Cristian Rodríguez leva o FC Porto no coração,
diz que se sente "tripeiro" e que voltará para rever os amigos
nas férias. Nem o caso com João Moutinho, que levou o
clube a dispensá-lo antes do final do contrato, poderá
apagar as quatro épocas e os dez títulos que acrescentou
ao seu currículo pelo emblema azul e branco. Na despedida, em
exclusivo para O JOGO, o uruguaio só lamenta não ter
estado nos festejos do bicampeonato.
Quando deixou o FC Porto, escreveu uma mensagem no Facebook onde
dizia que tinha tido pena de não o terem deixado ser
campeão. Saiu magoado?
Por um lado sim, porque gostava de ter festejado o título,
é sempre bom para um jogador sentir o calor dos adeptos. Recebi
a medalha de campeão que o Álvaro trouxe e
agradeço-lhe muito por esse gesto porque sem ele não
teria recebido nada. Não foi fácil sair da forma como
saí, depois de quatro anos e dez títulos conquistados,
mas pronto...
O que aconteceu para sair assim? Foi verdade que foi protagonista de uma agressão a João Moutinho?
Acho que foi tudo um pouco exagerado. O que aconteceu é
normal em todos os clubes do mundo. Não houve agressão,
apenas nos desentendemos, como muita gente se desentendeu no decorrer
do ano, e sobrou para mim. Acontece em todo o lado, às vezes
há equívocos.
Chegou a ter uma discussão com Vítor Pereira no seguimento do desentendimento?
Não, isso é mentira dos jornalistas. Estou consciente
daquilo que fiz e não preciso de me defender de nada e perante
ninguém.
Quer dizer que apesar de tudo, a saída do FC Porto foi pacífica, não houve processos, nem multas?
Acham que fazia sentido eu sair multado depois de me ter transferido
do Benfica para o FC Porto da forma como aconteceu? Contribuí
para muitos títulos e acho que isso não seria uma atitude
que correspondesse ao comportamento que as pessoas têm no FC
Porto. Sempre fui frontal, sempre fui o primeiro a dar a cara e a puxar
pelo grupo e certamente que não ia merecer um tratamento desses.
Saí bem, para mim o FC Porto é mais uma família.
Passei muitos natais, passagens de ano e outras festas em Portugal. Mas
uma carreira é assim, temos de seguir em frente. Vou ficar com
saudades, mas quero voltar de férias para rever os meus amigos.
Pensa que podia ter dado mais ao FC Porto?
Se jogasse mais, tenho a certeza que teria dado mais. Mas mesmo
quando jogava dez minutos, ou até cinco, deixava tudo em campo.
"Quiseram renovar a dois meses do fim do contrato"
Sempre disse que aceitava renovar pelo FC Porto. Chegou a receber alguma proposta da direção?
Se me tivessem feito a proposta há mais tempo, renovava logo.
Mas só me propuseram renovar dois meses antes de acabar o
contrato. Acho que isso não se faz em lado nenhum. Se me
tivessem proposto no início do ano teria sido diferente,
aceitava com gosto, porque amo o FC Porto e os seus adeptos e teria
ficado muito feliz por continuar.
O FC Porto chegou a estar em negociações com o
Grémio para um empréstimo. O que falhou nesse processo?
Tem a ver precisamente com a renovação que me
propuseram dois meses antes do final do meu contrato. Ganhei dez
títulos no FC Porto, estive quatro anos no clube e não
achei bem que só me tivessem feito a proposta de
renovação nessa altura. Para mim era melhor ter
saído normalmente no final do contrato, como campeão.
Também se chegou a noticiar que o FC Porto esteve em
negociações com o Rubin Kazan para o transferir, confirma
isso?
Que eu saiba não. Ninguém me disse nada sobre isso.
Mas sempre estive à margem de qualquer negociação,
deixei sempre isso para as pessoas do clube e para o meu
empresário. Só me preocupava em jogar futebol e dar o
máximo, treinar e ganhar ao fim de semana.
A sua mãe chegou a confessar que o Cristian já
não se sentia bem no FC Porto, antes até do caso com
João Moutinho. Sentiu-se desgastado com o processo de
renovação?
O último ano de contrato é sempre mais difícil.
O facto de não jogar regularmente também complicou ainda
mais, porque não se passa nada e começamos a pensar em
muita coisa.
"Posso ter jogado mal mas dei tudo em campo"
Em fevereiro teve um desabafo no Facebook, por causa de alguns
insultos dos adeptos. Antes já se tinha envolvido em problemas
em Barcelos, depois da derrota do FC Porto. Sentiu-se um alvo?
Não, nunca me senti um alvo, pelo contrário. Em
Barcelos até empolaram as coisas com um problema que nem era
comigo. Não tive nada a ver com aquilo, mas também
não sou polícia para andar a dizer quem foi e quem
não foi que esteve envolvido. Eram dois ou três jogadores
que estavam na confusão. Mas é normal que aquilo tenha
acontecido, porque ninguém gosta de perder. É natural que
critiquem e que se digam certas coisas naquelas alturas. Mas eu sempre
fiz por respeitar o FC Porto e dar o máximo por aquela camisola.
