Christian Atsu, ou apenas Atsu, "porque Christian há muitos e eu não quero ser apenas mais um", só sorri quando lhe falam do Dragão de Ouro que receberá dia 24 deste mês ao lado de Hulk, James, Moutinho e Villas-Boas. "Quando me ligaram foi um choque. Fiquei muito excitado. Nem acreditava. Receber um prémio destes ao lado de tantos craques é especial", comentou ontem de manhã à reportagem de O JOGO.
A mãe foi a primeira a saber. Afinal, tem de lhe provar que as mentiras que lhe contou há vários anos atrás valeram a pena. "Ela dizia que a educação era a chave para a minha vida. Mas eu sabia que tinha talento. Tive de lhe mentir para jogar futebol. Dizia que ia ter com os meus amigos. Algumas vezes ela descobria, mas nunca me bateu. Gosta de mais de mim para fazer isso", brinca.
Atsu deu os primeiros pontapés com sete anos nas ruas de Acra, capital do Gana. "Jogava descalço. Todos os meninos jogavam descalços. Eu não ia ser diferente", explica. A partir dos 10 anos começou a participar em vários torneios de desporto escolar, mas sempre à sucapa da mãe, que só lhe pedia para estudar, à imagem do que fazia a irmã gémea, hoje em vias de se tornar enfermeira.
Com 15 anos, um olheiro do Feyenoord (não o clube holandês, mas um ganês) propôs-lhe um primeiro contrato para se fixar na academia do clube. Teria direito a escola e a 200 euros por mês. "Por haver escola, a minha mãe lá acedeu. Estive lá três anos", lembra. Depois, as saudades foram mais fortes e mudou-se para o Cheetah, mesmo ao lado de casa. E nem Atsu sabia que seriam essas saudades a mudar-lhe a vida.
Ao fim de um mês, num jogo-treino, um empresário sugeriu-lhe vir três dias à experiência para o FC Porto, clube que conhecia porque em 2004 viu a final da Liga dos Campeões. Patrick Greveraars, ex-técnico dos juniores, apreciou-lhe as qualidades e Atsu ficou mais seis meses. Depois renovou e na época passada brilhou ao ponto de ter sido chamado por Villas-Boas para o último jogo da Liga. Ainda assim, o Dragão de Ouro "é uma surpresa". Mas também uma motivação. "Dá-me mais força para trabalhar de forma a regressar depressa", conclui o agora extremo do Rio Ave.
Liga à família cada dois dias
A afectividade que liga Christian à mãe e aos cinco irmãos (liga-lhes a cada dois dias) sempre foi grande, mas cresceu após a morte do pai. Os irmãos de Christian não lhe contaram que o senhor Atsu estava gravemente doente para que ele continuasse a render no Feyenoord. Descobriu nas férias e pouco depois aconteceu o inevitável. Hoje tem "muitas saudades" da mãe e está a tratar de a trazer a Portugal.
Jet Li e Chan entre orações
Rezar pode ser um passatempo como qualquer outro, quando se faz por paixão e na sequência de uma educação cristã muito vincada. Toda a sua família é assim e Atsu reza pelo menos ao acordar e ao deitar. "É um hóbi", afirma. Pelo meio vê muito cinema. Especialmente quando os filmes são de Jet Li ou Jackie Chan. "Sou um homem de acção", brinca.
Olímpicos estão na agenda
Jogar na Liga é um bom cartão-de-visita para que no futuro possa ser chamado à selecção olímpica do Gana. Este é um dos sonhos do portista, até porque em 2012 há Jogos Olímpicos e o ganês quer muito estar lá. "Estou a trabalhar para isso", confessou. Se chegar à selecção, será o terceiro jogador formado no Feyenoord a fazê-lo nos últimos tempos. Um deles, seu ex-colega, foi o melhor jogador do Mundial de sub-20 de 2009 e mudou-se para o Milan. Trata-se de Dominic Adiyiah.
in "ojogo.pt"
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