O futebol dos tempos modernos tende a perder vínculos à sensibilidade dos adeptos. Se as equipas correspondiam à estética e ao estilo que as identificavam com o perfil de toda a vida, hoje são o reflexo de profissionais dedicados, ambiciosos, unidos pela linguagem universal do jogo.
De um modo geral são futebolistas com excelentes atributos, mas até os melhores, e alguns são de nível mundial, têm vínculos mais voláteis aos alicerces dos clubes que representam. Sabemos hoje que essa leveza comportamental é mais sentida na hora do adeus. Fernando, que por mais de uma vez quis abandonar o FC Porto, acaba de esclarecer, através do irmão Joca, que está conformado (isso mesmo, conformado) com a inevitabilidade de ficar no Dragão.
Fernando é peça fundamental na estrutura portista. É um jogador que dá equilíbrio e segurança; fonte de inteligência e notável gerador de soluções táticas; responsável pela coordenação defensiva e esteio no momento de clarificar as decisões no ataque. É o mais influente dos nove jogadores para os três lugares no meio-campo – ele, Castro, Defour, Lucho, Herrera, Tiago Rodrigues, Carlos Eduardo, Josué e Quintero.
Disse Joca, em nome do Polvo, que o mano queria o Monaco e a Liga francesa, porque assim teria a visibilidade necessária para chegar à seleção brasileira. Mesmo considerando a leveza do discurso, que talvez não seja para levar a sério, é difícil de entender a argumentação para lá de questões meramente financeiras – o único argumento que orientou João Moutinho e James. Ao fim de cinco épocas de azul e branco, que serviram para conhecer os cantos à casa, medir os fundamentos históricos do clube e preencher o currículo, Fernando preferia jogar numa equipa de trazer por casa do que fazê-lo numa equipa que vai jogar a Champions. Talvez até 31 de agosto o FC Porto encontre alguém que, desempenhando a mesma função, esteja mais do que resignado à fatalidade de jogar numa potência europeia.
Rui Dias in "RECORD.pt"
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