domingo, 5 de junho de 2011

Castro: "Quero impor-me no FC Porto"

O Gijón foi paciente. Observou-o detalhadamente durante quase dois anos, convencendo-se de que estava ali o médio com a garra de que o clube necessitava para dar volta à apatia que ameaçava a despromoção. De tanto insistir, o FC Porto acedeu. Castro rumou a Espanha, e o final é conhecido: o Gijón salvou-se. Pelo meio, empatou o Barcelona (que coisa tão rara e tão útil de saber como se faz...) e ainda derrotou José Mourinho onde ele não perdia há quase uma década: em casa. O Gijón bem que tenta garantir Castro no plantel, mas não é certo que os portistas admitam essa hipótese. Aos 23 anos, o médio sabe que não deu um passo atrás em Janeiro. Ou se deu, compensou agora com dois à frente. Ele quer muito afirmar-se no clube que sempre foi o seu. Mas também quer jogar.


O director-desportivo do Gijón disse há dias que, se dependesse dele, assinaria já consigo um contrato de cinco anos. É o melhor elogio que lhe podia fazer?


Fico contente por ler declarações como essa, embora ele e o treinador já me tivessem dito o mesmo pessoalmente. Gostei muito da experiência, e foram todos extraordinários comigo desde o início. Fui bem recebido, e essas palavras acabam por ser um voto de confiança. Foram seis meses de trabalho bem feito, com uma adaptação rápida. Cheguei quando a equipa estava numa situação delicada e com jogos importantes pela frente. A resposta não podia ter sido melhor.

E a sua decisão de ir para Espanha também não...


Sim, foi a melhor decisão porque estava tapado no FC Porto por grandes jogadores; não havia espaço para mim. Sou novo, ambicioso, e o que gosto é de jogar futebol. Percebi que seria complicado fazê-lo no FC Porto. Por isso aceitei o desafio, e as coisas correram-me bem. Felizmente, tudo também correu bem para o FC Porto.

Nunca sentiu que estava a dar um passo atrás?


Não. Podia-me ter deixado ficar no FC Porto, perto de casa e junto da minha família. Nesse sentido, acho que foi preciso ter alguma coragem. Mas estava tranquilo. Acreditava no meu valor e sabia que tinha tudo para correr bem; foi um investimento em mim, abrindo também outras portas, com uma experiência num campeonato diferente. Acho que consegui abrir essas portas porque há muita gente a ver os jogos em Espanha e há também muita atenção da parte dos jornais, por exemplo, aos jogadores.

E agora, já lhe garantiram que volta ao FC Porto?


Ainda não me disseram nada sobre isso. Estou tranquilo, à espera, consciente de que fiz um bom trabalho no Gijón. Mostrei o que valho e aguardo a decisão do FC Porto. Se entenderem que posso ser útil, que faço falta à equipa, voltarei ao plantel com muita satisfação. Afirmar-me no FC Porto é o que quero desde pequeno, mas se não for agora, há-de ser noutra altura.

Mas acha que pode ser mesmo agora?


Quero impor-me no FC Porto, como disse. É o meu objectivo de sempre. Se virem que será difícil jogar com regularidade e que não terei muitas oportunidades, embora isso não seja muito fácil de antecipar, então, sinceramente, preferia ser outra vez emprestado.

Nesse caso, voltaria ao Gijón?


Se for emprestado, e porque fui muito feliz lá, pelo carinho que sempre me deram e também porque senti que gostavam mesmo que continuasse, o Gijón seria sempre uma opção viável.

Depois desta experiência bem-sucedida, acha que reforçou os argumentos para poder discutir a titularidade?


Vou dar o exemplo do Guarín, que serve de inspiração para mim. Além de ser um excelente jogador, o exemplo dele é motivador: teve poucas oportunidades no início da época e depois conseguiu aquele final de temporada excelente. É a prova de que por vezes basta ter uma oportunidade; depois é só agarrá-la.

Concorda com a ideia de que só brilhando fora do País é que se consegue algum respeito cá?


