Dois clubes em estado de graça, duas instituições reflectoras da idiossincrasia das cidades representadas. Reportagem-Maisfutebol sobre a ligação profunda entre dragões e «culés»
Porto e Barcelona, cidades apaixonadas por futebol e pelos seus clubes mais representativos. Cidades que se escutam e admiram, ainda que separadas por milhares de quilómetros. De onde surge esta cumplicidade? O que une, afinal, uma e outra urbe? De que forma essa reciprocidade é transportada para o futebol e, já agora, não será o próprio futebol o elemento fecundador de toda a ligação?
As perguntas enleiam-se entre o óbvio. O facto é indesmentível e até repercutido nas palavras de André Villas-Boas. Numa época dourada para F.C. Porto e F.C. Barcelona, o treinador não deixou de assumir uma evidência partilhada pela esmagada maioria dos seus conterrâneos.
«O adepto portista, e eu enquadro-me aí, sempre se identificou mais com o Barcelona do que com o Real Madrid. O Barcelona, pelo que representa, pela forma como cresceu dos anos 70 para a era da modernidade, pelas lutas que teve de enfrentar com os clubes da capital, desperta um sentimento especial da cidade do Porto», referiu Villas-Boas numa recente conferência de imprensa.
Impulsionado pelas palavras do técnico dragão, o Maisfutebolaprofundou a análise e escutou mais duas individualidades perceptoras desta similitude entre as dues ciutats. Perdão, entre as duas cidades. A mesma luta, la mateixa lluita, como sugere um vídeo posto a circular na internet, é realidade ou é fruto apenas do radicalismo natural vivido nos campos de futebol?
«Poços de amor e morte das populações»
Miguel Guedes, jurista e vocalista dos Blind Zero, é um observador atento e, sobretudo, um adepto fiel. «Há ligações fortes. As gentes das duas cidades amam o futebol e possuem uma ligação umbilical com os seus clubes», começa por referir ao nosso jornal, antes de utilizar uma metáfora curiosa.
«Eu diria que os adeptos de Porto e Barcelona vivem num poço de amor e morte. São povos extremamente aficionados e capazes de tudo pelo emblema venerado. Partilham um sentimento, mais ou menos legítimo, de autonomia e essa harmonia é incorporada nos relvados.»
Também João Carlos Pereira encontra um paralelismo na mensagem e nas causas de Porto e Barcelona. O ex-treinador de Nacional, Académica e Belenenses estagiou com Pep Guardiola na Catalunha em Fevereiro de 2010.
«Há parecenças no grito de revolta ao longo dos tempos - desferido através do futebol - em relação ao poder central. A afirmação regional faz parte da raiz dos dois clubes, que o assumem frontalmente. Em Barcelona, isso sente-se na casablaugrana, claramente.»
«André e Pep privilegiam um futebol afectivo»
A simpatia, admiração e partidarismo serão testados a 26 de Agosto na Supertaça Europeia. Irá esta concórdia resistir a 90 minutos de altercação? Para Miguel Guedes, acima de tudo, haverá «um grande jogo de futebol» entre «duas das melhores equipas do mundo».
«Diria que o Man. United também merece estar neste lote. A grande diferença é que o orçamento do F.C. Porto é infinitamente inferior, o que torna heróico o feito da equipa. Espero poder estar no Mónaco e ver pela segunda vez ao vivo o Messi. A primeira foi na inauguração do Dragão. Ele tinha mais cabelo e estreou-se nesse jogo. No final disse que esperava voltar a jogar pela equipa principal do Barcelona. É uma frase espantosa vinda de quem veio», refere.
Para o músico, a proximidade ideológica entre as instituições estende-se a Villas-Boas e Guardiola. «São dois jovens mundividentes, sabem receber e oferecer. Não são nada tacanhos. Privilegiam um futebol afectivo, de posse e progressão. Sempre disse que o André é muito mais próximo do Pep do que do José Mourinho.»
in "maisfutebol.iol.pt"
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