Mal soou a buzina no Dragão Caixa, sentenciando a vitória do Benfica, entre os festejos dos jogadores que acabavam de se sagrar campeões, o treinador Carlos Lisboa gesticulou de forma provocatória para uma das bancadas. O capitão portista Nuno Marçal correu para o técnico, exigindo respeito e a partir daí os ânimos exaltaram-se num efeito contágio, sublinhado, horas mais tarde, pelo comunicado do FC Porto: "O treinador Carlos Lisboa podia festejar a vitória de forma urbana e civilizada, mas preferiu fazê-lo provocando e insultando com palavrões os adeptos do FC Porto". Os incidentes que as imagens comprovam foram também esclarecidos, em declarações ao Porto Canal, por Nuno Marçal: "Se já estava orgulhoso da nossa massa associativa, agora ainda estou mais, porque se portaram lindamente, preocupando-se apenas em apoiar o FC Porto. O comportamento do treinador do Benfica no fim do jogo foi simplesmente vergonhoso, foi algo inqualificável". Indignado, Nuno Marçal realçou: "O símbolo nacional, que todos qualificam como melhor jogador de todos os tempos, como treinador foi uma vergonha. O que lhe fui dizer é que tem de ter respeito na casa do FC Porto. Foi campeão, mas não vai ter os meus parabéns, porque não merece. O que ele fez foi incendiar o ambiente."
Confrontado com a acusação de comportamento
insultuoso, Carlos Lisboa respondeu. "Não corresponde à
verdade. No final do jogo estava satisfeito e a festejar com os meus
jogadores. Há uma fotografia em que estou a ser mandado ao ar
pelos jogadores." Sobre as palavras que Marçal lhe dirigiu, o
técnico referiu: "Veio ter comigo e com os jogadores do Benfica,
dizendo para não estarmos ali a comemorar, mas acho que
não estávamos a fazer nada de mal."
Os distúrbios no Dragão Caixa serão agora
averiguados pela PSP, a qual, em comunicado, garantiu que está a
proceder à "recolha de todos os elementos que contribuam para a
elaboração dos relatórios para envio às
autoridades judiciais, administrativas e desportivas competetentes".
À agência Lusa, Mário Saldanha, presidente
federativo, avançou: "Estamos à espera do
relatório da polícia, relatório dos
árbitros, comissários e diretor da prova. Vai ter de
haver um inquérito. É absolutamente necessário que
tudo seja apurado."
"Um ladrão não deixa de ser ladrão por ir ao Papa"
Ao ataque, como nunca. Luís Filipe Vieira atirou-se ontem com
todas as forças ao FC Porto e a Pinto da Costa, através
de um discurso cheio de indiretas, onde não se cansou de repetir
as palavras "burros" e "ladrão". Tendo como ponto de partida a
homenagem aos campeões nacionais de basquetebol, e sem alguma
vez referir o nome do clube nortenho ou do seu presidente, o
líder dos encarnados, considerou que "o que se passou no
Dragão é uma vergonha para o desporto e para o
país". E atirou: "Só não é uma vergonha
para quem não tem, nem nunca teve vergonha na cara!" Vieira
não abrandou e lançou um ataque voraz e feroz ao
congénere. "Um ladrão não deixa de ser
ladrão por ir ao Papa! Um ladrão não deixa de ser
ladrão por declamar poesia", disparou, numa referência
implícita à paixão de Pinto da Costa em declamar
poesia, nomeadamente de José Régio, e ainda ao facto de o
líder portista ter sido recebido já por duas vezes no
Vaticano, primeiro em 2003 pelo Papa João Paulo II, e já
em 2011 por Bento XVI.
"A vossa vitória não foi apenas uma vitória
desportiva, foi uma vitória da verdade, da coragem, foi uma
vitória de quem soube sofrer as consequências de ir ganhar
a uma casa que não tem dignidade nas derrotas", frisou,
sublinhando: "O que alguns fizeram ontem [anteontem] e na
véspera do jogo foi demasiado grave para ficar impune." "E ainda
têm a lata de falar de apagões? Quando a sua
história foi marcada por fruta, corrupção e
compadrios?", referiu, reforçando: "Têm a lata de falar de
verdade desportiva quando o seu sucesso foi construído com base
na maior mentira do desporto português?"
Vieira fez da vitória do basquetebol no Dragão Caixa
"uma demonstração clara de tudo quanto o clube tem vindo
a denunciar" e lembrou que "o sistema ainda não acabou".
"Continua construído na intimidação,
violência e favores", defendeu, reconhecendo que se "as
razões do Benfica podem não chegar à UEFA, como
não chegaram as 'escutas da fruta', como não chegaram
para a justiça portuguesa as 'escutas do café com
leite'!", isso não será suficiente para o fazer desistir.
E prometeu: "Não vamos parar enquanto não limparmos o
desporto português".
"Burros não são os que acreditam na mudança.
Burros são os que acreditam que isto nunca vai mudar. Burros
são os que acreditam que a impunidade vai durar para sempre",
disparou, sem parar. "Será que alguns dirigentes só
gostam da atuação da polícia quando esta os avisa
que têm de fugir para não serem presos?", soltou,
respondendo às queixas portistas em relação
à intervenção policial após a partida de
basquetebol, considerando que "um fugitivo da justiça não
o deixa de ser apenas porque alguns juízes decidiram assobiar
para o lado". "Alguns muros já caíram, mas não vou
descansar enquanto houver quem tenha medo e se sinta condicionado por
ameaças e represálias", prometeu, garantindo que
não vai "descansar enquanto algumas federações
continuarem a ter medo de agir com liberdade". E realçando que
vai "continuar a denunciar e a combater o sistema o tempo
necessário", deixou um aviso em relação a uma
modalidade em que o Benfica aspira também a roubar o
título ao FC Porto: "Só espero que não venha agora
atacar no hóquei em patins, porque vamos estar muito atentos!"
ABP condena Federação, polícia e... Carlos Lisboa
A Associação de Basquetebol do Porto "manifesta total
solidariedade com o FC Porto", num comunicado em que lamenta terem sido
os dois clubes "maltratados pela Federação Portuguesa de
Basquetebol, devido à ausência do presidente ou qualquer
outro dirigente". A ABP critica ainda a PSP por "afirmar estarem
reunidas condições para a entrega da taça de forma
adequada" e lembra as "notórias provocações do
Benfica, através do treinador Carlos Lisboa e do roupeiro".
in "ojogo.pt"
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