quarta-feira, 9 de maio de 2012

Um FC Porto sem Pinto da Costa: histórias de quem o viveu


Hoje é fácil fundir a história de sucesso do FC Porto com a de um homem: Jorge Nuno Pinto da Costa. Há 30 anos no comando do clube, os títulos falam por si, em Portugal, na Europa e no mundo. Imaginar um dragão sem o mítico líder é quase um exercício doloroso, esquecido no tempo em que ganhar, no FC Porto, era um oásis, uma raridade que levava «um título a valer por dez.»
No ano em que Pinto da Costa completa a terceira década como presidente do mais representativo emblema da «Invicta» e do norte, o zerozero.pt foi à procura de alguém que conheceu, viveu e construiu o FC Porto numa era sem Pinto da Costa. Encontrámos Manuel Domingos da Silva da Costa e Almeida, ou apenas Costa Almeida. Jogou no FC Porto no início da década de 1970 e ao nosso portal começa por confirmar que a relação de poderes na altura pendia, claramente, para o sul.
«Toda a gente sabia que o Benfica era a equipa que tinha o poder. Essa era a altura em que se costumava dizer que quando o FC Porto atravessava a ponte já ia a perder», conta o antigo extremo, hoje com 59 anos, confirmando na primeira pessoa o mito que nascia no Porto por aquela altura. «Era muito difícil. O Benfica, além de ter grandes equipas e grandes jogadores, isso é inquestionável, também tinha tudo o resto a ajudar», acrescenta, para depois narrar um jogo no Estádio da Luz.
«Eu estive num jogo em Lisboa, frente ao Benfica, em que estávamos a ganhar 0x2 a nove minutos do fim e acabámos por perder 3x2, com os centrais, o guarda-redes do Benfica, todos a entrarem pela baliza dentro… valia tudo e perdemos o jogo. Havia sócios do FC Porto na rua a festejar e depois foram surpreendidos com a notícia da derrota», conta quem, ainda nos juvenis, esteve para vestir de… encarnado.
«Fui campeão de juvenis pelo FC Porto e os diretores do Benfica vieram a minha casa três vezes para ir jogar para os juniores do Benfica a ganhar muito mais dinheiro. Mas o meu pai como era portista, como eu sou, disse: ‘não, para o Benfica, nada.’ Hoje os jogadores não pensam nos clubes», refere, orgulhoso, da decisão tomada na altura.
De António Teixeira a Bella Gutman, um FC Porto pouco estável
Nas três épocas em que vestiu a camisola portista, Costa Almeida conheceu cinco treinadores: António Teixeira, Paulo Amaral, António Morais, Fernando Riera e Bella Gutman. Uma instabilidade impensável nos dias que correm no clube: «A estrutura do FC Porto não era tão forte como agora, mudava-se de treinador com facilidade. Não é como hoje, com o Pinto da Costa, em que toda a gente pode fazer barulho e o treinador não cai.»
E se Riera, no FC Porto, foi quem mais o marcou, a história mais engraçada passou-se com o húngaro Bella Gutman: «Eu era jovem, tinha 18 anos, e o Bella Gutman dizia-me a mim e a outros: «Menino, não bebe ‘frio’, é pericoloso’… E, um célebre dia, eu estava no Café Velasquez com o falecido Pavão e o Gualter e entra o Bella Gutman. Ele passou e nós tínhamos três finos em cima da mesa, mas não disse nada. No treino da tarde ele vem ter connosco e diz: ‘Não bebe frio, pericoloso’. E vira-se o Gualter para ele: Mister, ‘frio’ não, era geladinho’! Eu só me queria rir mas estava cheio de medo, afinal era um miúdo que tinha chegado dos juniores e na altura eu tratava os mais velhos por Senhor», conta com um sorriso no rosto uma recordação de outros tempos.
Um FC Porto sem cedências a clubes da 1ª Divisão
Costa Almeida tinha um hábito em fotos de conjunto: ficava sempre em baixo, na ponta.
Hoje, o FC Porto está representado em vários clubes da Liga principal. São frequentes as cedências de jogadores a emblemas da 1ª Divisão, situação que não acontecia na altura: «No FC Porto, nessa altura, se quiséssemos sair para outro clube só para a 2ª Divisão porque para clubes da 1ª não havia hipóteses. Aliás, eu cheguei a ter propostas do Vitória de Guimarães, do Leixões e do Beira-Mar e o FC Porto não me deixou ir, só para o Varzim, que estava na 2ª. Então fiquei mais um ano, com o Fernando Riera, e ainda joguei algumas vezes.»
Vítor Pereira não convence Costa Almeida
A terminar, um olhar para o presente, com Costa Almeida, o treinador – tem o nível 4 de técnico - a não confiar nas capacidades de Vítor Pereira: «A minha opinião é que ele não é treinador para o FC Porto. A equipa não joga o futebol que pode jogar porque ele não sabe. Agora, ser campeão no FC Porto é muito fácil, com um plantel daqueles e uma estrutura como o clube tem, com um presidente daqueles, é meio caminho para se ganhar», diz, rematando com aquilo que, afinal, distingue o FC Porto de hoje.
«Quem é que eu gostaria de ver a treinar o FC Porto? Não tenho opinião sobre isso, o presidente saberá certamente o que é melhor para o clube. O que ele decidir está bem decidido!»
in "zerozero.pt"



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