Na entrevista a O JOGO, Rolando falou sobre o passado, mas também do futuro. Reconhece que errou na forma como reagiu à substituição com a Académica, deu os parabéns ao "feito único" de Vítor Pereira e mostrou-se de corpo e alma no clube, apesar das constantes notícias que o colocam na órbita de vários clubes europeus.
Agora que a época se aproxima do final, e mais a frio, arrepende-se da atitude que teve quando foi substituído no jogo com a Académica?
Nunca me arrependo do que faço. Posso é olhar para trás, pensar melhor, e achar que todas as pessoas têm o direito a errar. Foi uma atitude feia, mas apenas isso, no calor de um jogo que estávamos a perder e que precisávamos de ganhar para conquistar o título. Fui substituído por volta dos 60 minutos, e na semana anterior tinha acontecido o mesmo. Não estou habituado a ser substituído, gosto de ganhar, estou habituado a ganhar, e ao sair do jogo senti que não podia ajudar mais os meus companheiros. Foi um momento de raiva, de frustração, mas apenas porque estávamos a perder e eu não podia ajudar mais a equipa. No entanto, as pessoas criaram um caso que não existia. A minha atitude foi má, reconheço, mas depois criou-se um cenário que só me prejudicou. Por isso, da próxima vez, espero não voltar a cometer o mesmo erro; espero pensar melhor e não voltar a ter uma atitude irrefletida, como foi aquela.
Reconhece o erro, mas entende que se exagerou no castigo. É isso?
Normalmente sou uma pessoa calma, muito tranquila, e que pondera sempre aquilo que faz, mas, no calor daquele momento, tive uma atitude que não foi bonita. Apesar disso, muitas vezes, as pessoas que estão fora do futebol não entendem, ou interessa-lhes não entender, até porque este tipo de situações acontecem muitas vezes. Não gosto de ser substituído, não gosto de ser suplente, não gosto de ficar de fora, detesto perder... Foi muita coisa junta ao mesmo tempo, mas sei que não estive bem, apesar de não me arrepender, porque está feito e não posso voltar atrás. Mas não faltei ao respeito ao ninguém e, como se costuma dizer no futebol, naquele momento estava 'na azia'. Nada mais.
Pouco tempo depois desse incidente deixou de ser titular. Associou as duas situações?
Não quero levar a questão para esse lado, até porque, se o fizesse, estaria a ser injusto com os colegas que começaram a jogar no meu lugar. Eles também aceitaram as decisões do treinador sempre que ficaram de fora e, por isso, não mereciam que eu também não aceitasse quando chegou a minha vez de não ser opção. Simplesmente saí da equipa, nada mais. As duas situações podem estar associadas, como podem não estar. Não sei. Mesmo assim, continuei a trabalhar da mesma forma para estar pronto a ajudar a equipa quando fosse necessário. E foi isso que aconteceu.
O seu empresário afirmou recentemente que a relação de quarto anos com o FC Porto tinha provocado "desgaste" dos dois lados. Nesse sentido, sair no final da época é um dos seus objetivos?
Estou muito contente com o clube e não é por ter sido suplente nos últimos jogos que vou mudar a minha forma de pensar. Agora, quero é voltar a ser o número um, porque sei que tenho capacidade para isso, e quero continuar no FC Porto. Enquanto me quiserem aqui, desejo continuar de corpo e alma.
Então é seguro que não vai sair?
Eu não quero... Tenho contrato com o FC Porto e espero cumpri-lo até ao fim. Tenho consciência de que tudo pode mudar de um momento para o outro. Se os dirigentes do FC Porto acharem que é uma boa altura para fazerem um bom negócio, ou que já não estão satisfeitos comigo - e eu sei que isso está fora de questão, porque estão contentes comigo, como eu estou contente com o clube - então podemos conversar. Mas, por mim, continuarei no FC Porto para ganhar mais títulos.
Mas o que lhe falta conquistar neste clube?
Bem, nem sei... Falta-me ganhar a Taça da Liga, que o FC Porto nunca venceu, e a Liga dos Campeões.
Mas acredita que é possível vencer a Liga dos Campeões?
Possível é, mas não é fácil. Sabemos das limitações financeiras do clube, quando comparado com outros de nível europeu. Não é impossível, mas todos sabemos que é muitíssimo complicado vencer a Champions.
Na última reabertura de mercado, recebeu uma proposta do Anzhi. Admitiria ir para um campeonato como o russo?
No futebol não há muito espaço para sonhar, há as oportunidades. Se surgir uma boa oportunidade, irei ponderar. Fala-se muito que vou sair, que há clubes interessados... Apesar disso, já comuniquei ao meu empresário para não me dizer nada, a não ser que haja realmente algo de concreto, e que o FC Porto esteja de acordo com isso, o que, até ao momento, nunca aconteceu. No entanto, e voltando à pergunta, no futebol nunca se pode dizer nunca e, por isso, ficarei à espera para ver o que acontecerá. Uma coisa é certa: a meio desta época nunca pensei sair, porque queria muito ganhar este campeonato.
