segunda-feira, 5 de março de 2012

"Somos melhores do que o Benfica"

Ao terceiro ano no FC Porto, a primeira entrevista. MAICON não tem tiques de vedeta. O golo ao Benfica fê-lo saltar definitivamente para a ribalta e entender a dimensão do que é ser jogador do FC Porto. Vencer em casa do Benfica é um prazer especial, admite, e diz ter sido a prova em campo do estatuto de melhor equipa portuguesa que Jorge Jesus reclamou para a sua algumas vezes. Ele é também a prova de que a persistência pode vencer a crítica
Maicon não hesita quando fala e assume sem rodeios sonhos que há alguns meses poderiam parecer brincadeira. Em estado de graça, contesta quem diz que a época não está a ser boa e defende com toda a força o clube que deseja, um dia, capitanear. O problema, garante, foi a fasquia colocada na época passada...


O golo ao Benfica foi o mais importante da sua carreira?

Sem dúvida. Valeu uma vitória que nos levou à liderança isolada e foi o meu primeiro num clássico. Vai ficar marcado na minha vida. Sonhei com isto durante toda a carreira. Estou numa fase excelente. Os meus colegas e os treinadores têm-me apoiado ao máximo e isso ajuda bastante.

Além dos golos, nunca tinha tido uma sequência tão boa de jogos. Este é também o seu melhor momento?

Acho que sim. Estou numa fase muito boa. Tenho feito boas exibições, não só eu como a equipa toda. Apanhei o FC Porto num momento crescente. A equipa está agora muito compacta e todos estão a ajudar.

Tem noção de que nunca foi tão consensual e famoso como agora?

Sim. Agora senti mesmo o que é ser jogador do FC Porto. Para um defesa é mais difícil ser estrela...

Jorge Jesus disse que o Benfica é a equipa que melhor joga em Portugal. Vítor Pereira acha que no final é que se vê. E a sua opinião, qual é?

Desde a época passada, e mesmo noutras anteriores, eles dizem que são os melhores. O FC Porto não tem de falar, mas sim trabalhar. Estamos a mostrar dentro de campo, e já ao longo de muitos anos, quem são os melhores. Acho que o FC Porto está num momento muito bom.

Considera injustas as críticas recebidas em determinada fase da época?

Pegaram um pouco pesado connosco. A equipa estava num momento de adaptação. Houve uma mudança de treinador, que ao longo do tempo foi acertando, e graças a Deus encontrou a equipa ideal. Ele está com o grupo e o grupo está todo com ele. As críticas são naturais, porque no ano passado fizemos uma época inesquecível.

Não concorda, então, que este FC Porto seja mais fraco que o da época anterior...

Não. Somos os mesmos. São fases. Nem sempre tudo dá certo. Há jogos difíceis e, por termos feito uma época tão boa no ano passado, os adversários estão mais preocupados connosco e jogam mais recuados. Isso prejudica-nos.

Sentem mais respeito dos adversários do que há um ano, é isso?

Sim. As equipas defendem do meio para trás e roubam-nos espaços. Isso prejudica o futebol da nossa equipa.

Depois desta vitória na Luz, criou-se uma grande euforia. O título está garantido?

O futuro só Deus sabe. Vamos dar o melhor e, se depender de mim, dos colegas e treinadores, os adeptos podem esperar muito trabalho. Depois desta vitória, só pensamos no título. Mas, como Hulk disse, temos nove finais.

E qual delas será mais complicada?

Todas. Não faço distinção. Todas as equipas terão receio do FC Porto, porque sabem que estamos num momento bom.

Na época passada o Maicon começou como titular, mas depois perdeu o lugar para Otamendi. Porquê?

Eu procuro fazer o meu trabalho. Não tinha perdido quando saí da equipa, mas respeito as opções do antigo treinador. Só tenho de lhe agradecer as oportunidades que me deu. Graças a Deus dei a volta por cima e consegui novamente o meu lugar.

Este ano aconteceu o mesmo...

É uma opinião do treinador. Ele tentou o melhor para a equipa. Eu continuei firme e a trabalhar até aparecer nova oportunidade. Quando chegou, agarrei-a com unhas e dentes.

Ao longo deste tempo nunca pensou em sair do FC Porto para jogar mais?

Claro que não! Mesmo não estando a jogar, o FC Porto sempre me apoiou bastante e acreditou no meu potencial. Isso foi fundamental.

A que se deveu a quebra entre a altura em que perdeu o lugar para Otamendi e o regresso às primeiras opções?

Também tive problemas fora de campo. Tive um divórcio muito conturbado e isso prejudicou-me. Além de várias lesões no tornozelo. Nada que me possa desculpar. Se joguei mal foi por minha culpa, mas,se não aconteceu o melhor, não foi por não querer. Porém, dizem que joguei mal na época passada e só perdi um jogo como titular. Dei a volta e agora, junto com a equipa, estamos em grande.

Mas o Maicon já foi um dos elos mais criticados. Como lidou com isso?

