quarta-feira, 22 de junho de 2011

Vítor Pereira, o treinador táctico (perfil)

Elogiado pelos antigos jogadores, o novo técnico do F.C. Porto percorreu uma carreira modesta como atleta até mergulhar nos livros... e nos conceitos de jogo


Natural de Espinho, onde nasceu há 42 anos, Vítor Pereira surgiu no futebol com um jogador mediano. Fez carreira em clubes secundários, mas sempre com um olho na carreira de treinador. Por isso, e ainda antes de pendurar as chuteiras, tratou de se inscrever na Faculdade de Educação Física.

Na faculdade conheceu Vítor Frade, que viria a ter uma importância decisiva no futuro. Para trás deixou uma carreira modesta em clubes como o Sp. Espinho, a Oliveirense, o Fiães ou o Avanca. «Era um médio com uma cultura táctica acima da média, mas não era nada dotado tecnicamente.»

As palavras são de Filó, também ele de Espinho, antigo colega e antigo capitão de Vítor Pereira. «Percebeu logo que ia ser melhor treinador do que foi jogador.» Por isso encerrou a carreira cedo. Mergulhou nos livros, interessou-se pela táctica e impressionou o professor Vítor Frade. 

Antes disso teve a ajuda de Artur Quaresma, amigo de longa data que lhe proporcionou a primeira experiência como adjunto no Gondomar. Tinha 27 anos. Mais tarde Vítor Frade coloca-o no F.C. Porto. Começou pelos sub-15 , onde orientou Caetano. «Já na altura se notava que era muito táctico», conta.

«Tínhamos 14 anos e ele já trabalhava todos os conceitos tácticos: posicionamentos defensivo e ofensivo, a defesa zonal, enfim, tudo. Nós olhávamos e pensávamos: o que ele está aqui a fazer? Via-se claramente que era bom de mais para estar nos iniciados», diz o extremo do P. Ferreira.

O futebol sénior e um discurso quase... arrogante

Por isso três anos depois tratou de arriscar o futebol sénior. A primeira experiência foi na Sanjoanense, onde foi substituir Luís Castro - o agora responsável pelo futebol juvenil do F.C. Porto tinha dado entretanto o salto para o Penafiel. Após um ano recebeu o convite do clube da terra. 

Em Espinho surpreendeu pelo tom do discurso: ousado. «Era um treinador exigente e que se preocupava muito em mostrar ambição. A mensagem que transmitia era de vitória e de quem queria chegar a níveis muito elevados», diz Filó.

O discurso audacioso, que chegava a parecer arrogante, vinha embrulhado em vários conhecimentos. «Aprendi muito com ele. Dominava todos os conceitos de jogo: posicionamentos defensivo, ofensivo, de posse de bola, pressão zonal. Enfim, aspectos que são a escola do F.C. Porto.»

Ora o F.C. Porto, precisamente, foi sempre a ambição de Vítor Pereira. Por isso, e depois de dois anos nos Açores, preferiu adiar a primeira experiência enquanto treinador principal da Liga (P. Ferreira e Académica chegaram a querê-lo), para regressar ao F.C. Porto, como adjunto de Villas-Boas.

Para trás deixou dois anos no Santa Clara profundamente cruéis: nas duas temporadas, falhou a subida na última jornada. Parecia um homem de pé-frio, ele que nunca alcançou um título enquanto treinador principal sénior, até que o convite de Antero Henrique para se tornar no adjunto da casa mudou tudo.

O regresso ao F.C. Porto e a escolha da continuidade

Ao lado de Villas-Boas, Vítor Pereira chegou a impressionar pelo protagonismo assumido nos treinos, por vezes superior ao do próprio chefe de equipa. Por isso, e quando em Dezembro lhe perguntaram que treinadores mais o seduziam, Pinto da Costa disse os nomes de Leonardo Jardim e... Vítor Pereira.

Orientar o F.C. Porto não é de resto completamente novo para o treinador: em Guimarães, em Alvalade e em Setúbal, quando Villas-Boas foi expulso, foi ele que ficou como chefe de equipa. De resto, a escolha para o ser em definitivo parece óbvia: é uma continuação dos conceitos tácticos de Villas-Boas.

Como o antigo chefe de equipa, também Vítor Pereira domina por completo os conceitos: periodização, controlo do espaço, zona pressing ou lado cego do adversário. Além disso está dentro do balneário. «Como pessoa é excelente. Excelente mesmo. Toda a gente gosta dele», diz Caetano.

F.C. Porto: uma viagem às ideias de Vitor Pereira

Estudo de um aluno universitário dá pistas sobre a filosofia do novo técnico portista.


