No dia 27 de maio de 1987 o FC Porto não foi apenas
campeão europeu pela primeira vez. Para muitos, foi esse o dia
que definiu a orientação clubística, mesmo quando
em casa os pais já apelavam ao portismo. A festa que inundou a
cidade converteu os mais céticos. Muitos dos que ontem foram ao
Dragão para ver a taça e tirar fotografias com ela
confessaram-no sem rodeios. "Com 14 anos, não tinha qualquer
clube. Nem vi o jogo. Mas nesse dia e nos seguintes, em casa e na
escola, só se falava disso. Fiquei portista", confirma Jorge
Moreira, que logo a seguir tornou-se sócio. Para que o filho
não vivesse o seu dilema, fez dele sócio à
nascença.
Na família Salgueiro todos torcem pelo azul e branco
há muitos anos. A 27 de maio de 1987 o pai, José,
resolveu comprar um vídeo. O investimento tinha a ver com um
pressentimento. "Em anos anteriores nunca acreditei ser
possível. Mas naquele dia, sim. De tal forma que fui comprar. E
ainda bem. Já revi o jogo muitas vezes. Mas também tenho
as outras finais europeias", gaba-se. O filho, também
José, viu o jogo na mesma casa. Tinha nove anos e confessa que
as conquistas de 2003 e 2004, por terem sido assistidas ao vivo,
tiveram outro impacto. Mas recorda-se da festa incrível que
tomou conta da Invicta e dos carros que não paravam de apitar.
"Depois de o FC Porto começar a pressionar, lembro-me de ouvir o
comentador dizer que água mole em pedra dura tanto bate
até que fura. Logo a seguir foram os dois golos", aponta. "Mas a
minha memória mais forte é da escola, do dia seguinte.
Toda a gente ainda festejava, mesmo os que não gostavam de
futebol. E nesse dia nem havia benfiquistas", brinca. Pai e filho
levaram duas camisolas de 1987 para a visita de ontem ao Dragão.
"Compro uma todos os anos. Mas trouxe esta porque acho que é a
minha forma de prestar a homenagem a esta equipa. Para fim, foi a
melhor de sempre do FC Porto. Era uma equipa de gladiadores", recorda.
A vitória foi também importante para marcar uma
posição. "Era o Sul que comandava e aquela vitória
foi importante não só para o FC Porto como para o Norte",
explica o também sócio Avelino Santos. "Antes disso,
já entrávamos a perder só por atravessar a ponte",
concorda José Salgueiro, a propósito de uma máxima
que já está imortalizada até em forma de
canção.
"Chorei como uma criança no café. Foi um sentimento
enorme, uma coisa que não se consegue explicar. Bebi muita
cerveja, andei a noite toda na rua e fui de direta para o trabalho",
sintetiza Avelino Santos, a propósito daquilo que todo o Porto
viveu. E reviveu ontem.
O herói Madjer e o prodígio Futre
O calcanhar de Madjer é o momento que todos guardam na
memória. Não foi à toa que os portistas escolheram
exibir o troféu em frente a uma fotografia do golo
mágico. E Madjer foi, naturalmente, o nome que mais se leu nas
costas dos que ontem levaram camisolas vestidas. "Hoje há muitos
artistas. Mas quem é que na altura via golos de calcanhar?
Aquilo foi magia. Não haverá golo assim em mais nenhuma
final europeia", garante Avelino Santos. "Fica para a história",
concordam todos aqueles que admiram a fotografia. "Era o melhor da
equipa. Jogava com os dois pés e era fantástico",
continua Avelino, embora aí já sem unanimidade. Muitos
dos que O JOGO inquiriu escolhem Futre. "Nos tempos de hoje nem sei
onde poderia ter ido", vinca José Salgueiro. "Era um
prodígio", acena Raul Soares, que se tornou sócio
exatamente no dia seguinte a esse jogo. "Não podia fugir mais ao
destino", brinca.
O dia em que o FC Porto deixou de ser apenas um clube português
Entre as cerca de 500 pessoas que durante a tarde de ontem passaram
pelo Dragão, contavam-se alguns estrangeiros, que não
sendo portistas não deixam de recordar a final de Viena. "Foi o
dia em que conhecemos o FC Porto e esta cidade", exclamam. Madjer
não é um nome que diga muito à maioria deles, mas
Pfaff, Hoeness, Rummenigge, Mathaus ou Brehme sim. "O Bayern era muito
conhecido. O FC Porto foi uma surpresa", frisam. Os mais jovens do
grupo só se lembram das conquistas de José Mourinho.
"Não há dúvidas que este é o clube
português mais famoso em Inglaterra. Não podíamos
vir à cidade sem conhecer o Estádio do Dragão",
salientam.
in "ojogo.pt"
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