DE DRAGÃO AO PEITO
A Seleção efetuou uma das suas melhores exibições de sempre e cilindrou a campeã mundial por inequívocos 4-0. Bem sei que o jogo não era “a doer” – mas estou em crer que, aos espanhóis, doeu e muito. Ainda assim, tem de reconhecer-se uma mudança radical e para melhor desde que Bento tomou o comando.
Nada disto obsta a que preste a minha homenagem a Carlos Queiroz. O ex-selecionador foi vítima de uma ampla trama que transbordou canalhice por todos os poros, percebe-se agora melhor do que nunca. Para o despedirem, inventaram-se as historietas mais estapafúrdias e alegaram-se razões de uma sensatez digna de um jardim infantil. Mas este triste enredo começou muito antes.
Recuso-me a conceder a Paulo Bento (todos) os méritos na revolução do modo de jogar da Seleção – assisti a muitos jogos do seu Sporting e não reconheço o seu toque naquela equipa-maravilha que reduziu a Espanha a cacos. Foram os jogadores que puseram o seu melhor em campo – Bento limitou-se a não atrapalhar com triângulos invertidos ou outras esquisitices.
Infelizmente, sou levado a concluir, foram também os jogadores (alguns) que mostraram quem manda ali e fizeram o que puderam para que Queiroz falhasse. Depois de criado o clima propício, a direção da FPF e o secretário de Estado, cujo nome o pudor me impede de pronunciar, perpetraram aquela infâmia a Queiroz. O país que temos, desvalido e sem brio, aplaudiu. Bento não deve inchar com o inusitado êxito que agora conhece – amanhã pode ter de provar o remédio que já foi servido a Queiroz. E oferecido pelas mesmas figurinhas…
O FC Porto é a prova acabada de que uma equipa portuguesa só consegue manter-se no topo se existir confiança e lealdade entre os seus elementos: dirigentes, treinadores e jogadores. A Seleção costuma primar por ser o contrário. Já que Bento não conseguiu chegar ao FC Porto, pelo menos que reproduza um pouco da sua lógica na Seleção. Portugal ficará bem se souber imitar o melhor exemplo desportivo de que desfruta.
in "record.pt"
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