Pinto da Costa não teve de afastar muito o olhar para encontrar o novo técnico. Uma vez mais, o presidente do F.C. Porto escolheu alguém que andou por perto nos últimos anos. Ainda antes de ser adjunto de Villas-Boas, Vítor Pereira já tinha trabalhado nos escalões de formação do clube. No dia em que foi eleito para o banco do campeão nacional, o Maisfutebol foi à procura de algumas pistas sobre a mentalidade deste técnico de 42 anos.

A pesquisa levou-nos até à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Alguns anos depois de se ter licenciado nesta instituição, Vítor Pereira contribuiu para o trabalho de um outro aluno. Em 2006, Pedro Batista decidiu analisar o Sp. Espinho, onde estava então o técnico. Embora a análise tenha cinco anos, e se tenha centrado na organização defensiva, permite retirar algumas ideias sobre a filosofia do novo treinador do F.C. Porto.

«Já fui um fundamentalista do ponto de vista táctico. Eu tinha ideias e queria, de facto, operacionalizá-las sem tentar colocar essas ideias ao serviço dos jogadores. Isso é um erro terrível que eu cometia, mas já não cometo. É muito importante perceber as características dos jogadores para as potenciar», disse Vítor Pereira na entrevista a que foi sujeito. «O modelo tem de ter flexibilidade no sentido de percebermos como é que ganhamos aqui», diz adiante, defendendo que «o fundamental é ter ideias e fazer os jogadores acreditarem nelas», acrescentou.

Vítor Pereira já se sentia um técnico diferente, nesta altura. Até na forma de conduzir o trabalho diário, que exigia aos jogadores que trabalhassem também a mente. «Não sou é, de forma alguma, um treinador passivo. Já fui mais activo do que sou hoje. Já caí no erro de conduzir sistematicamente o exercício, e isto é quase como tomar decisões pelos jogadores, e isso não posso fazer», disse.

Organização defensiva assente em dois conceitos

Quando a conversa se centra na organização defensiva, o então técnico do Sp. Espinho insiste em dois conceitos que devem andar de mãos dadas. «Referências de pressão: passe devolvido entre o central e o lateral, o passe longo do adversário, o passe devolvido entre o pivot defensivo e o central. São momentos que queremos aproveitar colectivamente para "saltar" em cima do adversário», exemplificou o técnico, antes de explicar o «lado cego». «É o aproveitamento de um mau posicionamento do adversário, de um deficiente ajustamento dos apoios na recepção da bola que normalmente "fecha" o campo.»

O segredo passa por encaminhar o adversário para um beco. Permitir que a bola chegue a determinado ponto, sabendo que aquele será o momento para agir. «Não quero uma equipa que pressione constantemente. Quero uma equipa que espera pelo momento certo para acelerar sobre o adversário em bloco, de perceber o momento colectivo de pressão. Quem pressiona sem cérebro, quem pressiona todas as bolas morre a meio do campo. Se eu pressionar cada saída de bola do adversário, chega a um ponto em que ele começa a bater a bola na frente, e assim nunca poderei exercer uma zona de pressão.»

Marcações individuais é que estão fora de hipótese. «Nunca, na minha vida, entendi a organização defensiva dessa forma. Se o adversário se apresentar com dois avançados, eu nunca na minha vida pedirei a um membro do sector intermédio para marcar um dos avançados», garantia então.

Mostrando-se mais capaz de se adaptar ao contexto, Vítor Pereira explicou as diferenças para a realidade que trabalhou na formação do F.C. Porto, e que não está assim tão distante do que tem sido apresentado pela equipa principal nos últimos tempos. «Fui habituado a trabalhar no F.C. Porto, durante cinco anos, com os melhores jogadores, e colocando o acento em dois momentos fundamentais do jogo: posse e transição ataque-defesa. Eu assim ganhava os jogos todos. Aqui não é assim.»

in "maisfutebol.iol.pt"

1 comentário:

Dragus Invictus disse...

Boa tarde,

Este é um grande voto de confiança num treinador jovem, que tem um percurso sempre em ascensão. Lembro-me dele treinar o Santa Clara, e ter feito um excelente trabalho, falhando por pouco a subida salvo erro em 2008/2009. Nesse ano acompanhei o Santa Clara porque tinha dois jovens valores do Porto, o João Dias e o André Pinto.

Nós adeptos confiamos nele, e penso que esta foi uma decisão correcta. O plantel conhece-o bem e assim não será mais um ano "instável" como em 2004/2005.

Para seu adjunto penso que deveríamos escolher algum ex jogador do Porto. Eu pessoalmente convidaria Rui Barros.

Abraço e bom S. João.

Paulo

pronunciadodragao.blogspot.com/