A crítica só me fez crescer e ajudou-me a chegar onde cheguei. Soube absorver as críticas e dei a volta por cima. As críticas vieram por bem e em nenhum momento fiquei chateado.

E Vítor Pereira, mereceu ser criticado?

Não, claro que não. Ele não teve culpa de nada. O futebol tem fases. Na época passada conquistámos tudo e claro que a cobrança agora iria ser maior. Está a fazer um bom trabalho e toda a gente vê que está a crescer a cada jogo.

Prepararam este jogo com o Benfica de forma diferente?

Não. Clássico é clássico, mas preparámos como qualquer jogo. Claro que tem um sabor especial...

O Benfica tinha uma vantagem de cinco pontos e os adeptos acreditavam que o título não lhes fugiria. Isso reforçou a vossa motivação?

Sem dúvida que nos ajudou e deu-nos mais ânimo para ir jogar lá. Há 12 dias eram líderes, com cinco pontos de avanço. Depois ficaram iguais e sabíamos que se ganhássemos teríamos três de avanço. Isso foi importante para nós.

Acredita que o FC Porto é mais forte psicologicamente do que o Benfica?

Com toda a certeza. Provámos isso dentro de campo.

Têm festejado muito na Luz. Acreditam que isso tem influência no Benfica quando recebe o FC Porto?

Todas as equipas têm medo de jogar com o FC Porto. Independentemente de ser casa ou fora. Todos respeitam o FC Porto.

Mas é capaz de ser um sítio muito especial para ganhar...

Com certeza. Sem dúvida que, nos últimos jogos, [o Estádio da Luz] tem sido um um lugar muito bom para festejar.

"Villas-Boas? Só pode ter sido culpa dos jogadores"


André Villas-Boas foi hoje [ontem] despedido do Chelsea. Surpreendido?

Sim, um pouco. Vivia um momento difícil, mas não podemos esquecer que é um excelente treinador. Teve um começo de carreira brilhante aqui no FC Porto. É um treinador e um amigo muito querido por todos. Tenho a certeza de que todos os portistas ficaram muito tristes com a notícia.

Como é que se explica que, depois de um ano tão bom no FC Porto, agora tudo lhe tenha corrido mal?

É como eu disse a propósito da época atual do FC Porto: há alturas em que as coisas simplesmente não correm bem. Ele tinha no Chelsea um plantel de nível mundial, com internacionais por seleções de nível superior. O treinador não tem culpa; os jogadores são os principais responsáveis. Se o Villas-Boas escolhe bem a equipa e tem grandes jogadores e as coisas não correm bem, então concluo que os jogadores têm muita culpa.

E gostava de voltar a trabalhar com ele?

Agora o Vítor Pereira é que é o meu treinador. Se voltasse a trabalhar com Villas-Boas, iria gostar de certeza. Mas não há porque pensar nisso. Dou-me muito bem com o Vítor, que é um homem sério e trabalhador. Não acho que faça sentido falar em Villas-Boas , ou num regresso, porque o Vítor Pereira está muito bem e não precisamos de um novo técnico. Independentemente do que fizemos na época passada, o atual treinador também está muito bem.

Admira Bruno Alves e Rolando e quer ser a próxima referência


Há quem compare Maicon com Pepe, mas é de Bruno Alves e Rolando que o brasileiro mais gosta entre os centrais que o antecederam no clube. "Pepe só se for pela aparência, pois somos os dois carecas [risos]. Como jogadores somos diferentes. E eu não procuro espelhar-me em ninguém, apenas trabalhar para ser eu", frisou. "O Bruno Alves era um modelo para mim. Felizmente tive o privilégio de trabalhar com ele. Mas o Rolando também é uma referência", revela, embora negando que seja ao seu lado que prefere jogar. "Desde que esteja entre os titulares, qualquer um serve", riu-se. No futuro, gostaria de usar a braçadeira de capitão e, à semelhança de muitos outros centrais do passado recente do clube, tornar-se um símbolo. "Espero ser o próximo a tornar-me uma referência. Vou dar o máximo para isso", garantiu.

Guerreiro inspirado no filme "300"


Além da religião, é no cinema que Maicon carrega baterias quando não está a treinar. Recentemente gostou de o "Cavalo de Guerra", de Steven Spielberg, mas é outro filme bélico que está no topo das suas preferências: "300." A película, realizada por Zack Snyder, conta a história de um pequeno exército de 300 espartanos que enfrentaram e venceram dezenas de milhares de guerreiros do Império Persa e prova a importância da união e a garra na disputa de qualquer batalha. É muito daí que vem a inspiração do portista e a imagem de guerreiro implacável quando está a jogar. Apesar da preferência, Maicon vê qualquer tipo de filmes.

"Ainda agora fico receoso antes de ouvir onde vou jogar"


É curioso que tenha recuperado um lugar a central depois de boas prestações a lateral. Foi uma surpresa essa adaptação?

Sem dúvida. Nunca tinha jogado a lateral. Jogar num clube de dimensão mundial, numa posição que não é a minha, foi uma surpresa muito grande. Mas estou à disposição para jogar em qualquer posição. Não tenho medo.

