sexta-feira, 25 de maio de 2012

Jorge Costa: "Fui festejar na Av. dos Aliados e levava vestida uma camisola do Zé Beto"

Portista desde o berço, Jorge Costa estava a um ano de se transferir do Foz para o FC Porto, mas ainda não tinha projetos para ser futebolista profissional. Anos depois, haveria de ligar o nome à história do clube, tendo erguido na qualidade de capitão de equipa uma Liga dos Campeões, umaTaça UEFA e uma Taça Intercontinmental. 

Onde é que estava no 27 de maio?
Em casa, na Foz, a ver o jogo pela televisão. Morava num bairro onde 99 por cento dos habitantes eram portistas. Quando acabou o jogo viemos todos para a rua festejar. Era o primeiro título internacional do FC Porto, conseguido noutro contexto. Não havia crise, as pessoas eram mais felizes. Foi um momento de grande alegria. Depois fui para a Avenida dos Aliados, com mais dois colegas. Eu levava vestida uma camisola do Zé Beto, que era de um colega meu. Era verde. Andámos a noite toda a festejar. 

Recorda algum jogo especial da campanha para Viena?
Recordo-me especialmente de quando fomos ganhar a Kiev, por 2-1. Era novito mas lembro-me perfeitamente. Foi a primeira grande alegria. Aquele era o jogo-chave, até porque o Dínamo era uma das melhores equipas do mundo e a base da seleção da União Soviética. 

Em que momento é que percebeu que era portista?
Portista sou desde que me lembro. Os clubismos têm a ver com influências familiares, principalmente dos pais. Depois vai-se ganhando a paixão. As minhas recordações são sempre azuis e brancas. 

Que loucuras cometia pelo FC Porto enquanto adepto?
Nunca fui de grandes loucuras. Ia sempre ver os jogos às Antas e lembro-me de um FC Porto-Barcelona que ganhámos por 3-1, com três golos do Juary e o Archibald marcou o deles [6 de novembro de 1985]. Chovia a cântaros e já não me lembro se tive problemas com os meus pais, mas quando cheguei a casa não havia peça de roupa que escapasse. 

Não tendo feito parte daquele plantel de 1987, o que acha que herdou daquele grupo e que se refletiu na sua carreira de jogador?
Não fiz parte daquele plantel mas ainda tive o prazer de jogar com alguns dos campeões europeus de 87. Não tenho dúvidas de que foi o ponto de viragem. O que custa é a primeira vez, é provar que se é capaz. A partir dessa vieram mais seis: a Champions, duas Intercontinentais, a Taça UEFA, a Liga Europa e a Supertaça Europeia. 

Tinha a imagem de duro e continua a ser considerado um exemplo, "um jogador à Porto". O que é isso, afinal?
A história de ser um jogador à Porto e a mística são coisas um bocado subjetivas. Eu era um jogador à Porto porque era assim, tudo em mim era natural. Era um jogador sério, honesto e pronto a dar tudo pela equipa. O jogador à Porto não pode ser forçado, porque para mim isso significa ser natural e estar pronto a defender uma causa. 

Como chegou a herdeiro da braçadeira de João Pinto?
Foi no tempo do António Oliveira. Acho que tudo na vida acontece de forma natural, mas quando o João [Pinto] saiu, senti-me honrado por herdar a braçadeira, porque havia no plantel jogadores com mais anos de clube, como o Domingos, o Folha, o Aloísio, o Paulinho Santos ou o Rui Jorge. Os responsáveis, juntamente com o técnico, entenderam que eu tinha características de liderança para poder capitanear a equipa e passar a imagem do que é ser Porto, um exemplo dentro e fora do campo. Foi um motivo de grande orgulho. 

No percurso de 2004, quando é que acreditou na conquista da Champions?
Para nós não era um objetivo de temporada, mas a partir de determinada altura passámos a achar que era possível. Mudou tudo em Manchester. Antes era um sonho e ter expectativas é sempre positivo. A partir do golo do Costinha passámos a acreditar que o nosso momento tinha chegado. 

Essa vitória não começou a ser programada com a vitória da Taça UEFA, em Sevilha?
Sevilha deu-nos a maturidade europeia que qualquer equipa precisa de ter. O percurso até Sevilha foi muito engraçado, pela forma como se formou o plantel e porque vínhamos de um ano mau. Nessa época, e em especial depois dessa conquista[Taça UEFA] ficámos com a certeza de que com trabalho e dedicação tudo é possível. Não digo que nos tenha feito acreditar que um ano depois ganharíamos a Liga dos Campeões, mas alimentou o sonho. 

Queria ser veterinário

Jorge Costa, a quem um dia Fernando Couto chamou Bicho, e o nome pegou, era portista, jogava futebol no Foz e futebol de 5 no bairro, mas ainda não sabia se a bola teria ou não importância na vida futura. Estudava na Escola Secundária Garcia de Resende, em frente ao Estádio do Bessa, e prestava mais atenção aos livros. "Acho que vivia o dia a dia sem sem muitas preocupações. Dedicava-me aos estudos e projetava ser veterinário. Pensava mais nisso do que em ser profissional de futebol." Depois, a roda da vida girou e o FC Porto ganhou um capitão histórico e o futebol português um jogador de referência, ele que adorava a equipa de 1987, a arte de Futre, os golos de Gomes, "uma verdadeira equipa de artistas e trabalhadores" e tinha uma predileção especial por Madjer. "Há 25 anos fazia coisas que hoje vemos fazer Messi e Cristiano Ronaldo. Se jogasse agora estaria ao nível deles. Era um dos melhores do mundo." 

in "ojogo.pt"

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