sábado, 12 de fevereiro de 2011

Entrevista a Rubens Junior

Rubens Júnior: «Jesus dizia-me que eu era um jogador à Porto»

Jorge Jesus e Domingos Paciência: dois apoios nos momentos mais duros


No período em que esteve afastado da principal equipa do F.C. Porto, Rubens Júnior conheceu técnicos que, hoje, escalaram a montanha do futebol luso. Em Guimarães, foi treinado por Jorge Jesus. Na equipa B portista, onde jogou durante um ano e meio, a partir de 2004, conheceu Domingos. Hoje são campeão e vice-campeão do campeonato português.

«O Jorge Jesus apoiava-me muito. Dizia-me que eu era um jogador à Porto, que tinha qualidade para jogar lá. Mesmo quando fui para a equipa B, ele ligava-me muitas vezes a perguntar como iam as coisas e a dar força. Dizia-me para me empenhar que iam voltar a olhar para mim», conta.

E o brasileiro contesta os que apontam o excessivo rigor do actual técnico do Benfica: «Todo o treinador tem de ser exigente. Se ele não cobrar dos jogadores quem vai cobrar? Dava-nos total liberdade para entrar no balneário dele e desabafar. E, num grande, a cobrança sobre ele também é maior, por isso tem que exigir mais ainda dos jogadores.»

Sobre Domingos, o discurso não muda muito. Foi mais um apoio fundamental num período delicado. «Era um dos grandes amigos que tinha em Portugal. Conversava muito comigo. Ficava muitas vezes ao lado dele nas viagens para os jogos e ele dava-me conselhos. Procurou ajudar-me e eu procurava ajudá-lo depois em campo», afirmou.

«Eu sabia que eles tinham qualidade. Fico contente por essas pessoas serem agora grandes nomes do futebol português. É sinal que eu não estava cego.»

«Não fui inteligente para perceber que Mourinho gostava de mim»

Rubens Júnior assume responsabilidade pelo que correu mal no F.C. Porto

Início de sonho, com um final inglório. A passagem de Rubens Júnior pelo F.C. Porto não deixou grandes marcas, mas a estreia foi auspiciosa. O Maisfutebol enquadra o momento. 

Na primeira jornada da Liga 1999/00, Fernando Santos surpreende e coloca Rubens Júnior como extremo-esquerdo no derby com o Boavista. Numa altura em que aquilo que se pedia aos alas dos dragões eram cruzamentos para Jardel, o brasileiro começa em grande. Aos 2 minutos do primeiro jogo com a camisola azul e branca, soma a primeira assistência para golo.

«Puxa...Bem lembrado! Foi uma estreia de sonho, mesmo. Tantas recordações...Ainda para mais era um jogo importante na altura, um derby de cidade. Depois daquele jogo só pensava: vou brilhar!», confessa.

Acabou por não ser bem assim. Após um início em que foi, quase sempre, opção, lesiona-se e começa a perder preponderância na equipa. A carreira no Porto seria sempre assim: cheia de altos e baixos. «Se não fossem as lesões, muita coisa seria diferente. Mas o F.C. Porto foi uma fase muito boa. Tenho muitas saudades não só do Porto mas também de Portugal. Os amigos diziam-me que ia sentir falta e eu duvidava, mas agora sei como é. O tempo que estive aí foi uma adrenalina muito grande», explica.

«Falhanço no F.C. Porto? Responsabilidade foi minha»

Na temporada seguinte volta a começar bem, mas acaba emprestado ao Atlético Paranaense. Desabafa, à saída, que tinha sido «injustiçado» e um «bode expiatório». Voltaria para a equipa de Octávio Machado e segue a mesma linha: bom começo, final inglório.

«Eu hoje sei ver que, se tem de haver algum culpado, em grande parte sou eu. Tinha de ter mais cuidado com algumas coisas. A responsabilidade maior foi minha. Por isso ainda hoje adoro o clube», garante. 

Na mesma época conhece José Mourinho. E mantém a regra de elogios ao actual técnico do Real Madrid: «Treinei quatro ou cinco meses com ele, mas deu para perceber que era diferente de todos os outros. Nunca tinha visto nada assim.»

O convívio com Mourinho acontece numa altura em que Rubens Júnior estava a tentar sair do F.C. Porto para poder jogar com mais regularidade. Um erro irreparável, reconhece hoje.

«Não fui inteligente a ponto de perceber que o Mourinho gostava de mim. Um dia ele chamou-me ao gabinete e pediu-me para ficar, disse-me que ia ser importante na equipa na próxima época. Disse-lhe que não, que queria jogar já, mas ele dizia que naquela altura era difícil, que havia coisas que queria trabalhar comigo e a cobrança dos adeptos não permitia experiências, porque a equipa tinha de recuperar na classificação. Não tive paciência e saí. Não percebi o tamanho daquilo que estava para vir», conta.

Perdeu, assim, a melhor fase dos dragões no século XXI. Contratualmente ligado ao F.C. Porto, viu de fora as vitórias europeias de 2003 e 2004. 

«Estava no V. Guimarães e acompanhei aquelas conquistas todas. A equipa era muito boa. Continuava com esperança de lá voltar. Nunca aconteceu. Foi pena.»

Deixou a bola e agora é o DJ R Júnior

Ex-dragão anima São Paulo e até já lançou um CD

A relação dos jogadores de futebol com a vida nocturna é, quase sempre, um problema. Quando se deixa de jogar, por que não torná-la uma solução? Rubens Júnior, antigo jogador do F.C. Porto, foi por aí. Em 2007 pendurou as chuteiras no Vasco da Gama. Pensou ficar ligado ao futebol, mas optou por outra arte: a música. Hoje é o DJ R Júnior.

«Não posso dizer que é uma paixão nova, porque sempre gostei desta área ainda antes de começar a jogar futebol. Depois como aqui virou moda e como tinha mais tempo, porque deixei de jogar, decidi levar este hobby mais a sério. É como um segundo plano para mim», confessa, em conversa com oMaisfutebol.

Uma vez por semana, Rubens Júnior fura por entre as luzes de néon e sobe ao palco de uma discoteca escolhida por si para animar o povo de Taubaté, a cidade do estado de São Paulo onde mora. Para trás ficou o cheiro da relva. O brasileiro, garante, é hoje um homem diferente.

«Até pensei continuar ligado ao futebol, mas pensei nas responsabilidades que tenho. Há a minha família, as crianças...Tenho um filho de cinco anos que precisa de mim. Não queria um compromisso que me obrigasse a ficar longe de casa», explica. 

«Do F.C. Porto só conheço o Hulk»

A nova vida de Rubens Júnior é uma «delícia», garante: «Tenho-me dedicado muito, vamos ver no que dá. No Reveillonfoi muito bom. Passei música numa festa cá na praia. Está a correr muito bem esta aventura.»

O futebol, para já, está completamente posto de parte. Perguntámos como tem visto o campeonato português. A resposta foi clara. «Não sigo campeonato nenhum. Do F.C. Porto conheço o Hulk e pouco mais. Ainda não assimilei bem o facto de não estar a jogar e quando vejo futebol dá muitas saudades. Assim vou vendo, de vez em quando, como estão as coisas e nada mais que isso», assevera.

A aposta é mesmo na música. Já lançou um CD, inclusive. «Enquanto for dando, quero seguir, pensando sempre que faço por lazer. Depois pensarei noutras coisas. Gostava de ser empresário. Para passar para outras as experiências boas e más que tive. Mas gostava de ser agente de um clube só. Algo que não me obrigasse a estar muito tempo fora», resume.

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