É verdade, sobretudo em Portugal. Não são dadas muitas oportunidades a jogadores portugueses, apostando-se excessivamente em estrangeiros. Nada tenho contra eles, que fique bem claro, mas gostaria que os clubes portugueses apostassem mais nos jovens. Saindo do País, e quando as coisas correm bem, como me correram a mim, sente-se que nos dão outro valor. O que os dirigentes e o treinador do Gijón disseram sobre mim é a maior prova de confiança que um jogador pode ter.

E do FC Porto, teve?


Sim, o FC Porto também me deu uma prova de confiança ao renovar-me o contrato antes do empréstimo. Não fui dispensado, fui emprestado; é diferente. O FC Porto deu-me um sinal de que conta comigo, e sempre tive essa certeza, não só pelo que o treinador me foi dizendo, mas também da parte dos dirigentes. Isso é muito importante.

Fala-se muito na saída do Fernando. Vê-se como um possível substituto, jogando como trinco?


Desde as camadas jovens, e também nas selecções, sempre fui médio defensivo. Fiz jogos nessa posição pelo Gijón, mas não gostaria de responder como substituto, ou possível substituto, de quem quer que seja. Estou habituado a essa posição, assim como a outros papéis no meio-campo. Se entenderem que posso ser útil, será bom para mim.

"Parar Messi? Nem à pancada"

O Gijón empatou com o Barcelona. Como é que se encrava aquela máquina?


Sim, empatámos esse jogo e estivemos a ganhar quase até ao fim. Não sei, sinceramente. Bem, nós estivemos fechadinhos, todos atrás e a apostar no contra-ataque. Era essa a nossa realidade, e esse não foi o melhor jogo do Barcelona, é verdade. Mas acredito mesmo que o FC Porto pode vencer irritando o Barcelona, não só porque também gosta de ter posse de bola, mas também porque tem jogadores rápidos e um meio-campo pressionante.

O FC Porto gosta de ter a bola, o Barcelona raramente a perde. Como é que acha que se vai resolver isso?


O ideal seria haver uma bola para cada equipa nesse jogo [risos]. As duas equipas sabem tratá-la bem.

E Messi? Há forma legal de o travar?


Acho que nem à pancada [risos]. Ele é tão rápido. Mesmo que tentemos fazer falta, ele já não está lá, parece que o pensamento dele está sempre à frente do nosso. No jogo que fizemos contra eles, o Gijón apostou em dois médios-defensivos, e eu era um deles. Messi passou muitas vezes na minha área, e é mesmo muito difícil encontrar uma maneira de o parar.

"Gostaria de ter levado aquele banho na Luz..."

Custou-lhe ver as festas do FC Porto à distância?

Sinceramente custou. Mexia comigo ver aquilo e pensar: "Também queria estar ali." Custou-me muito, apesar da felicidade. Fartei-me de mandar mensagens e ligava para toda a gente a dar os parabéns. Vibrei como se estivesse no estádio.

Vibrou mais com Dublin ou com a festa do título na Luz?


Foram diferentes. Dublin foi muito bom por ter significado a conquista da Liga Europa; ganhar ao Benfica em tantas ocasiões foi lindo. Conquistar lá o título, melhor ainda. Queria tanto ter levado aquele banho na Luz às escuras [risos]. Esta época, foi sempre a abalroar tudo e todos.

Não consegue mesmo esconder o lado de adepto portista...


Sim, vibro muito com o FC Porto. Sou sócio desde os três anos. Estive no pavilhão a ver a vitória no basquetebol, sou portista, e acompanho também as modalidades. Ganhar ao Benfica, como aconteceu também no basquetebol, acabou por ser um hábito este ano. E foi especial.

Já tem a medalha da Liga Europa?


Ainda não a recebi. Estou à espera, mas sei que tenho direito porque também joguei [risos].

Como é que os seus companheiros foram apreciando a caminhada do FC Porto na Liga Europa?


O que eu tive de ouvir naquele balneário! Cheguei mesmo a pensar que só resolvia aquilo à chapada [risos]. Estavam sempre a dizer-me que, contra o Villarreal, o FC Porto não teria a mínima hipótese. Eu dizia-lhes: "Vocês vão ver, estão enganados." Escusado será dizer que depois dos cinco que o FC Porto deu ao Villarreal no Dragão, fiz uma festa tremenda no balneário do Gijón...

