Já está na Sérvia, de férias, mas antes
de partir Ljubomir Obradovic, um técnico que no FC Porto vai
batendo recordes, conversou com O JOGO.
No dia 23 de julho começará a quarta época seguida
no FC Porto; ninguém o fazia desde José Magalhães
[1997/98 a 2000/01]. Fez o tetra que o FC Porto não conquistava
há 52 anos e o próprio Obradovic nunca tinha ganho
três títulos seguidos. Qual é a fórmula
deste casamento feliz?
O FC Porto é um clube especial, um clube que tem como
objetivo ganhar em qualquer modalidade, um clube que vence há
muitos anos e que vai continuar a vencer. Vencia antes de mim, vence
comigo e depois de mim vai continuar. Porque no FC Porto, a filosofia
de vida é ganhar.
Este é um casamento bem-sucedido a vários níveis: longevidade, sucessos e até a relação com os adeptos, que lhe deram uma tremenda salva de palmas na festa do tetra...
Não gosto muito de falar sobre mim, mas digamos que isto
é uma química entre mim e os dirigentes, os dirigentes e
os jogadores, entre mim e os jogadores - entre nós todos,
há uma química positiva. Eu gosto de uma atmosfera
positiva e, quando isso existe, os resultados aparecem. Tenho todo o
apoio da estrutura do FC Porto, posso fazer o treino que quero, quando
quero, onde quero. Isso é um privilégio e tenho de deixar
daqui um "muito obrigado" ao professor Magalhães, que
está sempre a par de tudo, e, com isso, é normal que as
coisas funcionem. Isto pode dar a sensação de que
não é difícil, mas é, porque cada jogo
é importante, em cada jogo queremos ganhar e todas as equipas
querem cada vez mais ganhar ao campeão. Mas esta é uma
equipa que sabe jogar, que tem uma mentalidade ganhadora - e temos de
continuar assim.
Já tinha estado em Portugal antes, no Belenenses, no Madeira, no ISAVE, mesmo noutros clubes em que jogou. Como olha agora, que está no clube, para o FC Porto?
O FC Porto é um clube muito organizado, aqui é tudo
impecável. Toda a gente respeitas as regras de jogar neste
grande clube. Sinceramente não sei mais o que dizer, a
não ser que é toda uma estrutura altamente profissional.
Como sente o reconhecimento, as palmas dos adeptos, as taças, as medalhas?
O FC Porto tem adeptos espetaculares em todas as modalidades, desde
o futebol às de pavilhão. São adeptos que sabem
apoiar, que sabem levantar a equipa nos momentos maus e sabem apoiar.
São adeptos extraordinários.
"Aqui a orientação é construir jogadores"
Quando olha para a próxima temporada e vê os adversários a fazer contratações, a ir buscar jogadores até ao FC Porto, isso não lhe abala a confiança?
Porque haveria de abalar? São sempre sete contra sete. Podem
ser mais altos, mais baixos, mais gordos, mais experientes, com mais
qualidade... isso não me preocupa. Se o FC Porto estiver no
nível com que terminou a fase final, não me preocupo.
Isso depende da política de cada clube. A
orientação do FC Porto é construir jogadores, com
a nossa filosofia de andebol, e dos nossos jogadores mais novos,
construir seniores. Outros têm outra política, de comprar
jogadores já feitos, prontos a jogar.
Mas constroem e ganham na mesma...
Nós queremos pensar no que é bom para o FC Porto e
para o andebol em Portugal. Temos miúdos com grandíssimo
futuro. No próximo fim de semana é a fase final dos
juniores e o [Carlos] Martingo tem obrigação de ganhar,
não pode fugir a essa responsabilidade. Se se mete na
cabeça que é para ganhar, é para ganhar mesmo; se
perde, levanta a cabeça e segue em frente. Mas eu tenho toda a
confiança em Martingo e em Ricardo Moreira, gosto mesmo da forma
como eles trabalham. Vamos construir mais treinadores e jogadores;
Ricardo Costa também tem um bom grupo no Colégio dos
Carvalhos.
"Futuro dele é o mais alto nível"
Gilberto Duarte foi o MVP do campeonato com apenas 21 anos. Quais as possibilidades dele no futuro?
Ele é um grande talento e é trabalhador e, quando
essas duas coisas se juntam, tudo se torna mais fácil. Entrando
na Liga dos Campeões, todas as equipas de topo vão bater
à porta do FC Porto e perguntar pelo Gilberto. O futuro dele
é mesmo o mais alto nível. A Portugal, falta estar na
Liga dos Campeões e falta a Seleção participar no
Campeonato da Europa e do Mundo. Isso é a chave do futuro e
temos de pôr a mexer o Gilberto, o Wilson, o Tiago Rocha, os
jogadores do Sporting, do Benfica, temos todos de crescer.
