Entrar no domínio das antevisões não se afigura uma tarefa fácil. É um mergulho na dificuldade de antever e antecipar acontecimentos num jogo de futebol, que à partida, e por si só, se vislumbra de resultado imprevisível, e que ao mesmo tempo, encerra um elevado grau de complexidade.
Todos os jogos da natureza de um clássico trazem consigo uma carga histórica a ter em consideração (último resultado foi favorável ao Sporting por 3-0). Além disso, a carga emocional resultante de alguns acontecimentos recentes, vão seguramente apimentar este embate entre “leões” e “dragões” (a mudança de Moutinho para o FC Porto no último defeso, num processo que levou o ex “capitão”, e a maior referência do universo leonino na altura, a ser apelidado de “maçã podre”). De notar ainda, as dúvidas e eventuais regressos: a possibilidade de o FC Porto ter de remodelar a sua ala esquerda, devido às lesões de Álvaro Pereira e Varela, e se vislumbrarem os regressos de Fernando e Maniche às suas equipas.
“Fait divers” e outros acontecimentos à parte, creio que vai ser um jogo bastante emotivo e interessante de seguir. Do meu ponto de vista muito pessoal, creio que mais que um embate em que se defrontam estilos e filosofias diferentes, vai ser um duelo de equipas com dinâmicas distintas.
O FC Porto tem vindo a mostrar que não mudará a sua abordagem ao jogo. Apesar de se ver forçado a mudar alguns jogadores, manterá a postura, estrutura táctica e a mesma filosofia. Espero o mesmo 4-3-3 ofensivo, com um pivot no meio campo, fazendo uma pressão intensa, em especial nalgumas zonas, com o intuito de ganhar a bola para mandar no jogo através da posse. Se ou quando os leões o forçarem a jogar no momento defensivo, para não desgastar muito o Hulk em tarefas defensivas, e para aproveitar as transições ofensivas, este assegurará uma referência de transição para o ataque num espaço entrelinhas e mais subido em relação ao bloco da sua equipa. No outro corredor, e até porque o Sporting terá naturalmente uma maior capacidade de projecção no eixo profundo pela sua direita, o extremo baixará um pouco para ajudar o seu lateral nas tarefas defensivas, incorporando uma 2ª linha no bloco da equipa, posicionando-se sempre de frente para o lateral do adversário (Abel ou João Pereira).
Será que o Sporting vai manter o 4-4-2, ou vai mudar e assim dar indicações de adaptação face ao que o FC Porto tem produzido? Não posso assegurar com toda a certeza se vai jogar com um ou dois pontas de lança. Baseando-me um pouco no que tem sido o leque de decisões utilizado até ao momento, pode até vir a apresentar-se num 4-2-3-1. No entanto, mais do que o sistema a utilizar, a organização colectiva e a dinâmica irão ao encontro dos comportamentos tácticos evidenciados até ao momento. Devido ao facto de jogar em casa e de contar o apoio do seu público, tentará fazer uma pressão um pouco mais subida e mais agressiva. Julgo que o grande desafio dos leões, nesta partida, vai ser a eficácia desta pressão, não afastando demasiado as suas linhas, pois devido à elevada capacidade de posse e circulação de bola dos portistas, podem ficar mais expostos se a equipa não estiver bem posicionada e com coberturas próximas, em especial no corredor onde actua Hulk.
Paulo Sérgio irá ter especiais cuidados? Talvez. Essencialmente, terá de ocupar bem as zonas ou espaços referência de transição ofensiva do Porto. A equipa deverá dominar a carga emocional do jogo, pois sofrer um golo primeiro, pode levá-los a cometer erros e a ter de suportar a pressão do seu público e a entrar em crise de raciocínio táctico. Manter-se em campo com igualdade numérica também será um desafio, especialmente para os jogadores que normalmente são mais intensos e agressivos. Devido ao excelente posicionamento da cortina defensiva do meio campo portista, onde é evidente uma articulação de equilíbrios e de coberturas interiores muito completa, o Sporting terá todo o interesse em aproveitar o jogo exterior, pois naturalmente, nesta partida, terá mais dificuldade em dar profundidade ao seu jogo.
O equilíbrio global e a inteligência táctica para superar eventuais obstáculos criados pelo adversário vão ser determinantes no desfecho deste emocionante jogo entre equipas com estados de espírito diferentes! Acredito que mais do que a capacidade que uma equipa terá para aproveitar o que o jogo lhe trouxer, será determinante aquilo que a mesma será capaz de provocar não só na partida, mas acima de tudo no adversário. É nesta dimensão da confrontação que se joga a excelência das equipas, ou não...
João Carlos Pereira in "publico.pt"
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