O FC Porto conquistou no Estádio da Luz o seu 25.º título de campeão nacional. É um momento sensível para a história do clube do Dragão mas é também um momento histórico do futebol nacional: o FC Porto, com este título conquistado no reduto do seu maior rival, alcança o Benfica (por ora) em número total de troféus conquistados no âmbito das provas oficiais.
A maior virtude do novo campeão nacional tem sido a sua regularidade: um campeonato invicto de uma equipa que nunca se deslumbrou nem perdeu o equilíbrio, mesmo quando ameaçou claudicar ou mesmo colapsar. Aliás, o mérito do FC Porto foi nunca ter deixado instalar-se a ideia de que, nos momentos em que o seu futebol se apresentava menos convincente, poderia haver desmoronamento.
Há mais de dois meses que afirmava o seguinte: o FC Porto, ultrapassada a fase de algumas tormentas, tinha tudo para fazer um fim de época em crescendo. Aí está ele.
O edifício do FC Porto (enquanto equipa) foi construído com bom-senso. O bom-senso de não hipotecar a herança deixada por Jesualdo Ferreira e acrescentar-lhe valor em função das ideias de um jovem e muito promissor técnico de futebol -- André Villas-Boas.
Mesmo os riscos para os quais o FC Porto concorreu (ficar praticamente sem lateral esquerdo num momento sensível da temporada e não impor uma ideia total de solidez na zona central da defesa) foram superados.
O FC Porto, em função de uma ‘escola competitiva’ que tem o cimento de muitos anos de repetição de lógicas, comportamentos, metodologias e automatismos, de acordo com uma liderança afirmativa e unívoca, assimilou facilmente João Moutinho, potenciou o rendimento de Belluschi (primeira fase da época) e Guarín (a seguir) e, nunca prescindindo do seu ‘BI’, criou condições para Hulk, Falcao e Varela colocarem em prática um vasto repertório futebolístico, para além de ter contado com um guarda-redes suficientemente sólido (Helton) para não por em causa o trabalho da equipa.
Mesmo sem Falcao -- e com Walter relegado --, Villas-Boas conseguiu ultrapassar a provação de um Hulk menos operativo sempre que era desviado para a posição do colombiano.
Depois foi tudo uma questão de conceito: nunca colocar em causa o colectivo. Nesse particular, AVB tem toda a razão: é uma questão da cultura desportiva do FC Porto, que não abala com a mudança de treinador, mesmo que esse treinador (como foi o caso de Co Adriaanse) traga ideias novas, um pouco em ruptura com o ‘sistema táctico institucionalizado’. AVB foi corrigindo, aqui e ali, posicionamentos e dinâmicas, preservando o essencial da estrutura técnico-táctica.
Sectores bem ligados, um meio-campo muito forte (em todos os capítulos) e boas noções do ponto de vista da posse e da recuperação da bola. Palavra-passe: ordem. Ordem para tudo fazer dentro do campo sem cultivar o risco.
A ordem é fundamental nas organizações. A ‘ordem AVB’ é uma imagem de marca deste ‘FC Porto campeão’, que soube atrair o Benfica para a sua principal armadilha: fazê-lo jogar no terreno que mais gosta, o terreno do conflito, da tensão, e, às vezes, da provocação. O Benfica dançou ao ritmo da música imposta pelo FC Porto. A festa às escuras foi apenas um pormenor
Rui Sanros in "relvado.pt"
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