Não há como fugir ao óbvio. E se é óbvio que o futuro campeão aguarda apenas pelo carimbo matemático, parece igualmente lógico começar por essa suprema ironia que se anunciava ainda antes deste jogo: o FC Porto esticou para 13 pontos a vantagem sobre o Benfica e, feitas as contas, isso significa que a festa do título pode ser no clássico da Luz. Dizem que a História nunca se repete, mas, mesmo que mudem os cenários e alguns dos protagonistas, que há capítulos muito parecidos, lá isso há.
Esse futuro fica para depois. Agora, é tempo de explicar a 11ª vitória consecutiva do FC Porto no campeonato. Uma explicação simples, que começa em Guarín por dois motivos: não só porque marcou o primeiro golo, claro, mas também porque ele é a peça táctica simbólica que melhor traduz um jogo de sentido único, em direcção à baliza de Gottardi. Villas-Boas confiou ao colombiano o papel de trinco, deixando Fernando no banco, mas percebeu rapidamente que era perda de tempo. E sobretudo de espaço. Guarín passou de trinco a número 10 num piscar de olhos, porque defender uma zona vazia, terra de ninguém para um Leiria construído para funcionar em metade do campo, tornava-se desnecessário. Pedro Caixinha investira tudo numa tese de doutoramento sobre a arte de asfixiar um adversário que gosta de esticar o jogo pelas alas: desenhou uma linha defensiva de cinco unidades, três delas na zona central, auxiliadas por um bloco do meio que mais não era do que uma segunda fiada de tijolos a reforçar a muralha. O FC Porto foi apostando na habilidade para a contornar até Guarín perceber, já na segunda parte, que a coisa só lá ia à bomba.
Antes disso, no melhor sinal de que a primeira parte fora chata, houve espaço para um detalhe anedótico. Cosme Machado, provavelmente aborrecido com a monotonia de se jogar em apenas meio-campo, acabou com tudo uns bons segundos antes de o relógio dar como esgotados os primeiros 45 minutos.
Depois do descanso, não foi só o penteado de Álvaro Pereira a mudar. Para além disso, os portistas também carregaram um pouco mais no acelerador, procurando furar os pneus ao autocarro que o Leiria estacionara à frente de Gottardi, e que dali não arrancava, o que não deixa de ser estranho considerando que os leirienses navegam numa zona tranquila da tabela. A bomba de Guarín terminou com a resistência, isto já depois de Villas-Boas ter apostado em James para servir a aproximação entre Falcao e Hulk, num 4x4x2 dinâmico. De resto, foi Hulk quem colocou um ponto final no jogo, em forma de penálti que acabou com um jejum de oito jogos sem golos. O jejum do Leiria é que continua: cinco jogos em casa em 2011, cinco derrotas, zero golos marcados. Ontem, pelo menos, percebeu-se porquê.
in "ojogo.pt"
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