Uma vitória gorda de mais, que não esconde o essencial: a dor deste F.C. Porto não se cura só com gritos, cura-se também com carinho.
O que mais se notou, de resto, foi um par de berros que mudaram a postura da equipa. O primeiro grito tornou-se óbvio com a divulgação das equipas: Vítor Pereira deixava no banco João Moutinho, Guarín e James, mais Otamendi e Kléber, numa revolução que mudava quase metade da equipa.
A mensagem era óbvia, o treinador estava descontente com a equipa e a culpa era dos jogadores. Até porque tacticamente, por exemplo, mantinha tudo na mesma. O segundo grito percebeu-se nos primeiros minutos, na forma como a equipa corria, lutava e pressionava muito à frente no campo.
O descontentamento do treinador, portanto, fazia efeito e a equipa abandonava aquela passividade que tanto irritou os adeptos frente ao Apoel. Mas apesar disso, volta a referir-se, nem tudo foi perfeito: sobretudo quando tinha a bola, a equipa demonstrava extremas dificuldades em criar perigo.
Faltava-lhe criatividade, faltava-lhe imaginação, faltava-lhe a alegria, lá está, que torna mais simples o futebol. Basta olhar para a forma como encaminhou a vitória: no primeiro golo Defour conta com um desvio fundamental em Neto para bater Marcelo, no segundo Walter marca em fora-de-jogo.
A primeira parte, de resto, sublinhou apenas mais um remate perigoso de Belluschi e um penalty não assinalado sobre Sapunaru. Foi tudo o que o F.C. Porto conseguiu construir e foi muito pouco. Com mais sorte do que arte, tinha a vitória orientada, mas nem isso sossegava os espíritos.
É aqui que se volta ao início e ao essencial: este F.C. Porto não se cura só com gritos. Cura-se com carinho, com confiança, com um cafuné que lhe restitua o fogo da paixão pelo futebol, e pelas coisas simples do jogo: pela dinâmica, pela imaginação, pela capacidade de tornar o futebol escorreito.
Mesmo na segunda parte, mesmo quando a vitória estava mais segura que uma barra de ouro em Fort Knox, nunca se libertou para minutos de verdadeiro fulgor. Fez o terceiro por Sapunaru em nova bola parada e aproveitou as auto-estradas que se abriram para marcar o quarto por Kléber e o quinto por Hulk.
Isto tudo, de resto, perante um Nacional demasiado receoso. Os madeirenses ameaçaram em três contra-ataques, estiveram aliás perto de marcar, mas também eles ofereceram pouca audácia a um jogo monótono: até nas bolas paradas guardaram Danielson atrás, ele que é dos melhores cabeceadores.
Ora por isso, repete-se, a vitória do F.C. Porto foi gorda, muito gorda, aliás, mas não encheu o olho vista de fora: foi apenas extremamente concretizadora. Mas já é alguma coisa, é verdade, serve para manter a liderança e serve para construir uma base que, com o tal carinho, afastará as dúvidas.
in "maisfutebol.iol.pt"
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