Há muita gente a trabalhar para que tenhamos um dia-a-dia óptimo e eles são decisivos neste triunfo". Vencer é verbo primordial, entre os portistas, e o jovem treinador não escondeu o orgulho por ter sabido conjugá-lo tão bem, numa época que ainda tem mais um troféu para discutir. "Fomos conquistando tudo com muito talento, muito talento conjunto, que nos deu este maravilhoso troféu, que nos encaminha para uma Supertaça europeia e nos deixa este grande desafio com o Guimarães. Em toda esta euforia, ainda temos de encontrar força e concentração para disputar uma grande final, que, seguramente, vai ser muito difícil", lembrou, adiando esse tema para amanhã: "Agora, temos de viver esta euforia. Não acontece muitas vezes na vida. Sexta-feira, concentramo-nos para tentar desafiar o Guimarães pela conquista da Taça. É mais uma ambição e não será nada fácil", declarou, antes de saciar a curiosidade dos jornalistas estrangeiros. Contou-lhes que o "segredo do FC Porto" é a "organização": "Dá-nos tudo para termos sucesso". Confrontado com o assédio do mercado, consequência do sucesso, o treinador portista considerou-o normal. "Os jogadores do FC Porto vão ser assediados, estão na mira da Europa", reconheceu, com esperança de que as "cláusulas elevadas" que os protegem possam travar o apetite do mercado, em tempo de crise.
in "ojogo.pt"
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