quinta-feira, 19 de abril de 2012

Unidos pelo presidente

As informações de que José Mourinho e André Villas-Boas, outrora parceiros de vitórias, têm andado desavindos caem por terra, quando o assunto é Pinto da Costa. O presidente dos portistas une dois dos treinadores mais vitoriosos da história do clube, que lhe dedicaram extensos elogios e agradecimentos na edição especial da revista "Dragões". Os 30 anos de liderança agora festejados geram unanimidade entre o Special One e Villas-Boas.
Mourinho conta a forma como Pinto da Costa o conseguiu manter no FC Porto depois da conquista da Taça UEFA, mas fez também questão de deixar uma palavra especial a todos os adeptos portistas, aos quais "há muito tempo não tinha a oportunidade de enviar um abraço de amizade, sentido". Villas-Boas passou também pelos elogios aos inúmeros feitos de Pinto da Costa antes de escrever uma frase para cada um dos momentos que considerou serem os mais marcantes na época passada.
Há também referência ao "silêncio" e à "troca de olhares triste" que se seguiu à derrota no Dragão frente ao Benfica, no jogo da primeira mão da meia-final da Taça de Portugal, mas também à frase que Pinto da Costa lhe disse depois da reviravolta da eliminatória conseguida em pleno Estádio da Luz: "Que gozo que me deu", atirou, no final do jogo, Pinto da Costa a André Villas-Boas.
"Eu sou é adepto", sublinha, por sua vez, o presidente do FC Porto neste número especial, por entre inúmeras histórias destes últimos 30 anos contadas na primeira pessoa.

José Mourinho

"Pinto da Costa é o FC Porto"


Quando recebi o convite para escrever umas palavras e com elas participar nesta merecida homenagem ao Senhor Pinto da Costa, senti-me lisonjeado e, passada a surpresa e após refletir, senti-me também orgulhoso por ter tido participação direta em dois desses 30 anos de presidência que agora se celebram.
É, todavia, difícil para mim escrever algo sobre o Senhor Pinto da Costa, escrever algo que já não tenha sido dito ou escrito por algum dos que tiveram o privilégio de com ele trabalhar diretamente. Este Senhor, pelos seus inúmeros e incríveis talentos, poderia ter sido com sucesso aquilo que quisesse. Decidiu ser presidente de um clube de futebol, o clube do seu coração e, nesse papel, foi escrevendo uma história da qual não se conhece ainda o fim, mas que é uma história fantástica, a história do Grande Presidente da História do Futebol Português.
Enquanto treinador do FC Porto, um dos momentos marcantes que ali vivi foi a inauguração do novo estádio, um estádio que, como sempre pensei, deveria levar o seu nome, mas que acabou por se chamar Estádio do Dragão. Na altura discordei, discordei silenciosamente, como assim era exigido pelas minhas funções e também porque - como nunca escondi - não nasci portista e nunca carreguei comigo esta proteção.
Anos mais tarde e na sequência das reflexões que faço sobre a minha carreira e tudo aquilo que a rodeia, cheguei à conclusão de que, afinal, o nome do estádio era perfeito. Estádio do Dragão! E porquê? Porque Pinto da Costa é o Dragão! Pinto da Costa é a mística. Pinto da Costa é a alma. Pinto da Costa é o estratega. Pinto da Costa é o Futebol Clube do Porto. E que me desculpem aqueles que discordarem, mas quando Pinto da Costa disser que se acabou, o FC Porto não mais será o mesmo.
Na semana que se seguiu à final da Taça UEFA, estava eu de saída, estava Deco de saída. Chamou-me e sentou-se comigo. Perguntou-me se não sentia que poderia ganhar a Champions... Como sempre, acertou na "mouche". Tocou-me no orgulho. "Míster, prometo que só vendemos um jogador e que não será o Deco. Prometo que lhe daremos outro em sua substituição e que será o míster a escolher." "OK, Presidente! Vendemos o Postiga e vamos buscar o McCarthy."
O Homem sabia que eu não poderia virar as costas a um desafio e tocou-me na ferida. Fiquei mais um ano. O Homem tinha razão, podíamos ganhar a Champions. Agradeço-lhe por esse poder de persuasão, pela inteligência com que o usou, algo apenas possível nos eleitos. É que tal como há um grupo de eleitos entre os jogadores, entre treinadores, também há um grupo de eleitos entre dirigentes. E aqui, Pinto da Costa ocupa seguramente, a nível mundial, uma posição no topo.
Há muito tempo que não tinha a oportunidade de enviar um abraço de amizade, sentido, a todos os portistas e de lhes dizer que os anos passam, mas que jamais me esquecerei daquilo que vivemos e conquistámos juntos. Está dado e está dito.
Quanto ao Presidente - aquele abraço de Parabéns!


André Villas-Boas

"Conquista-nos o coração"


30 anos de Jorge Nuno Pinto da Costa e Futebol Clube do Porto. A criação duma associação de sucesso absoluto e o fundar duma escola singular.
Escola de princípios, escola de comportamentos, de ideais. Uma educação preponderante na juventude que olha para o futuro e que respeita os valores do passado.
Voz cativante, chama a atenção, indica-nos o caminho de forma confiante e autoritária. Portador dos nossos sonhos, das nossas ilusões, dos nossos desejos, não nos deixa ficar mal.
Defende os nossos interesses, guerreiro da cidade, exemplo da região, presidente do nosso Clube. Desperta paixões e conquista-nos o coração.
Legado único de mais de 250 títulos seniores nacionais e internacionais.
O nome FC Porto escrito a ouro na história do futebol, na história dos grandes clubes multidesportivos e multirraciais.
De factos reza a história, como bem se diz.
Deixo aqui, Presidente, alguns dos nossos momentos, mais meus do que seus, seguramente, vividos por mim na paixão clubística que nos une e que, como bem sabe, foi moldada em nós, portistas, por si de forma direta e indireta e que faz parte integrante do nosso carácter e da nossa personalidade e da forma como fomos educados.
- "Estás preparado?", naquela noite mágica do primeiro convite;
- "Apagou-se a Luz, ficaram as trevas", naquela noite mágica do título;
- "…" Silêncio… apenas… e uma troca de olhares triste de ambos após o 0-2 na primeira mão da meia-final da Taça, contra o Benfica, em casa;
- "Que gozo que me deu", após o 1-3 para a segunda mão da meia-final da Taça, na Luz;
-"André, dá cá um abraço"; fim do jogo em Dublin;
Em 54 títulos de futebol profissional, é injusto e egoísta da minha parte servir-me dos mais recentes, mas faço-o porque traduzem a forte liderança que nos permite continuar a viver tantos momentos de felicidade.
Neles está presente na sua plenitude a essência do homem, Jorge Nuno. O seu sentido de exigência, a sua assertividade, o seu sentido de humor, a sua ternura. Reconhecemos que quando o vemos, estamos à espera disto, como se tivéssemos o direito de exigir. Não temos. No entanto, ele oferece-nos isso e mais, muito mais...
… "A Memória dos grandes homens perdura para sempre"… lê-se na famosa lápide…

in "ojogo.pt"

Sem comentários: