O histórico capitão sabe que não foi o melhor jogador da história do clube, mas fala de um pedestal quando o tema é a mística do dragão.
Impôs a condição de ser capitão para jogar nesta equipa?
Não, quero é divertir-me com pessoas que ganharam coisas ao serviço do clube no passado. Temos de agradecer ao FC Porto por nos ter arranjado esta brincadeira e é bom que os mais jovens possam ver jogadores que só conhecem de ouvir falar.
Fugir com a taça será mais complicado num pavilhão?
Essa história tem muitos anos, mas continuo a dizer que foi como se o meu pai me tivesse dado a primeira prenda. Não a queria dar a ninguém, nem aos meus amigos. Nos outros títulos, quase nem toquei nas taças.
Suponho que não conte jogar de dedos partidos ou ter de pintar as meias...
Espero bem que não. A história é esta: parti o dedo pequeno do pé direito e tanto o treinador como os médicos me disseram para esquecer, que não dava para jogar. Eu disse que jogava e joguei: cortei a bota para o dedo ficar de fora e pintei a meia, que era branca, de preto, para que os adversários não dessem por ela. Naquela altura ganhávamos jogos pelo valor que tínhamos, mas acima de tudo pela capacidade de sacrifício pelo clube.
Até onde ia esse sacrifício?
Na véspera de um jogo contra o Estoril, estava com gripe e cheio de dores nas costas, até me custava a respirar. Fomos para estágio e nem sequer me conseguia deitar, foram precisas três pessoas, incluindo o massagista, o Zé Luís, para me pôr na cama. Eu perguntava o que era e só me diziam que devia ser uma costela partida, mas queria jogar. Ligaram-me o peito e fiz o jogo todo, acho que ganhámos por sete e mandámos o Estoril para a II Divisão. O problema é que as dores aumentaram e no dia seguinte estava no Hospital de Santa Maria, de onde passei para o São João. Fui operado a uma infecção na pleura, estávamos em 1986, ano de Mundial, e os médicos disseram para tirar o cavalinho da chuva que não podia jogar mais. A minha resposta foi que iria ao México e o mais suave que eles disseram foi que eu era maluco.
Jogou 16 anos na equipa principal do FC Porto, mas o futebol mudou desde então. Acha que a mística mudou também?
Não quero criticar o tempo actual, mas antes a mística era outra. Jogávamos dez portugueses e um estrangeiro, mas a Lei Bosman mudou tudo. A mística foi passando e acho que o FC Porto ainda é um clube diferente dos rivais, os jogadores aprendem depressa que ser do FC Porto é ser contra tudo e contra todos, temos de fazer mais sacrifícios do que os outros.
Qual é a sua camisola mais antiga?
Nos dois primeiros anos, no tempo do Herman Stessl, era júnior e treinava com os seniores. Não era convocado, porque só eram chamados 16. Quando o senhor Pedroto regressou de Guimarães, tinha o hábito de convocar 18 jogadores. Uma vez, íamos jogar ao campo do Salgueiros, ainda pelado, e o senhor Pedroto, a 1h15 de o jogo começar, anunciou a equipa e escolheu-me para defesa-esquerdo. Lembro-me dessa camisola, foi o jogo que me deu a titularidade.
Ficaram famosas as suas calinadas. Como lidou com isso na altura e como lida com isso hoje?
Sou o primeiro a acatar com os erros que cometo, mas há algumas calinadas que nem sequer são minhas. Dá para rir, preferia que não acontecesse, mas é um dos motivos para que falem de mim ainda hoje. Se é para levar como humor, fico satisfeito, falam de mim porque fiz muito pelo FC Porto e pelo futebol nacional.
"Espero que Danilo justifique a camisola"
Danilo ficou com a camisola 2. Sendo um reforço, ainda jovem e vindo do Brasil, não há um corte face a uma linhagem de jogadores como João Pinto, Jorge Costa ou Bruno Alves?
Eu passei a camisola e a braçadeira ao Jorge Costa e fiquei contente que o clube tenha decidido assim, porque se calhar significa que tive alguma importância, não fui mais importante do que os outros, mas dava tudo pelo clube. Não conheço bem o Danilo, mas vi-o jogar e gostei muito. Pode ser o melhor lateral-direito em Portugal e um dos melhores do mundo, não o conheço como pessoa, mas espero que trabalhe para justificar aquela camisola.
Treinador à espera de uma chamada
Com um percurso sempre associado ao FC Porto, João Pinto ganhou asas na época passada, quando assumiu o Covilhã. Uma experiência que guarda positiva e que, diz, só correu mal devido ao presidente, José Mendes. "Gosto do futebol e de treinar. Tive uma passagem menos boa pelo Covilhã, mas só por causa de quem está à frente do clube. Na cidade, a única pessoa com quem me zanguei foi o presidente, que se calhar nem vive na Covilhã. Respeito as pessoas e fiz amigos", lembra, ansioso por uma nova oportunidade. "Estou à espera que o telefone toque. Sou humilde e gosto de trabalhar", diz quem continua a actualizar-se e a viver em função do futebol.
João Pinto
IDADE 50 anos
CARREIRA NO FC PORTO De 1981 a 1997
NÚMEROS NO CAMPEONATO
407 jogos; 87 golos
TÍTULOS 1 Taça Intercontinental, 1 Taça dos Campeões, 1 Supertaça Europeia, 9 Campeonatos Nacionais, 4 Taças de Portugal, 8 Supertaças Nacionais
in "ojogo.pt"
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