Manter este grupo intacto seria decisivo para atacar a Champions?


Esta equipa deveria ter oportunidade de continuar junta. Se assim for, com a qualidade e a experiência acumuladas, o FC Porto pode fazer uma Liga dos Campeões muito boa. Acredito nisso.

Um golo ao primeiro toque

Chegar, ver e vencer pode até ser uma ideia batida. Mas também bate certo com o que Castro experimentou no Gijón. O primeiro golo, se não foi conseguido ao primeiro toque que deu em Espanha, andou lá perto. Ele explica melhor. "No primeiro jogo, entrei nos descontos e acho que nem toquei na bola. No segundo, já entrei mais cedo, marquei um golo quase da primeira vez que consegui tocar na bola e ainda podia ter marcado outro. Também fiz uma assistência. Foi perfeito", resume. "Parecia escrito", diz ainda. "Aos poucos acabei por ganhar espaço e consegui ser titular." Entretanto ajudou o Gijón a fugir a uma descida que em Janeiro parecia preanunciada...

"Villas-Boas enviou-me mensagens de incentivo"

André Villas-Boas tem sido esmagado por elogios, sobretudo dos jogadores que com ele garantiram quatro títulos esta época. Castro, apesar de só ter jogado 15 minutos no campeonato, 23 na Liga Europa e 68 na Taça de Portugal nos seis meses que passou com ele, de Julho a Janeiro, também não economiza nos adjectivos. "Ele deu provas suficientes de qualidade. Mesmo os jogadores que não são muito utilizados, como foi o meu caso, admiram-no e gostam de trabalhar com ele." A pergunta é óbvia: porquê? "Pela maneira como ele nos motiva, que é fantástica, além de ser tacticamente bom." O médio destaca ainda a importância do eco que foi recebendo da equipa técnica enquanto trabalhava nas Astúrias. "Sei que esteve atento ao que fiz, até porque me foi enviando mensagens de incentivo", conta.

Rica colecção de camisolas

Seis meses em Espanha renderam uma colecção simpática de camisolas a Castro. "Fui trocando sobretudo com os portugueses que ia encontrando nos jogos", conta a O JOGO. Dessa lista fazem parte Ricardo Carvalho (Real Madrid), Ricardo Costa (Valência) e Rui Fonte (Espanhol), mas também há as de Borja Valero (Villarreal) ou David Villa (Barcelona).

Elogios também de José Mourinho

Seis meses em Espanha é pouco tempo, mas suficiente para André Castro ter participado num momento histórico: a derrota de Mourinho em casa depois de mais de nove anos sem perder como visitado. "Ele foi excelente no final desse jogo. Esteve no nosso balneário e cumprimentou os jogadores um a um. A mim, por ser português, ainda acrescentou umas palavras de incentivo dizendo-me que a minha época estava a ser boa e que continuasse a trabalhar da mesma maneira. Para mim, que o via como um ídolo por tudo aquilo que ele ganhou, foi um orgulho ouvir isso."

Números da época

6 no FC Porto

A utilização na primeira metade da temporada justifica a cedência no mercado de Inverno. Tapado por vários internacionais no FC Porto, Castro deixou o Dragão com apenas seis jogos nas pernas e pouco mais de 110 minutos. No campeonato, por exemplo, esteve em campo só 15 minutos, contra o Portimonense. Curiosamente, na Liga Europa apareceu em duas partidas: Genk e Rapid de Viena


16 no Gijón

Emprestado ao Sporting de Gijón em Janeiro, Castro não se intimidou com a melhor liga do mundo e rapidamente assumiu um papel importante no meio-campo dos asturianos. Aliás, por isso mesmo os responsáveis do Gijón pretendem a sua continuidade no clube. As estatísticas dizem que Castro fez 16 jogos na liga espanhola, 11 dos quais como titular. E marcou dois golos

in "ojogo.pt"

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