Posso ter jogado mal, posso ter tido uma tarde ou uma noite má,
mas sempre deixei tudo em campo.
Foi um acumular de problemas que conduziram a esta situação?
Não. O último ano de contrato é sempre mais
complicado e não termos conseguido renovar antes tornou tudo
mais difícil.
É difícil olhar para trás?
Não, antes pelo contrário. Tenho orgulho em ter jogado
no FC Porto durante quatro anos e agradeço a oportunidade que me
deram. Hoje sabem que contam com um portista mais, com mais um adepto.
Fiz muitas amizades aí.
Muitas vezes era acusado de não se empenhar a fundo, depois perdeu o lugar na equipa. Isso magoava-o?
Este ano ganhei quase todos os jogos em que participei. Apenas
empatei um e perdi outro contra o Barcelona. Mas quando joguei dei
sempre tudo de mim. A minha passagem pelo FC Porto foi positiva, ganhei
muitos títulos e fiz muitas amizades com os adeptos e vou voltar
de férias ao Porto e a Matosinhos, de que gosto muito.
Sabemos que tinha outra atividade, que praticava outra modalidade,
kickboxing, à margem do FC Porto. Isso alguma vez foi um
problema?
Praticava sim, mas sem que isso interferisse na minha vida
profissional. Quando não se joga e não queremos perder a
condição física temos de procurar alguma coisa que
nos preencha. No FC Porto chegava a jogar dez minutos e a entrar de
folga no dia seguinte. Para mim não era suficiente. Treinava
para manter a condição física, mas nunca falhei um
treino, nem isso nunca me prejudicou.
"Transição de Vítor Pereira foi complicada"
A temporada ainda estava a acabar de ser planeada quando
Vítor Pereira herdou a equipa de André Villas-Boas, mas a
aposta na continuidade da SAD do FC Porto nem por isso deixou de ter
reflexos na equipa. "Foi uma transição um pouco
complicada. Acho que ninguém esperava que o Vítor Pereira
fosse ficar depois da saída do André Villas-Boas. Ser
treinador adjunto e passar a principal são coisas diferentes.
Como adjunto, tivemos sempre mais confiança. Era muito bom
adjunto e brincávamos sempre uns com os outros. Depois, na pele
de treinador principal, tomar certas decisões tornou-se muito
mais difícil. As brincadeiras deram lugar a um homem mais
sério e essa foi a diferença", explicou Cebola, que
não misturou as coisas: "Agora, não deixa de ser muito
bom treinador e a esse respeito não tenho nada que dizer".
"Conquistas da época passada foram um fardo"
Havia alguns jogadores que estiveram para sair no final da
época passada. Isso criou algumas tensões dentro do
grupo?
É sempre difícil ganharmos tudo num ano. A seguir, as
pessoas do clube estão à espera que se mantenha o mesmo
nível, mas é muito complicado conseguir isso. As
conquistas da época passada foram um fardo para nós.
Não conseguimos ir longe na Champions, na Taças de
Portugal e na Taça da Liga. Por isso foi uma época mais
complicada para nós.
Rolando, Álvaro e não só, estiveram na origem
de alguns casos durante a época. Houve mais
complicações na equipa do que em outras temporadas?
Não, são coisas que acontecem em todas as equipas do
mundo. O plantel é grande e todos temos problemas,
emoções e é difícil que não haja
casos durante uma temporada. Qualquer equipa no mundo passa por
situações semelhantes.
"Pinto da Costa é um senhor"
Pinto da Costa é uma figura que marcou Cebola, que explicou o
porquê de o FC Porto ganhar mais vezes: "É um senhor, um
excelente presidente e um grande homem. Gostei muito da forma como me
tratou e como tem liderado o clube. Todos gostam dele e não
estou a dizer isto por ser puxa-saco, apenas digo aquilo que sinto."
Na primeira pessoa
"Sinto-me um tripeiro"
É conhecido por ser uma pessoa temperamental, por ter uma personalidade forte. Isso alguma vez o prejudicou no FC Porto?
Sou uma pessoa de carácter forte, mas não sou
má pessoa. Também não sou falso. Se tiver alguma
coisa a dizer falo nos olhos, nunca pelas costas, seja com quem for.
Enfrentei todos da mesma forma. Se não tiver razão,
também sou capaz de o reconhecer e de pedir desculpa.
Quer deixar uma mensagem aos adeptos?
Muito obrigado, do fundo coração. A única coisa
que me faltou foi ter estado junto da claque, cantar com eles e
festejar. Tenho lá muitas amizades e hoje sinto-me um tripeiro.
E aos seus companheiros...
Estou feliz por ter jogado com eles e ter feito parte de um clube
como o FC Porto. Saio contente por ter ganho tantos títulos e
sei que será difícil repetir isso noutro clube.
"Futuro passa por Itália ou Espanha"
Já sabe por onde pode passar o seu futuro?
Pode ser em Itália ou Espanha, mas ainda não assinei
nada. Tenho contactos, mas até agora não tenho nada de
concreto, mas o mais certo será prosseguir a minha carreira em
Itália ou Espanha.
in "ojogo.pt"
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