Foi sendo preparado para isso ou ficou completamente surpreendido quando Vítor Pereira comunicou a equipa em Olhão?

Fui tendo alguma preparação. Ainda agora, em todos os jogos, fico receoso antes de ouvir onde vou jogar [risos]. Mas o mais importante é jogar...

Não parece gostar de ouvir o treinador dizer que vai ser lateral...

Gosto. Estar entre os onze do FC Porto é sempre uma satisfação muito grande.

Que lhe disse Vítor Pereira, quando lhe comunicou pela primeira vez essa decisão?

Perguntou-me se estaria à disposição para ser lateral e eu respondi: 'Claro. Sou profissional, tenho contrato e o que você precisar de mim, pode contar. Darei o máximo para ajudar.'

Hoje já se sente um lateral ou ainda acha estranho aquele espaço?

Eu sou central. Mas, se me colocarem a lateral, faço com muito orgulho e darei o melhor.

Não lhe custa ouvir críticas pelo desempenho numa posição que não é a sua, sabendo que se está a sacrificar pessoalmente pela equipa?

Não acho que tenham sido injustos. Se acharam que joguei mal, é porque joguei mal. A partir do momento em que assumo a responsabilidade de jogar a lateral direito, tenho de ser lateral. Não me desculpo por não estar na minha posição. Eu sei que tentei sempre dar o melhor. Procurei defender mais do que atacar e fazer o que o treinador me pediu.

Ainda é muito difícil fazer a linha toda?

Claro. Estou acostumado a ficar atrás. Passar o tempo todo no flanco, ir e voltar, é difícil. Mas acho que até correu bem. Se tiver de ser, fico lá até ao final da época. Mas lembrando sempre que sou central, até porque como lateral não terei hipótese de chegar à seleção.

Um pastor pessoal guia-o no sucesso


Qual foi a primeira coisa que lhe veio à cabeça depois do golo ao Benfica?

Foi um momento marcante na minha vida e até já tinha comentado com a minha esposa que iria marcar. Mas foi de Deus que me lembrei imediatamente. Ele está presente em todos os momentos da minha vida. E pensei na vitória, pois faltava pouco tempo para terminar o jogo.

Já disse que agradeceu o golo a Deus. Agarrou-se também à religião nos momentos mais complicados da sua carreira?

Procuro muito Deus e, com tantos colegas em cima de mim, aquela foi a posição que encontrei para lhe agradecer o golo. Sem ele não estaríamos aqui nem seríamos ninguém. Acredito muito e rezo todos os dias. Aliás, tenho o meu próprio pastor evangélico.

Como assim? Um pastor "privado" ?

Não é bem privado. Ele tem uma igreja na Madeira. Chama-se Comunidade Evangélica da Ilha da Madeira. Conheci-o quando joguei no Nacional. Ajuda-me muito.

Ajuda-o como?

Vai a minha casa de 15 em 15 dias e lá fazemos o culto, mas falo com ele todos os dias por telefone. É uma pessoa que está muito presente na minha vida.

Em que consiste esse culto?

Falamos de tudo. Religião, Deus, vidas pessoais. É como se fosse um pai para mim. No culto, é aprofundada a palavra de Deus.

Ele disse-lhe alguma coisa especial antes do jogo com o Benfica?

Ele passa-me sempre muita energia. Ligo-lhe antes de todos os jogos para me abençoar. É uma pessoa muito querida.

Acredita que esse é o segredo da boa forma?

É o principal elemento desta minha fase, mas também o meu trabalho. Acho que mereço. Os meus companheiros e a equipa técnica também me passam energia positiva.

Há outros colegas a participar nesses cultos?

O Souza era o que mais participava. Em minha casa, geralmente, é só com a família, mas Fernando e Kléber também aparecem às vezes.

Teve direito a um insulto especial


Maicon reconhece que nunca foi tão famoso como agora e ainda durante a entrevista foi abordado por algumas pessoas que lhe fizeram questão de dar os parabéns. Aos autógrafos dados nos últimos dois dias perdeu a conta, mas há um insulto que não esquece. Uma benfiquista apanhou-o na rua e, depois de se queixar do golo em fora de jogo, ainda o mimou com um insulto valente. Maicon sorriu. Afinal, a reação devia-se ao facto de o FC Porto ter ganho...

"Tenho condições para jogar pelo Brasil"


A seleção brasileira é um objetivo assente na dimensão do FC Porto. "Quem joga aqui pode jogar em qualquer sítio", atira, ele, que olha para Hulk, Danilo, Alex Sandro e Kléber como exemplos de que o selecionador Mano Menezes está atento ao que acontece em Potugal. Mais do que um sonho, existe a real convicção de que não lhe falta valor para tal: "Agora estou numa fase boa e posso sonhar. Acho que tenho condições para jogar pelo Brasil. O FC Porto proporciona-me isso. Mas primeiro tenho de ganhar títulos e jogar sempre."

in "ojogo.pt"

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