"Temos espírito de campeão"
Este foi o campeonato mais difícil de ganhar?
É injusto dizer-se isso, porque ficaria subentendido que os outros foram fáceis, o que não corresponde à verdade. Este foi o mais renhido, mas não o mais fácil. A diferença é que nos anos anteriores, em determinados momentos, os adversários facilitaram e nós aproveitámos. Esta época aguentaram-se melhor e acabámos por ser mais fortes nos confrontos diretos. Foi um ano complicado, mas não gosto de comparar com os outros, porque as circunstâncias são diferentes.
Depois da derrota em Barcelos, o FC Porto ficou a cinco pontos do Benfica e tinha de jogar na Luz. Nessa altura, ainda acreditava no título?
O facto de irmos jogar à Luz foi um dos aspetos a que nos agarrámos naquele momento, porque sabíamos que, com a nossa qualidade, tínhamos condições para ir lá vencer e, desse modo, ficar a apenas dois pontos, mesmo que o Benfica tivesse vencido todos os jogos até lá. É verdade que depois do jogo com o Gil Vicente sentimos que tínhamos dado um passo atrás, mas continuámos a acreditar. O campeonato estava competitivo e sabíamos que eles iam perder pontos. Só tínhamos uma solução: vencer todos os jogos até ir à Luz e decidir lá o campeonato. E foi isso que aconteceu. Aqui, desde que cheguei, lutámos sempre até ao fim, até ao último segundo das nossas forças. Se não conseguirmos vencer, por algum motivo, temos pelo menos de ter tentado. Neste clube dá-se sempre mais, porque um jogador à Porto acredita até ao fim. É este o espírito que é incutido no balneário; os mais velhos passam essa mensagem aos mais novos.
Concorda que o jogo da Luz foi o momento-chave da época?
Diria antes que foi um momento importante. Uma época tem 30 jogos e podíamos ter vencido lá e, mesmo assim, não ganhar o campeonato. Era um jogo importante, sem dúvida, e frente a um adversário direto. Se vencêssemos passaríamos a depender apenas de nós, mas, por exemplo, o jogo em Braga também foi muito importante nesta caminhada. Fizemos uma grande exibição e conseguimos vencer um adversário complicado.
O FC Porto empatou apenas dois jogos no confronto com os principais adversários...
É nestes grandes jogos que os melhores jogadores aparecem. Temos um coletivo muito forte, mas também temos jogadores que podem decidir um jogo a qualquer momento. Neste clube, há também um espírito de campeão. Temos jogadores experientes e que já ganharam muitos campeonatos. Penso que foi essa experiência, espírito e vontade que fizeram a diferença nos momentos cruciais.
Antes do clássico da Luz, o Benfica tinha perdido cinco pontos em Guimarães e Coimbra. Sentiram que o adversário estava a vacilar?
Não quero ser injusto com os profissionais daquele clube, até porque amanhã podem estar a jogar aqui comigo. Respeito toda a gente, mas não podemos negar que aqui, no FC Porto, quando chega a hora da verdade, correspondemos sempre à altura.
Continuidade de Vítor Pereira é "uma boa notícia"
Apesar de ter sido relegado para o banco de suplentes na fase final da temporada, Rolando só tem elogios para Vítor Pereira. O central reconhece que o início da época não foi fácil, mas atira aquele que foi, para si, o principal feito do treinador: o de saber aguentar a exigência e pressão de um clube como o FC Porto. Por tudo isto, Rolando entende que a continuidade de Vítor Pereira na próxima época é uma notícia natural. "Esta época, com a mudança de treinador, foi complicado no início, porque tivemos de assimilar novos métodos e ideias. Sendo assim, a continuidade de um treinador é sempre uma boa notícia, porque ele já conhece o grupo, e os jogadores já se identificam com ele. Ainda por cima foi campeão no primeiro ano em que treinou na primeira divisão... Não sei se mais alguém conseguiu tamanho feito. Para além disso, conseguiu ser campeão num clube muito exigente, em que a pressão para ganhar é tremenda. Está de parabéns pelo que conseguiu alcançar", concluiu.
"Maicon não surpreende, só precisava de confiança"
O afastamento de Rolando do onze inicial está também ligado ao crescimento que Maicon teve ao longo desta época. Apesar de ser um concorrente direto por um lugar no centro da defesa, o internacional português não teve problemas em elogiar o companheiro de equipa, até porque já estava à espera desta demonstração de qualidade. "Não fiquei surpreendido com o Maicon, de maneira nenhuma. Aliás, no início da época disse que tínhamos grandes jogadores para a posição de defesa-central. E se recuarmos ainda mais no tempo, quando o Bruno Alves foi vendido, também tinha dito que o FC Porto não iria sentir a sua falta, porque tínhamos no plantel jogadores de grande qualidade, como é o caso do Maicon. Ele só precisava de confiança e, depois de a ganhar, demonstrou ser um jogador com capacidade para estar no FC Porto. Duvidaram muito dele no início, mas ele provou toda a sua qualidade ao longo desta época", referiu
in "ojogo.pt"
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