O Benfica "foi a gasolina" da chama portista. Villas-Boas copia Mourinho mas também tem as suas diferenças
André Villas-Boas, 33 anos, campeão nacional ao fim de uma carreira de dois anos como treinador principal. Um novo Mourinho ou, como ele próprio diz, um homem "banalíssimo"? O futuro o dirá, mas o passado recente também já sugere alguma coisa. O 25º campeonato da história portista (24º desde o início da Primeira Divisão) é muito seu, ou apenas mais um na interminável obra de Pinto da Costa (veja na infografia em baixo os 14 títulos da sua presidência). Para se perceber qual é o impacto de Villas-Boas nas suas equipas, tentamos entrar no seu balneário. "A primeira impressão que ele causou? Lembro-me que no imediato ficámos impressionados com a facilidade em captar a nossa atenção e em reforçar o nosso espírito de grupo", explica-nos Daniel Amoreirinha, um defesa que conheceu o técnico na Académica de Coimbra. A ideia é reforçada: "Há muitos treinadores que não dominam a linguagem de um balneário, mas o André destaca-se pela forma como passa uma mensagem clara. Ah, e depois é daqueles que aparece motivado para trabalhar todos os dias."
Vamos aos exemplos. Em 2002, quando estava no FC Porto (e tinha Villas-Boas na equipa técnica), José Mourinho afixou no balneário uma entrevista de Manuel Vilarinho, então presidente do Benfica, onde este dizia que iria derrotar os dragões por 3-0 num clássico que se avizinhava. O treinador utilizou a página do jornal como provocação aos seus jogadores, moralizou-os e ganhou 3-2. E Vilarinho meteu a viola no saco.
Na semana passada, os benfiquistas Fábio Coentrão e Jorge Jesus disseram que esperavam ganhar o jogo do título (para o FC Porto) por muitos golos. André Villas-Boas, talvez porque aproveitou a sua escola, também utilizou a provocação. "Vivemos alimentados com o que nos dão. [O que dizem] foi a nossa gasolina toda a época", disse no domingo, a propósito das tais palavras de Coentrão e Jesus.
Mas então será Villas-Boas um clone de Mourinho? Está na cara, pelo menos, que foi buscar ao homem que o formou alguns mecanismos de motivação da equipa. Veja mais este exemplo: na apresentação à equipa portista, no início da temporada, Villas-Boas surpreendeu os jogadores com um vídeo da festa do título que o Benfica tinha ganho há dois meses. O objectivo era simples, só queria explicar-lhes que para fazerem aquela festa teriam de trabalhar como equipa. A coisa pega, sempre atiçada pelo rival. O FC Porto é campeão, sonha acabar a Liga sem derrotas, tem um recorde de dez vitórias na Europa esta temporada e, apesar da eliminação da Taça da Liga ou da desvantagem na Taça de Portugal (0-2 para o Benfica quando falta jogar a segunda mão da meia-final), contornou sem grandes problemas o futebol "diabólico" inventado por Jorge Jesus.
a diferença de mourinho Talvez uma das grandes diferenças entre Mourinho e Villas-Boas esteja na forma como ambos se impõem sobre os jogadores. O primeiro comunica com todos, mas mantendo uma distância que o coloca sempre num nível superior; o segundo cultiva uma relação mais simples e de igual para igual. "O André é uma pessoa de trato muito fácil, não porque não se dá ao respeito mas porque o sentíamos como um de nós. Era um dos nossos", continua Amoreirinha. Mas é normal um jogador tratá-lo por "André" no balneário? "Não, não há qualquer falta de respeito, apesar da idade, é o Mister".
Na loja do mister André Villas- Boas, o jogador é cliente e tem sempre razão. Recentemente, quando perdeu parte do plantel devido aos compromissos das selecções, Villas-Boas fez questão de perceber quais eram os problemas logísticos ou familiares em causa e pediu ao clube que os resolvesse. Depois colhe os frutos dessa proximidade, com o reconhecimento e o empenho de cada um. "O apoio dele é constante", termina Amoreirinha. E assim o treinador consegue que a sua regra funcione: "Um jogador é que decide quando joga, pela qualidade que tem; o treinador só tem de o colocar nas melhores condições".
in "ionline.pt"
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