O professor António Samagaio escreveu um texto de opinião neste jornalsobre o que chama
"face menos transparente do negócio", relativo à partilha de direitos
económicos de jogadores e em que, a par de algumas interrogações, lança uma
série de insinuações sobre o FC Porto e a SAD do FC Porto. Com estas linhas não
pretendo polemizar, mas sim esclarecer o autor e os leitores.
Não há em
Portugal, e, sem grande risco de errar, atrevo-me mesmo a acrescentar, em toda
a Europa, clube ou sociedade anónima de futebol que preste tanta e tão
pormenorizada informação ao mercado e ao público como o FC Porto. Isso não tem,
no entanto, impedido jornalistas, analistas e outros de ditarem sentenças sem
nexo e sem verdade.
O professor António Samagaio parte de premissas erradas para
chegar, naturalmente, a conclusões erradas, e demonstra um profundo
desconhecimento do negócio futebol. Afirma não ser plausível que as motivações
do FC Porto para a cedência parcial de direitos económicos de jogadores sejam a
redução do custo e risco de investimento ou a existência de dificuldades de
tesouraria. Caro professor, a verdade é que não há outras motivações a não ser
precisamente a redução do custo e risco de investimento e as dificuldades
pontuais de tesouraria.
Como é sabido, há bancos que cortaram o financiamento a sectores
de actividade como a construção civil, as associações religiosas ou os clubes
de futebol. Apesar de o FC Porto ter um histórico perfeito de cumpridor, também
está a ser afectado pela dificuldade de acesso a crédito que assegure
capacidade de investimento, tanto mais que a indústria do futebol exige uma
enorme capacidade de capital. Infelizmente, já não é possível recorrer ao
financiamento bancário para suprir todas as necessidades financeiras para o
desenvolvimento da actividade e a associação de participação económica com
investidores é a alternativa para mantermos um modelo que nos tem assegurado um
apreciável sucesso desportivo, sem nunca ter posto em causa a sobrevivência
económica - só para reforçar esta ideia, gostaria de lembrar que o FC Porto é o
clube europeu com mais troféus conquistados no séc. XXI e apenas é batido pelo
FC Barcelona e pelo Milan no total de troféus internacionais neste mesmo
século.
Às vezes mais vale não ver fantasmas onde eles não existem e,
pelo menos no caso do FC Porto, a transparência e o detalhe com que informamos
o mercado deveriam ajudar o professor António Samagaio a tirar outras
conclusões.
O FC Porto informa o mercado das associações de participação
económica quando elas estão formalmente constituídas, como está legalmente
obrigado. É claro que essas associações foram estabelecidas aquando da efectivação
da aquisição do passe de um atleta. Pegando, por exemplo, no caso de João
Moutinho: o FC Porto acordou com o MamersBV/Soccer Invest Fund a cedência de
37,5% do passe do atleta aquando do acordo para a transferência do Sporting
para o FC Porto, tendo-o comunicado ao mercado quando todas as formalidades
relacionadas com o negócio estavam concluídas. E por que o fez? Porque só desta
forma conseguiu reunir os fundos necessários para garantir um jogador que, do
nosso ponto de vista, nos garantia sucesso desportivo e eventualmente algum
retorno financeiro. É claro que se tivéssemos os fundos do Manchester United ou
do Real Madrid, clubes de dimensão global, com estrutura de receitas baseada em
direitos televisivos e comerciais, não precisaríamos dos investidores para
nada...
Importa também esclarecer que nestas associações de participação
económica não há qualquer menos-valia para o FC Porto. Quando o FC Porto
comunica uma determinada aquisição, inclui o valor do passe e os outros
encargos associados, como são direitos de imagem do atleta, prémios de
fidelidade ou comissões de intermediação. Se à terceira parte é razoável, como
fazemos, repercutir os custos das comissões, já não o são os direitos de
imagem, que revertem totalmente para o FC Porto, ou os prémios de fidelidade.
Conseguiram estes investidores elevadas rendibilidades com as
transferências de João Moutinho e James Rodríguez? Conseguiram, sim senhor, o
que muito nos orgulha, porque só ilustra como normalmente é bom para qualquer
investidor partilhar custo e risco com o FC Porto, mas convém esclarecer que as
contas do professor António Samagaio estão hipervalorizadas, porque esquecem os
custos de capital, os custos de estrutura e os impostos sobre os rendimentos
financeiros (entre os 15 e os 25 por cento).
De repente, parece que se tornou moda diabolizar a partilha de
direitos económicos, servindo desta forma os interesses dos clubes das ligas
financeiramente mais fortes. A verdade é que no FC Porto temos conseguido com
recursos imensamente mais parcos ter mais sucesso desportivo do que todos os
clubes franceses ou ingleses e iremos continuar a lutar pela defesa de todas as
formas de financiamento que nos permitam ser competitivos e acrescentar valor
aos accionistas da sociedade, como temos sido mesmo no plano internacional.
É verdade que este modelo de associação de participação
económica pode e deve ser melhorado, mas só agora começa a haver massa crítica
e experiência para melhorar a que tem sido uma ferramenta essencial à
competitividade dos clubes portugueses.
Os investidores têm ganho dinheiro connosco? Têm e esperemos que
assim continue a ser, porque a marca FC Porto é uma garantia importante de bom
investimento, mas convém não esquecer que a partilha de custos e risco nem
sempre corre bem, como se vê actualmente noutros clubes portugueses e não só.
Nota Caro
professor António Samagaio, a aquisição de James Rodríguez foi considerada
investimento a 30 de Junho de 2010, porque foi nesse dia que efectivamente
foram assinados os contratos, em Buenos Aires, na Argentina. Foi comunicada à
CMVM a 6 de Julho porque foi nesse dia que nos chegou ao Porto toda a
documentação relativa à transferência e foi nesse dia que o atleta realizou, no
Porto, os exames médicos que validaram a transferência. E é na posse de toda a
documentação que o mercado deve ser informado, sem risco de qualquer volte-face
em que às vezes o futebol é pródigo, e não só dentro do campo. Mais
transparência é impossível.
Administrador da FC Porto, Futebol SAD
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