A estranha noite em que o pé direito de Hulk foi rei
A atração pelo hostil impulsiona o F.C. Porto para um sítio melhor. É no grau máximo da dificuldade que a equipa se transcende: Luz e Braga são argumentos convincentes e frescos na memória. Grande resposta do dragão na pedreira, liderança consolidada e Hulk a resolver 90 minutos de história riquíssima.
Há uma pulsão que mexe a alma azul e branca, agita-lhe o orgulho e torna-a melhor. Sempre em campos de tormenta e sangue. Porquê? Os bons mistérios levam anos a serem decifrados. Mais fácil é registar o adeus minhoto ao título.
A quatro jornadas do fim, o Sp. Braga desaparece do retrovisor azul e branco. Os minhotos terão adiado, certamente, um sonho legítimo e ajustado. Duas derrotas consecutivas perante os dois mais sérios contendores evocam uma limitação que, por certo, Leonardo Jardim já terá sinalizado.
A palavra passa para o Benfica. Segunda-feira, em Alvalade, a margem de erro da águia é zero.
Voltemos aos entes estranhos do jogo. Hulk tudo solucionou da forma menos esperada. De pé direito, apenas pela terceira vez desde que está no Dragão.
Para se perceber o pasmo, podemos dizer que foi o mesmo que ver Guilherme Tell a acertar na maça de G3, Zorro desembainhar um lança-misseís ou Dirty Harry gritar «make my day, punk» de fisga na mão.
Uma impossibilidade, afinal, tão real. O golo surgiu aos 55 minutos, nasceu torto e acabou debruado da maneira menos previsível. Passe errado de Hugo Viana, que minutos antes falhara um golo certo, assistência soberba de James Rodríguez e arrancada estoica de Hulk até definir como lhe contávamos.
E se a forma poderá surpreender, o conteúdo não. O golo foi, aliás, a lógica de uma atuação autoritária, a fremir ardências e a delirar uma e outra vez amostras de beleza apreciável.
Exceção feita a um período inicial de registo xadrezista - Karpov e Kasparov pensativos numa mesa sensaborona - o F.C. Porto teve mais arrojo, mais ambição, mais qualidade. Lucho, de resto, anunciou por duas vezes no primeiro tempo o que aí vinha. Dois passes de Hulk, dois remates para defesa de Quim.
Isto, ainda antes do guarda-redes do Sp. Braga voar para a defesa do ano, da época, da vida. Bomba de Hulk e estirada extraordinária do internacional português.
Tudo isto eram indicadores preciosos do acosso azul e branco, interrompido apenas de longe a longe e quase sempre sem grandes motivos de alarme. A exceção será o tal falhanço de Hugo Viana, mesmo antes do único golo do jogo.
Sejamos claros: o F.C. Porto sai de Braga muito mais favorito ao título do que na hora da chegada. O desabrido de Hulk, o talento de James e a surpresa agradabilíssima de Steven Defour encobriram a queda física de Lucho, a noite fraca de Alvaro Pereira, a ausência de Fernando e um equívoco chamado Kléber.
Claro que o Sp. Braga tentou, arriscou na fase do desespero e teve fases interessantes. Tudo insuficiente para quem jogava a decisiva cartada na candidatura ao título. A cidade engalanou-se, o estádio exultou e esperou uma resposta que não surgiu.
Faltou a letalidade de Lima, a inteligência de Mossoró, a liderança de Alan. Faltaram demasiadas coisas para um jogo só. Restam as promessas e os sintomas animadores de uma temporada brilhante, ainda assim.
A noite foi do pé direito de Hulk e a arbitragem de Olegário Benquerença esteve em bom nível. Esta Liga é mesmo um lugar estranho.
in "maisfutebol.iol.pt"
4 comentários:
Boas
Foi um jogo equilibrado onde Hulk fez a diferença. Depois da vantagem gerimos bem o jogo. Vitória muito importante para a conquista do titulo, mas nada está resolvido. Ainda faltam 4 finais. Unidos venceremos!
Boa Páscoa
Abraço
http://100porcentodragao.blogs.sapo.pt/
Felizmente, com o tempo sensivelmente propício às tradições pascais, aqui no Douro Litoral e transição de Entre Douro e Minho, e com a grande vitória do F. C. Porto que consolida a liderança no campeonato português, esta Páscoa tem tudo para ser bem passada.
A Páscoa tem mais encanto, colorida de azul e branco!
Vitória justa e indiscutível do F.C.Porto, que se apresentou na "Pedreira" com o espírito certo, a lição muito bem estudada - Mossóro e Hugo Viana, por exemplo, não "jogaram"- e a mostrar que queria ganhar. Se mantivermos este carácter, se todos quiserem, se não houver comportamentos de primas-donas, o Bicampeonato pode ser uma realidade.
Uma palavra para Defour, que fez esquecer Fernando e a mostrar que jogando mais vezes, ganhando confiança, pode ser um bom substituto do Polvo.
Outra para Alex Sandro, também cumpriu, que não merecia aquela atitude do Palito que também o atingiu.
Com esta vitória e o Braga a 5 pontos, a Champions está quase, mas como para o F.C.Porto o segundo lugar, é o primeiro dos últimos, estamos no rumo correcto para o grande objectivo da época, a conquista do título. Fizemos a nossa obrigação, ao fazê-lo colocamos a pressão do lado de lá e agora vamos assistir, de palanque, ao Sporting/Benfica.
Desejo a todos uma Santa Páscoa
Abraço
@ Paulo
esta crónica do "menos futebol" é do mais abjecto que há. e (pres)sente-se uma certa azia com a nossa vitória ;)
abr@ço
Miguel | Tomo II
Enviar um comentário