Improvável, mas possível. Com sete golos nas últimas quatro jornadas, Hulk deu um pulo na tabela dos marcadores e está a um hat trick de Cardozo e Lima, os avançados que pareciam condenados a uma luta a dois pelo título individual que ainda pertence ao Incrível (23 remates certeiros em 2010/11). Hulk tem, pelo menos, o mérito de ser levado em consideração à entrada para a última jornada, podendo ser o primeiro goleador a repetir a distinção desde Jardel.
Para a disputa com o paraguaio e o brasileiro, serve de exemplo e de inspiração o feito de Benni McCarthy em 2003/04, quando assinou três golos na última jornada para ultrapassar Adriano (então no Nacional) e juntar o troféu de melhor marcador ao bicampeonato (outra coincidência) do FC Porto de Mourinho.
O sul-africano, hoje no Orlando Pirates, falou a O JOGO sobre esse feito e deixou uma dica a Hulk. "Quem sou eu para te dar conselhos, mas tem calma e pede à equipa que jogue para ti. Se estiveres ansioso vais atrair os adversários, eles sentem e caem logo em cima de ti", atira Benni, que não vê a ambição pessoal como um troféu fútil: "É ótimo para uma equipa ser campeã, ter o melhor jogador e o melhor marcador. Não acreditam? Perguntem ao Mourinho..."
Podíamos fazê-lo, mas McCarthy tem uma memória prodigiosa e recua com detalhe até àquela tarde de maio de 2004. "O Adriano, do Nacional, jogou antes de nós e marcou um golo, passando a ter mais dois do que eu. O Mourinho entrou no balneário e disse: 'Atenção, hoje é preciso que o Benni marque três golos. Quero ter o melhor marcador, por isso hoje mais ninguém marca golos, nem que o guarda-redes não esteja na baliza. Hoje é para jogar para o Benni.'"
Dito e feito. Os dragões venceram por 3-1 e McCarthy chegou aos 20 golos, ultrapassando assim o avançado que, pouco tempo depois, viria a ser seu companheiro no FC Porto. "Contado assim parece que foi fácil, mas eu até de pontapé de bicicleta marquei. E estivemos a perder. Depois empatei a passe do Maniche, fiz o 2-1 após centro do Nuno Valente, na tal bicicleta, e fechei com uma cabeçada após passe do Pedro Emanuel", evoca, com o detalhe que há pouco elogiávamos e que fica bem vincado na precisão com que relata cada lance.
Não é certo que Vítor Pereira tenha a obsessão individual que Mourinho teve há oito anos, mas pelo menos a discussão está aberta e Hulk não se fará rogado caso lhe peçam que entre na disputa.
Hegemonia também chegou aos goleadores
Antes de Gomes (melhor marcador pela primeira vez em 1976/77), o FC Porto não tinha o goleador do campeonato há 16 anos. Ora, esse período de seca é tão longo como a atual hegemonia. Nos últimos 16 campeonatos, o máximo artilheiro vestiu de azul e branco por nove vezes, com Jardel (4) a ser o único repetente de um lote que compreende ainda os nomes de Domingos (1995/96), Pena (2000/01), McCarthy (2003/04), Lisandro López (2007/08) e Hulk (2010/11).
Esta é a expressão de uma supremacia que é extensível aos troféus coletivos, mas que confirma o FC Porto como um colecionador de troféus que potencia o valor das suas individualidades. Hulk não terá vida fácil para repetir o feito da época passada e a última disputa do título de melhor marcador decidida sobre a meta não sorriu aos dragões, com Cardozo (26 golos) a ganhar a Falcao (25) no sprint final de 2009/10.
Com os 64 golos da equipa esta temporada a serem repartidos por 19 jogadores, é natural que o destaque individual fique para segundo plano. Hulk só descolou nas últimas jornadas e foi esse impulso final que lhe permitiu reentrar na disputa.
in "ojogo.pt"
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