"Esta equipa precisa mesmo de entrar na Liga dos Campeões"
Após esta série de conquistas, falta a entrada na Liga dos Campeões...
É o sonho do FC Porto [suspira e encosta-se na cadeira].
Estes anos não tivemos sorte, ou cabeça... alguma coisa
faltou. Vamos a ver este ano, o adversário, o local...
Além disso, isto não é só desporto; esta
é uma equipa que precisa mesmo da Liga dos Campeões e de
ganhar esse tipo de experiência. Entrando, faz dez jogos e, no
outro ano - não sei quantos pontos faltam a Portugal para entrar
diretamente -, uma meta é conquistar estes pontos que dão
a Portugal a entrada direta. O FC Porto já demonstrou que
está à frente das outras equipas em Portugal, e esse
é um bom sinal para a Seleção, que pode contar com
os jogadores do FC Porto.
"Nunca me dou por contente"
A sua caminhada no FC Porto começou há três anos com duas derrotas, no Sporting da Horta e depois, em casa, com o Xico, à segunda e terceira jornadas. Nessa altura teve alguma dúvida?
Eu nunca tenho dúvidas sobre o meu trabalho. Quando o prof.
Magalhães chegou a Belgrado para falar comigo, só lhe fiz
uma pergunta: "Ao fim de dois meses não vai estar ao lado dos
jogadores?" Ele perguntou porquê, e eu disse-lhe que os jogadores
em Portugal não estavam habituados a trabalhar desta maneira e
iriam perguntar porque trabalhamos tanto e ele disse-me que não
haveria nenhum problema. Essas dúvidas deles aconteceram mesmo.
Houve que trocar os hábitos dos jogadores, o que não
é fácil, aprender uma defesa nova, como se atacam as
diversas defesas dos adversários, e isto não se faz em
dois meses. Mais tarde tivemos dois jogos fora, no ABC e no Sporting,
trabalhámos duro e eu disse aos jogadores que se
jogássemos mesmo bem nesses dois jogos, seria "culpa" do
treinador. Ganhamos no ABC e no Sporting, e foi nessa altura que a
opinião deles sobre mim mudou.
Ao fim de três anos há as vitórias, os bons resultados, as boas exibições, os números... Está satisfeito ou ainda pode espremer mais desta equipa?
Eu nunca estou satisfeito. Com o tipo de trabalho que faço,
nunca posso estar contente. Nós, no FC Porto, vamos construir
jogadores, mas também vamos construir treinadores e digo sempre
aos meus colegas Carlos Martingo, Ricardo Moreira e Ricardo Costa que
nunca podemos estar contentes, temos de procurar sempre mais,
até à perfeição. O jogo é o espelho
de treino e se se treina bem, joga-se bem; se se treina mal... é
impossível. Mas há que estar sempre em cima dos
jogadores, os meus treinadores têm de estar por cima dos atletas,
eles têm de saber respeitar o treinador e crescer.
Agora, com nove pontos para o segundo classificado, o Madeira SAD, e 13 para os terceiros classificados, Sporting e Benfica, como motiva os atletas e os convence de que podem fazer melhor?
Estamos aqui para deixar os outros festejar? Claro que não.
Por isso não é difícil motivá-los.
Nós aqui temos grande fome de vitória. Cada jogador e eu
próprio temos grande fome de conquistas. Temos um grupo de
jogadores que gosta de jogar, gosta de defender, gosta de atacar, sabe
defender, sabe atacar, sabe festejar. Se falarem com os jogadores,
percebem que eles estão contentes aqui. É um
privilégio para mim trabalhar com eles e, para eles, é um
privilégio jogar no FC Porto.
Este último campeonato foi o mais fácil de todos? Tantos pontos de avanço...
Para vocês, é sempre tudo fácil... Os pontos de
avanço não dependem só de nós. Não
perdemos na fase final e, depois, os nossos adversários jogaram
entre eles e perderam uns com os outros. Nós fazemos um caminho
certinho, sempre a olhar para a direita, para a esquerda, sempre
atentos, sempre vigilantes.
"É um grande senhor"
Pinto da Costa celebrou em Abril 30 anos de presidência. Que opinião tem sobre o presidente, que conhece há três anos?
Pinto da Costa é um senhor, é um grande senhor.
Está sempre perto de nós, como está do
hóquei e do basquetebol, sabe sempre o que se passa e o que se
faz e é um grande adepto, um senhor. Só lhe posso dizer
um "muito obrigado" pelo apoio, lembro-me de que foi ele quem fez a
minha apresentação. Ricardo Moreira deu-lhe a medalha de
campeão? Um grande vencedor tem sempre espaço para mais
conquistas.
in "ojogo.pt"
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